Sobram vagas para quem tem habilidades digitais: veja como conquistar uma

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  • Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 11:56
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:16
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Estudo mostra que, até 2024, a demanda por profissionais de tecnologia será de 70 mil por ano

A jovem gaúcha Débora Góis Torres ainda não havia concluído o curso de programação que estava fazendo em Belo Horizonte quando começou a buscar vagas de emprego na sua área. Dois dias depois de formada, achou o que queria.

Foi contratada por uma empresa de tecnologia em ascensão na cidade. Pode ter sido um pouco de sorte, pode ter sido porque ela se empenhou. Mas o que certamente pesou a favor foi o fato de que Débora é de um segmento no qual o desemprego praticamente não existe: o dos profissionais com habilidades para negócios digitais.

Aos 26 anos ela ocupa, desde dezembro, o cargo de desenvolvedora full stack junior na Rock Content, empresa que produz conteúdo para companhias de diversos segmentos. “Tem muita oferta nessa área digital. Acredito que tenha mais empresas contratando do que gente procurando”, diz.

É verdade. Em um país onde o desemprego estava em 11,6% no fim do ano – atingindo 12,4 milhões de pessoas – e onde a informalidade no mercado de trabalho superava os 40%, o mundo da economia digital é uma ilha onde sobram vagas e falta mão de obra.

Um estudo recente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) traduz isso em números bem claros. 

Até 2024, a demanda por profissionais de tecnologia, como Débora, será de 70 mil por ano no Brasil, enquanto que o número de formados nessa área chegará a 46 mil.

“Muitos desses profissionais recebem hoje três ou quatro ofertas de emprego por semana”, diz Thiago Moreira, sócio da Vulpi, companhia de recursos humanos para a área de tecnologia sediada na capital mineira. 

Os salários variam, segundo ele, de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil para novatos e de R$ 15 mil a R$ 20 mil para quem tem cinco ou seis anos de carreira.

CAÇA A TALENTOS

A caça no Brasil por desenvolvedores, cientistas de dados, designers, profissionais de marketing digital e outros da economia digital deixou de ser quase uma exclusividade de empresas de tecnologia, como era até há alguns anos.

“Nós comemos, nos locomovemos, nos divertimos pelo mundo digital, o que significa que as empresas de quase todos os setores precisam desses profissionais, do banco ao varejo, da empresa aérea ao mercado editorial”, afirma Sergio Sgobbi, diretor de relações institucionais e governamentais da Brasscom.

Com tanta oferta, os trabalhos digitais viraram um ímã. “Tem gente de todas as idades e tem muita gente que até deixa uma carreira tradicional para passar a trabalhar nesse novo mercado”, diz Normando Bezerra, diretor estratégico da Revelo.

Diferentemente do que acontece nas carreiras tradicionais, no mercado digital o diploma universitário, o MBA e a pós-graduação não são, necessariamente, a chave de acesso para boas colocações.

Uma afirmação recorrente no setor é que os cursos universitários, como o de ciência da computação, por exemplo, tendem a ter mais dificuldades para acompanhar e agregar a seus currículos as mudanças rápidas da indústria digital e que, embora uma formação universitária dê aos jovens uma base teórica ampla, cursos livres, o autodidatismo e um bom portfólio de trabalho costumam ter alto valor no mercado.

COMO CONQUISTAR UMA VAGA?

Mas como se preparar para um futuro onde mesmo as habilidades digitais serão questionadas? 

Os líderes de TI, recrutadores e pesquisadores do setor dizem que a maioria das habilidades que os profissionais de TI têm hoje ainda será necessária no futuro, mas algumas habilidades específicas terão maior demanda do que outras, e os papéis e posições de TI terão que se ajustar a uma tecnologia emergente, assim como a paisagem dos negócios.

“O crescimento é projetado para quase todas as ocupações de TI que vemos agora até 2024, mas as funções estão mudando e evoluindo”, destacou Tim Herbert, vice-presidente sênior de pesquisa e inteligência de mercado da CompTIA.

