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Estudo trouxe novas evidências de que uso exagerado do celular se assemelha a vício em drogas e jogos
Um experimento envolvendo 101 pessoas na Alemanha trouxe novas evidências de que o uso intenso do celular se assemelha ao vício em drogas e jogos.
Os resultados foram publicados na revista científica PLOS ONE.
Nele, os pesquisadores monitoraram o tempo de uso de smartphones pelos participantes.
Estes, por sua vez, responderam a questionários que medem o comportamento em uma espécie de jogo de recompensas (denominado delay discounting, na literatura especializada) — avaliando se uma pessoa prefere esperar menos tempo e obter benefícios menores, ou se consegue aguardar mais para ter ganhos maiores.
Obter recompensas menores rapidamente caracteriza um comportamento impulsivo, já observado no uso abusivos de drogas, álcool e jogos de azar, segundo a publicação na PLOS ONE.
Escolher o caminho mais curto ou mais longo também tende a ser um comportamento estável ao longo do tempo, então para estudiosos da área, ter uma postura ou outra é comparável a um traço de personalidade.
“Nossos principais resultados vão ao encontro de pesquisas anteriores destacando a importância do delay discounting como um indicador de comportamentos problemáticos”, respondeu Tim van Endet, coautor do artigo junto com Peter Mohr, respectivamente pesquisadores da área de economia e neurociência da Universidade Livre de Berlim.
No experimento com as 101 pessoas, aquelas que passaram mais tempo nos seus celulares tinham maior probabilidade de escolher esse caminho mais curto — especialmente quando o tipo de uso era focado nas redes sociais e em jogos.
Ambas foram usadas por um tempo considerável (média diária de 46 minutos para redes sociais e 35 minutos para jogos) pelos usuários, mas as redes se mostraram muito mais presentes nos celulares dos participantes (87% dos aparelhos analisados tinham apps de redes sociais, versus 40% que tinham apps de jogos).
Os participantes gastaram em média 3 horas e 12 minutos do dia nos celulares — sendo no mínimo de 12 minutos e máximo de 8 horas e 24 minutos.
Uma recompensa maior e mais distante foi escolhida em 45% dos casos.
“Os resultados parecem intuitivos, uma vez que ambos os tipos de aplicativos oferecem gratificações na forma de curtidas ou conteúdo engajador (redes sociais) ou prêmios e bônus (jogos)”.
“Pesquisas recentes já mostraram que o comportamento nas redes sociais corresponde aos princípios do aprendizado por recompensa”, diz o artigo na PLOS ONE.
Mas o que viria primeiro: pessoas que usam muito o celular seriam estimuladas a ter um comportamento mais impulsivo, ou pessoas mais impulsivas tendem a usar mais o celular?
De acordo com Tim van Endet, ainda não é possível responder isso.
“Essa questão de causalidade é provavelmente a mais importante nos estudos sobre o uso de smartphones. Nossos dados atuais — e praticamente todos os outros estudos — não permitem uma resposta conclusiva, infelizmente.”
“Considerando um estudo que não encontrou indícios de que o uso mais intenso de smartphones por alguns meses leva a mudanças no comportamento impulsivo em adultos, e no fato de que a escolha impulsiva é uma característica relativamente estável, atualmente tendemos para a interpretação de que indivíduos mais impulsivos tendem a usar mais o smartphone.”
Uso intenso de celular chega a ser um vício?
Os autores reconhecem que estudos anteriores já haviam associado uso intenso de celular a um comportamento impulsivo, mas defendem que seu experimento se diferencia pelo fato de a própria equipe ter monitorado o uso do celular pelos participantes.
Em experimentos anteriores, eram as próprias pessoas que registravam o seu uso — o que pode afetar a confiabilidade dos dados.
Os autores destacam também que, entre cientistas, ainda não está definido se o uso intenso de celular é um vício.
Entretanto, há cada vez mais indícios de que há pelo menos uma interseção entre as duas coisas — como a ativação de regiões do cérebro marcadas por um sistema de recompensas.
“O uso excessivo de smartphones também demonstrou ter um impacto negativo em parâmetros importantes, como qualidade do sono, níveis de estresse, desempenho acadêmico e bem-estar geral”, aponta o artigo.
“Notificações frequentes, acesso imediato à informação e respostas dos grupos sociais podem tornar difícil o distanciamento destes aparelhos, mesmo se for algo inadequado ou mesmo perigoso — como ao dirigir.”
*Informações BBC News