Veja 6 novos tratamentos para doenças graves como Câncer, AVC e hepatite

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 11 de dezembro de 2019 às 19:53
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:07
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Câncer e hepatite são palavras que tememos. Mas, graças aos avanços da medicina, há tratamentos disponíveis.

​No passado, alguns diagnósticos instilavam pavor em todo mundo. Mas, atualmente, isso nem sempre é verdade. 

Hoje, vacinas nos protegem de doenças que já foram fatais. Os antibióticos vencem infecções que matavam dezenas de milhares de pessoas. 

Cânceres que eram letais parecem doenças crônicas, com as quais é possível conviver durante muitos anos. 

Confira a seguir os avanços extraordinários da prevenção e novos tratamentos para doenças graves:

Hepatite C

  • Cerca de 135 mil brasileiros estão infectados.
  • A boa notícia: Agora existe cura.
  • Como aconteceu: Em 2013, uma nova classe de antivirais chegou ao mercado.

No início da década de 1990, a artista canadense Leigh-Anne Maxwell não entendia por que se sentia tão mal havia tantos anos. Fizeram exames de mononucleose, anemia e outras causas óbvias. Nada. 

Ela vivia exausta. Sentia náuseas. Tinha micoses. Ativa durante quase todos os seus 62 anos de vida, ela gostava de explorar os bosques da ilha de Mayne, na Colúmbia Britânica, onde mora.

Ninguém ligou os sintomas à cirurgia de emergência que fizera anos antes. Só quando tentou doar sangue, como costumava fazer, finalmente recebeu o diagnóstico. 

Em 1990, a Cruz Vermelha começou a examinar o sangue dos doadores para descobrir o vírus da hepatite C e a avisou de que não podia mais doar. Ela estava infectada.

Como o vírus é transmitido pelo sangue, ela soube na mesma hora que a transfusão que salvara sua vida na cirurgia de emergência a contaminara com hepatite C. Durante os 25 anos seguintes, ela continuaria a sofrer.

Como explica Shruti Mehta, epidemiologista da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins, em Baltimore, no estado americano de Maryland, embora alguns se curem da infecção sozinhos, cerca de 70% a 85% dos contaminados com hepatite C desenvolvem infecções crônicas.

Essas doenças “trazem o risco de complicações de longo prazo associadas a doenças hepáticas, como cirrose, câncer de fígado e insuficiência hepática terminal”.

Embora a maioria dos portadores do vírus passe muitos anos e até décadas sem sintomas depois da infecção, não foi o que aconteceu com Leigh-Anne.

A taxa de sucesso do único tratamento para hepatite C disponível quando ela recebeu o diagnóstico era de apenas 50%, e não era aplicável a Leigh-Anne.

Então, a partir de 2013, surgiram medicamentos mais novos “simplesmente revolucionários”, diz Mehta.

Mas eram caríssimos, e a maioria só funcionava contra determinadas cepas de vírus. Novamente o tratamento não era aplicável para Leigh-Anne. 

Então, em janeiro de 2017, ofereceram-lhe a oportunidade de experimentar o Zepatier, um novo medicamento. 

“Uma semana depois [do término do tratamento], já sentia uma profunda diferença”, diz Leigh-Anne. Agora ela tem energia para fazer tudo o que não conseguia antes.

Hoje, há tratamento para todas as cepas de hepatite C, e o custo está caindo. Mas, como a doença pode se esconder no corpo durante anos sem provocar sintomas, um dos maiores desafios que ainda restam é encontrar as pessoas que precisam de tratamento.

Doença cardiovascular

AVCs e infartos respondem por 350 mil mortes por ano no Brasil.

  • A boa notícia: É possível prevenir 80% das mortes precoces.
  • Como aconteceu: Mudanças de vida e tratamentos melhores reduziram o número de mortes prematuras por AVC e infarto.

Embora continuem a ser as principais causas de morte de homens e mulheres, até 80% das mortes prematuras em decorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e cardiopatias podem ser prevenidas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A Finlândia é um ótimo exemplo.

