Vendas online, rifas e doações: artistas de rua se reinventam na crise

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 26 de maio de 2020 às 10:11
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:46
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Com exposições e apresentações canceladas, artistas buscam alternativas para sobreviver à crise

Há quatro anos, quando o artista plástico Sérgio Papa “Ted”, de Ribeirão Preto, decidiu deixar a carreira de economista para se dedicar a pintura de telas, não imaginava que ficaria sem a renda gerada pela arte. 

Devido à pandemia do novo coronavírus, as exposições e apresentações foram canceladas e os artistas buscam alternativas para sobreviver em meio à crise.

A última exposição em que Ted participou foi em agosto do ano passado, em Brodowski. Agora, todos os quadros produzidos ficaram expostos dentro do apartamento onde mora.

“Estou enfrentando a pior crise da minha trajetória como artista plástico. A pessoa que demanda a obra de arte necessita dessa ligação pessoal com a obra. É isso que dá todo o sentido para a aquisição de uma obra de arte”, diz.

Para tentar reduzir o prejuízo, o artista plástico divulga o trabalho pelas redes sociais e contribui com um projeto para arrecadar fundos e distribuir entre os outros artistas de rua que estão passando por dificuldade. 

Ele colocou à venda rifas de uma obra dele, avaliada em R$ 3 mil.

“A ideia é fazer uma ação solidária com uma obra minha para ajudar outros artistas que estão em dificuldade também. Por mais que as redes sociais ajudem, as pessoas querem ver, a arte plástica o interessante é ser vista pessoalmente. A pandemia está prejudicando muito os artistas”, conta.

A campanha nas redes sociais é uma ação promovida pelo o malabarista Marcelo Rodini “Mamute”. 

Ele trabalha nas ruas há 19 anos e conta que a renda dos artistas praticamente zerou durante a pandemia da Covid-19.

Sem poder se apresentar para o público e, consequentemente, sem as contribuições espontâneas, Mamute conta com doações em dinheiro ou alimentos, que são divididos também para outras famílias de artistas de ruas.

“Hoje as pessoas nem saem nas ruas. Renda mesmo, poucas pessoas estão conseguindo fazer e mesmo com cursos online. Mas nem todo artista é professor e nem todo professor tem o material elaborado e intimidade com a virtualidade para fazer renda agora.”

“Há cerca de 40 dias eu lancei a campanha e a gente recebe doação de cestas básica ou transferência bancária. No total, quase 200 pessoas já foram beneficiadas, mas a gente tem 350 cadastrados e a fila anda devagar”. 

“A gente precisava movimentar muito mais, porque isso é para comida, mas tem que pagar água, luz, aluguel. O pessoal está numa situação desesperadora”, diz.

Do grafite às vendas online​

A muralista Joyce de Souza viu as encomendas sumirem no início da pandemia do novo coronavírus. 

A alternativa que a artista encontrou para conseguir pagar as contas e continuar trabalhando foi adaptar desenhos de grafites de parede em estampas de camisetas para vender pela internet.

“Precisa ter um contato entre público e artista, então pela falta dessa proximidade a gente não consegue fechar encomendas, não consegue pegar trabalhos. Essa é uma forma da gente conseguir se manter e continuar nosso trabalho”. 

“Tenho certeza de que tudo isso vai passar e a gente vai voltar a estar nas ruas de novo”, conta.

Socorro aos artistas

No fim de abril, a Prefeitura de Ribeirão Preto lançamento de um edital para “socorrer” os profissionais cuja única fonte de renda é o setor cultural, totalmente paralisado por conta da pandemia. 

As inscrições foram encerradas em 12 de maio. O valor total da contratação pela Secretaria Municipal de Cultura é de R$ 40 mil e cada artista contemplado poderá receber R$ 500.

A medida, entretanto, não se trata de auxílio financeiro. Serão contemplados até 80 projetos, não cumulativos, e os beneficiados terão de apresentar uma contrapartida – um vídeo ou arquivo que possa ser compartilhado por meio digital.


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