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Mudanças significativas na microbiota já puderam ser observadas após três semanas de ingestão diária de 250 ml de vinho.
O consumo moderado de vinho tinto ajuda a remodelar em poucas semanas a microbiota intestinal, cujo papel nas doenças cardiovasculares é cada vez mais reconhecido pela ciência.
A conclusão é de um ensaio clínico que avaliou a ingestão de vinho, feito com a uva merlot, realizado por pesquisadores da Áustria, Brasil, Estados Unidos e Itália.
O ensaio usou uma estratégia conhecida como “cruzada”, ou seja, cada um dos participantes (homens com idade média de 60 anos) passou por duas intervenções: Durante três semanas, consumiam diariamente 250 mililitros de vinho tinto (com 12,75% de concentração alcoólica) e, pelo mesmo período, abstinham-se de álcool.
Ambas as intervenções foram precedidas por uma etapa de “lavagem” de duas semanas, uma pausa no consumo de determinadas substâncias para que seus traços sejam totalmente eliminados do organismo.
Estratégia
Isto incluiu a abstenção de bebidas alcoólicas, alimentos fermentados (iogurte, kombucha, lecitina de soja, kefir e chucrute, por exemplo), prebióticos (incluindo insulina), probióticos, fibras e derivados do leite.
Outra estratégia para afastar eventuais fatores de confusão foi submeter todos os participantes a uma dieta controlada e sem outros componentes presentes no vinho – por exemplo, polifenóis também são encontrados nos chás, no morango e no suco de uva.
A cada intervenção, a microbiota intestinal foi analisada por uma tecnologia que permite a identificação genética das espécies de bactérias presentes. Também foram analisados os metabólitos presentes no plasma (metaboloma plasmático), como resultado da metabolização de compostos químicos e alimentos.
Segundo o portal Diário da Saúde, um dos metabólitos de interesse dos pesquisadores é o chamado TMAO (N-óxido de trimetilamina), que é secretado por microrganismos da flora a partir de alimentos ricos em proteínas e tem sido associado ao desenvolvimento de doença ateroesclerótica.
O que mudou
A microbiota intestinal dos participantes sofreu uma remodelação significativa após o período de consumo do vinho, com predominância dos gêneros Parasutterella, Ruminococcaceae, Bacteroides e Prevotella, todos microrganismos fundamentais no funcionamento normal do organismo, que os cientistas chamam de homeostase humana.
Também foram observadas mudanças significativas na metabolômica plasmática, consistentes com a melhoria da homeostase. É esse processo que garante o equilíbrio das moléculas oxidantes e antioxidantes, evitando o chamado “estresse oxidativo”, que induz doenças como a aterosclerose.
Com esses resultados, os pesquisadores concluíram que a modulação da microbiota intestinal pode contribuir para os tão difundidos benefícios cardiovasculares do consumo moderado de vinho tinto.
Fala do pesquisador
“Quando o assunto é aterosclerose, temos basicamente duas vias de tratamento: uma é usar estatinas, medicamentos que diminuem os eventos cardiovasculares, e a outra é modificar o estilo de vida, praticando exercícios, evitando o tabagismo, cuidando de fatores de risco, como hipertensão, e controlando a dieta – e isso inclui o consumo moderado de vinho,” disse o pesquisador Protásio da Luz, do Instituto do Coração (InCor).
Os pesquisadores salientam que o termo “consumo moderado” é essencial para colher os benefícios, uma vez que o consumo excessivo de álcool – maior do que 30 gramas por dia de álcool contido nas bebidas – está associado a aumentos na mortalidade por cânceres, acidentes e mortes violentas.