“Até 2015, a mortalidade por doença cardíaca coronária na população ativa dos 35 aos 74 anos caiu mais de 80% na Finlândia em relação aos números do início da década de 1970”, diz o Dr. Veikko Salomaa, professor emérito de Pesquisa do Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar da Finlândia

“Até meados da década de 1980, quase toda a redução da mortalidade era explicada pelo declínio de três grandes fatores de risco: colesterol alto, tabagismo e hipertensão.

Desde então, segundo o Dr. Salomaa, a Finlândia assistiu a um aumento ainda maior da sobrevivência graças aos avanços do tratamento da doença cardiovascular.

A abordagem terapêutica do AVC também deu grandes saltos. O tratamento rápido ainda é importante para a sobrevivência e para limitar as lesões no cérebro.

Mas, num novo método, chamado Solitaire, um aparelho projetado para prender e remover coágulos sanguíneos pode aumentar a janela terapêutica e torná-la mais segura em geral.

Com o Solitaire, é possível tratar o AVC com eficiência até oito horas depois do evento.

E, num estudo pequeno, embora significativo, a injeção de células-tronco no cérebro de vítimas de AVC permitiu que cerca de 39% recuperassem funções importantes até três anos após o AVC.

Juntamente com o tratamento, mudanças de vida ajudaram a prevenir incontáveis mortes por AVC e cardiopatia. 

Um estudo internacional, publicado em setembro de 2017 na revista The Lancet, confirmou que a prática semanal de 150 minutos de atividade física moderada reduz o risco cardíaco em cerca de 20%. E quanto mais ativa a pessoa, melhor para o coração.

A alimentação saudável e a diminuição do estresse são formas importantes de proteger o coração. Um estudo de 2014 descobriu uma redução de 22% do risco de doença cardíaca.

Aira Kuronen, de Lappeenranta, na Finlândia, hoje com 65 anos, acredita que o estresse no trabalho quase a matou. 

Ela sabia que seu risco de doença cardíaca era alto. A mãe morrera de infarto aos 51 anos. Aira tinha uma vida saudável, fazia uma boa alimentação e se exercitava regularmente. 

Mas, em seu trabalho no setor do bem-estar infantil, Aira lutava com “agenda cheia, imprevisibilidade, dificuldade e tarefas complicadas”. 

Com frequência, ela via crianças crescendo em ambientes caóticos e “às vezes sentia que não podia fazer nada para ajudar”. Aira só percebeu que isso afetava sua saúde no verão de 2000.

“Eu estava sozinha no jardim quando desmoronei, com uma dor intensa, que se espalhou pelo corpo”, recorda ela.

Aira descansou naquela noite e se esqueceu do caso. Cerca de seis meses depois, conversou com o médico sobre os sintomas constantes de dor e cansaço. Ele a mandou fazer um teste de esforço no hospital local em janeiro de 2001.

“O médico supervisor interrompeu o exame. Depois de exames, me informou que eu tinha um ou mais coágulos na artéria coronária e perguntou se eu estava pronta para uma cirurgia.”

O médico pediu uma angioplastia imediata, e Aira voltou para casa no dia seguinte. Mas precisou de uma segunda angioplastia seis meses depois, e, em seguida, mais três, em 2010, 2011 e 2012. Hoje ela está aposentada, com a doença cardíaca sob controle, graças aos medicamentos e a uma vida com o mínimo possível de tensão.

Câncer

Há mais de 600 mil novos casos de câncer por ano no Brasil.

  • A boa notícia: Mesmo em cânceres avançados, as pessoas sobrevivem por mais tempo.
  • Como aconteceu: Novos imunoterápicos e velhos medicamentos ajudam.

Hoje, a notícia mais promissora no tratamento do câncer é a imunoterapia, que  estimula o sistema imunológico do corpo a juntar suas próprias forças contra a doença. 

