​UNESP SUSPENDE VESTIBULAR DE MEIO DE ANO

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 23:22
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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Minha filha se formou na UNESP em odontologia. Sempre quis ser dentista. Realizou-se. Sofreu devido ao currículo pesado. Jamais se arrependeu. Alunos levavam materiais extras para atender aos pacientes, mesmo assim valeu a pena. Acha a faculdade fantástica. Está eufórica, porque teve um artigo publicado em uma revista científica internacional. Seu orientador é considerado um dos maiores especialistas em clareamento dentário do país. 

Meu filho se formou em administração pública na Unesp, participou da empresa júnior, aprendeu, na prática, o que é ser um administrador, tanto que se candidatou a vereador. Veteranos e calouros têm encontro marcado todos os anos. Há, lógico, a festa, mas também há os que abrem caminhos para os outros. Brinco, que ele saiu da Unesp, mas a Unesp nunca saiu dele.

Conheço professores do departamento de letras e pedagogia da Unesp Araraquara, alguns conferencistas internacionais renomados, muitos por salários dignos; alunos lutam para melhorar instalações, currículos e outras “cozitas mas”. O professor “Fernandinho” (pequeno grande mestre) é reconhecido nacionalmente por suas traduções para o português de obras escritas em grego antigo. Da última vez em que tive o prazer de encontrá-lo, ele não sabia quando receberia o 13º salário do ano anterior, mesmo assim continuava lutando pela manutenção do curso de letras, um dos mais conceituados do país.

A Unesp de Franca, tida como uma das melhores faculdades de direito do país, em priscas eras, há tempos convive com problemas de verbas, tanto que já não é prioridade para muitos vestibulandos. Estamos perdendo uma das maiores instituições de ensino do país. Quando digo, deixamos, é porque todos sabemos que ela está rolando ladeira abaixo. Se não sabem, fiquem sabendo agora: Devido à falta de verbas, a bordo de desculpas esfarrapadas (atender os anseios da sociedade), não haverá vestibular de inverno nos próximos dois anos.

Seria interessante para o governo sucateá-la para vendê-la a preço de banana? Não sei, mas já vi esse filme no governo do presidente sigla: o consórcio que comprou a CSN com dinheiro emprestado pelo BNDES a fundo perdido sabe. A desculpa é a de que instituições governamentais são cabides de empregos? Sei já vi filmes pior que esse, a Vale do Rio Doce, nossa maior multinacional, foi protagonista dele: deu no que deu. Seria a crise econômica, a grande responsável pela falta de verbas? Já vi esse filme muitas e muitas vezes, cada hora com um protagonista diferente. O Brasil sempre esteve em crise. Em todos os governos, o desprezo pelas universidades públicas é o mesmo: Não fazer nada, para justificar que não há o que fazer. Seria o problema da má gestão de recursos na instituição que a tornou um problema? Então a má gestão começa no governo que colocou um mau gestor no comando da instituição. Seria a velha cantilena de que universidades públicas são feitas para os ricos? Então devemos matá-la, para depois ressuscitá-la privatizada e beneficente?

Há muito tempo, por sucessivos governos, a Unesp vem sendo sucateada. De fora, não conheço a fundo os problemas da instituição, então estou escrevendo sobre o que não sei? Sei o que está na cara: A Unesp não fará o vestibular do meio do ano, se não receber verbas para sobreviver. Estou fazendo uma pequena parte, que é escrever este artigo. Mas, pretendo fazer mais, muito mais pela faculdade dos meus filhos. O quê? Ainda não sei, mas não posso deixar um ser, que ainda respira, mesmo que por aparelhos, morrer. A sociedade anseia por um “não” vestibular púbico? Faz-me rir.


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