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O hábito é relacionado à necessidade de racionalização, verbalizar sentimentos e raciocínio. Em alguns casos, entretanto, o comportamento precisa ser analisado
Hábito de falar sozinho (a) pode parecer engraçado, mas é benéfico – foto Freepik
Meditar sobre uma briga, fazer notas mentais e até treinar uma língua nova: pessoas que moram sozinhas são comumente pegas falando consigo mesmas.
Seria essa prática engraçada um sinal de que você aprecia a sua própria companhia ou algo para se preocupar?
A notícia boa é que especialistas entrevistadas concordam que o costume de falar consigo mesmo é, na maior parte das vezes, natural e até benéfico, como explica João Pedro Wanderley, psiquiatra do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“Embora possa parecer estranho, falar sozinho geralmente é uma estratégia natural, especialmente para quem vive ou passa muito tempo a sós”.
Segundo o psiquiatra, esta prática ajuda a estabelecer prioridades, organizar informações, reduzir excessos e manter o foco.
“Verbalizar sentimentos e ouvir a si também ajuda a acalmar e regular as emoções. Nesses casos, a pessoa percebe que está falando sozinha, como se estivesse em uma conversa interna”, complementa.
Além de funcionar como uma ferramenta de descompressão e até para passar o tempo, o costume de conversar sozinho também pode ser seguido por outros que se desenvolvem como uma “ajuda extra”.
A psicóloga clínica Larissa Fonseca diz que, quando há rotina de falar consigo mesmo, também existe a possibilidade de desenvolver alguns comportamentos colaterais, como verbalizar lembretes importantes: “tranquei a porta antes de sair de casa”, “fechei o gás”, etc.
“A memória auditiva entra em ação, fornecendo uma confirmação adicional que ajuda a reduzir a ansiedade relacionada à segurança da casa”, explica.
Larissa ainda salienta que o ato é bastante universal e não se reserva apenas a quem mora só. Pessoas com essa característica podem se beneficiar da organização do pensamento, no processamento de emoções e melhoras no raciocínio.
“Ao verbalizar o que pensamos, é possível ouvir a construção das ideias, ajudando na tomada de decisões”.
“Normalmente, quando estamos com outras pessoas, a conversa se dá internamente em nossas mentes, mas quando ficamos sozinhos, podemos expressar nossos pensamentos em voz alta e esse processo pode ser terapêutico”, comenta a psicóloga.
Quando devo me preocupar?
Apesar de ser completamente normal fazer notas verbais conscientemente, alguns sinais podem ser observados para ter certeza de que as conversas não passa de um hábito.
João Pedro explica que falar sozinho de forma isolada e esporádica geralmente não significa um problema, como quando murmuramos durante momentos de solidão ou em meio a uma atividade, como ver TV e ler um livro.
O ponto de atenção, entretanto, é quando há a ocorrência de diálogos em desacordo com a realidade, em tom tenso e até ameaçador, com muitos gestos.
“Esse comportamento de falar sozinho pode ser sintoma de doenças como esquizofrenia, onde a pessoa ouve vozes e responde a elas, mas também pode ocorrer em alguns transtornos de humor, psicoses ou no Transtorno Bipolar”, complementa.
Ainda que raras as situações em que uma conversa a sós pode significar sintomas de alucinação ou transtornos, é importante medir a frequência e intensidade do hábito.
Larissa cita outros exemplos, como o possível desenvolvimento de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), quando estas conversas se tornam incômodas, levam ao isolamento e pensamentos negativos ou à sensação de estar acompanhado durante estas conversas internas.
“Nesses casos, é essencial uma investigação mais aprofundada para compreender as razões por trás dessa percepção distorcida da realidade”, finaliza a psicóloga.
No geral, apesar da importância em reconhecer possíveis pontos de atenção, conversas conscientes e livres de sensações como perseguição, isolamento e ameaça são benéficas e proporcionam oportunidades para refletir, espantar a solidão, estimular a motivação e compreender nossos sentimentos de uma forma mais profunda.
*Informações Casa e Jardim