E o avanço mais recente nesse campo é a terapia CAR T. No laboratório, as células T do paciente (um tipo de leucócito do sangue) são transformadas em máquinas de combater o câncer.

A primeira dessas terapias foi aprovada nos Estados Unidos em agosto de 2017 (espera-se que a Agência Europeia de Medicamentos a aprove este ano) para combater a leucemia linfoblástica em crianças e adultos jovens. 

Num estudo clínico, 83% dos que receberam a terapia CAR T tiveram remissão em três meses. Ela também está sendo usada para tratar alguns pacientes com linfoma não Hodgkins.

Atualmente, vários outros medicamentos imunoterápicos são usados contra o câncer, às vezes com resultado efetivo.

Mas a maioria das imunoterapias só dá certo num percentual pequeno de pacientes. Em geral, é preciso uma biópsia do tumor para descobrir quem é um bom candidato para qual imunoterapia. 

Agora, a biópsia líquida, um novo exame de sangue, está sendo estudada por pesquisadores para determinar se, examinando marcadores de DNA no sangue do indivíduo, será possível determinar de forma fácil e rápida qual imunoterapia ajudará que paciente.

As biópsias líquidas também podem ser o futuro do diagnóstico precoce do câncer, de acordo com um artigo publicado em agosto de 2017 na revista Science Translational Medicine. 

Elas já são usadas para encontrar mudanças genéticas ligadas ao melanona e ao câncer de pulmão e podem ajudar a descobrir recorrências do câncer. 

Um artigo de janeiro de 2018 mostra que esses exames conseguem detectar alguns cânceres, como os de ovário, fígado, estômago, pâncreas e esôfago.

Um tipo muito diferente de imunoterapia é uma vacina contra câncer de pulmão chamada CIMAvax.

Ela aumentou de forma significativa a sobrevivência de pacientes em Cuba, onde foi desenvolvida, e hoje está sendo testada em estudos clínicos nos Estados Unidos. 

O que torna a CIMAvax excepcional é que, diferentemente da maioria das imunoterapias, só eficazes contra subtipos muito específicos de câncer, ela suprime do corpo do paciente um “fator de crescimento” chamado EGF, do qual numerosos tipos de câncer precisam para proliferar.

“É possível que essa vacina seja útil num grande número de casos”, diz o Dr. Kelvin Lee, professor e diretor do departamento de Imunologia do Centro Geral de Câncer de Roswell Park, “entre eles os de mama, pâncreas, cólon e cabeça e pescoço”. 

Pesquisadores cubanos estão “estudando se a vacina também é eficaz contra o câncer de próstata”.

Outra boa notícia envolve um remédio muito antigo e fácil de encontrar. Uma dose baixa de ácido acetilsalicílico por dia pode ajudar a evitar alguns cânceres, como os de cólon, fígado e pâncreas. Mas é preciso consultar o médico antes de tomá-lo regularmente.

Câncer de cólon e reto

Segundo o Inca, haverá 36.360 novos casos de câncer colorretal em 2018. É o terceiro tipo de câncer mais frequente.

  • A boa notícia: Hoje, muito mais gente sobrevive.
  • Como aconteceu: Exames diagnósticos comuns permitem aos médicos encontrá-lo logo.

O exame mais comum, o de fezes, é simples: você pega um kit no laboratório e o devolve com uma amostra fecal; pouco tempo depois, vem o resultado. 

Se o exame encontrar sangue nas fezes, a colonoscopia pode localizar e remover tumores do cólon e do reto, e seu exame no laboratório determinará se são cancerosos.

Em alguns países, a colonoscopia está se tornando o exame preferido por ser mais precisa e porque os tumores podem ser removidos durante o exame. 

“Na Alemanha, há dados muito bons indicando que o exame colonoscópico funciona”, diz o dr. Joachim F. Erckenbrecht, gastroenterologista do Hospital Florence Nightingale, em Dusseldorf.

“Ele reduz a mortalidade e também a taxa de novos cânceres.”

Câncer de mama

Segundo o Inca, serão 59.700 novos casos em 2018.

  • A boa notícia: Dos cânceres de mama descobertos precocemente, 22% crescem tão devagar que não precisam de tratamento. Para os que precisam ser tratados, a taxa de sobrevida aumenta muito.
  • Como aconteceu: Hoje, exames genéticos permitem aos médicos identificar que tratamento funcionará melhor para cada câncer.

Uma em cada oito mulheres terá câncer de mama, o segundo tipo mais comum entre as mulheres (o primeiro é o de pele não melanoma). 

Mas o diagnóstico de câncer de mama não é mais uma pena de morte. A maioria dos tumores pequenos (com menos de dois centímetros), só encontrados em mamografias, nunca crescerá a ponto de provocar sintomas ou morte, de acordo com um estudo publicado em outubro de 2016 na The New England Journal of Medicine.

Mesmo o tipo mais agressivo do câncer de mama se tornou uma doença tratável, com boa sobrevida.

A melhora do tratamento é responsável por, pelo menos, dois terços da redução das mortes por câncer de mama entre 1975 e 2012, diz o estudo acima. 

E boa parte do crédito vai para a descoberta de que o tratamento não é o mesmo para todos os casos. O tratamento correto de cada subtipo salva vidas e prolonga o tempo de sobrevivência em até 80% das mulheres.

Medicamentos novos transformaram até a doença metastática em mal crônico, com o qual as pacientes podem viver anos.

Transplantes em vida

  • Os órgãos doados após a morte são insuficientes para atender à demanda.
  • A boa notícia: O número de doadores de órgãos no Brasil cresceu 75% entre 2010 e 2017.
  • Como aconteceu: Mais pessoas compreendem que a maioria pode viver com apenas um rim; as doações de fígado em vida têm risco ainda menor.

Natália, a filha de Farra e George Rosko, estava morrendo aos poucos. Nascida em 2015 sem vesícula, a bile voltara para o fígado e causara cirrose.

Os cirurgiões do Children’s Hospital de Filadélfia estavam sem opções, e a puseram na fila de espera para um transplante de fígado. Mas encontrar um órgão adequado entre as doações é difícil. Era provável que Talia tivesse insuficiência hepática.

Quando a mãe de Talia precisou voltar ao trabalho para manter o seguro de saúde da família, os Roskos procuraram uma babá que pudesse cuidar da menina, então com 9 meses e usando um tubo de alimentação. 

Encontraram a pessoa perfeita em Kiersten Miles, de 22 anos. E, com o passar dos meses, Kiersten se apaixonou por sua pequena pupila.

Sem contar a ninguém, Kiersten tomou a decisão de fazer exames para ver se poderia ser uma doadora em vida para a pequena Talia.

A maioria dos órgãos transplantados vem de doadores falecidos. Mas rins e fígados também podem vir de doadores vivos, o que aumenta imensamente o número de órgãos transplantáveis.

É claro que há riscos. Embora a maioria viva bem com um único rim, o doador pode vir a perder a função do rim remanescente. 

O fígado, por outro lado, tem um poder de regeneração extraordinário. Quando uma porção é removida, o órgão cresce de volta até o tamanho normal em apenas dois meses. 

A porção transplantada também cresce até o tamanho normal no receptor. Em geral, os doadores se recuperam completamente sem sofrer nenhuma lesão permanente.

Kiersten, jovem, saudável e atlética, ficou felicíssima quando os médicos lhe disseram que ela poderia doar. 

Em janeiro de 2017, Talia e Kiersten passaram pela delicada cirurgia dupla para transferir parte do fígado de Kiersten para o bebê. Hoje, ambas passam bem.

Novas esperanças

Descobrimos que é possível prevenir algumas delas, assim como outras. Até as doenças que ainda não têm terapia eficaz começam a revelar seus segredos.

O que antes significava morte certa, hoje pode ser tratado e até curado. E amanhã? Com a continuação das pesquisas, cada ano que passa traz notícias melhores.


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