Veja aqui o que os especialistas esperam que sejam as habilidades mais interessantes daqui a três a cinco anos.

Desenvolvedores ainda serão reis

Apesar do aumento das ferramentas de arrastar e soltar low-code, as habilidades de desenvolvimento continuarão a estar entre as mais quentes na próxima década, com a BLS prevendo um crescimento de 24% em empregos de desenvolvedores de software de 2016 a 2026. 

O Vale do Silício vai impulsionar muito dessa demanda, diz Herbert, mas empresas de todos os setores estão procurando por talentos de desenvolvimento de aplicativos à medida que avançam com as transformações digitais.

Os departamentos de TI das empresas terão uma necessidade crescente de idiomas específicos. Herbert e outros esperam que as linguagens de codificação orientada a objetos e scripts estejam no topo da lista nos próximos anos, com C ++, Django, JavaScript, Python, R, Ruby e Ruby on Rails entre as habilidades mais requisitadas no futuro. 

Eles também esperam que a capacidade de construir e integrar usando interfaces de programa de aplicativo (APIs) seja uma habilidade de alta demanda.

Além disso, os CIOs precisarão cada vez mais de desenvolvedores que possam trabalhar com metodologias ágeis e de DevOps, então os desenvolvedores mais empregáveis agora e no futuro serão aqueles que têm mais a oferecer do que apenas escrever código, destaca Jason Hayman, gerente de pesquisa de TI da TEKsystems.

“Você tem que ser capaz de entender o que uma equipe está tendo para poder quebrar esses problemas e resolver esses problemas”, diz Hayman, observando que os desenvolvedores terão que ter habilidades de teste e conhecimento das diferentes ferramentas de DevOps, como Chef, Docker, Git e Puppet.

Novas tecnologias impulsionarão novos papéis e combinações de habilidades

Em seu relatório IT Industry Outlook de 2018, a CompTIA lista 14 trabalhos emergentes, muitos dos quais são necessários para alavancar tecnologias que estão em seus estágios iniciais de implantação corporativa. Esses cargos incluem instrutor/cientista de aprendizado de máquina, desenvolvedor de AI, engenheiro de IoT industrial, desenvolvedor/engenheiro de blockchain e engenheiro de robótica.

Da mesma forma, o relatório da TEKsystems diz que IoT, AI, aprendizado de máquina, automação e marketing digital/iniciativas de clientes “estão no radar como investimentos críticos para continuar a transformar o negócio”.

Hayman diz que essas tecnologias exigem uma gama de habilidades, desde a capacidade de escrever algoritmos até a experiência de trabalhar com o Hadoop e sistemas orientados a dados.

Essas tecnologias emergentes criarão novas posições que exigem uma convergência de habilidades de TI, concorda Ray Trygstad, professor de TI e diretor de consultoria de graduação no Departamento de Tecnologia da Informação e Gestão da Illinois Institute of Technology.

Uma necessidade cada vez maior de habilidades de segurança cibernética

Os profissionais de segurança cibernética já estão entre os especialistas em TI mais requisitados, e espera-se que a demanda cresça significativamente à medida que o volume e a complexidade dos sistemas aumentem – e como os atores ruins se tornam cada vez mais qualificados, diz Tom Bakker, diretor da empresa de recursos humanos LaSalle Network.

A demanda já supera a oferta, diz Bakker, e essa lacuna só se expandirá nos próximos anos.

As principais competências em segurança cibernética centram-se na gestão de identidade e acesso, nos testes de penetração, na análise de riscos e na avaliação de segurança. 

Bakker também antecipa que mais organizações de TI que inserem segurança em suas ofertas de DevOps passem para a estrutura DevSecOps mais abrangente, pressionando os profissionais de segurança cibernética para entender mais partes de desenvolvimento e operações (e também exigindo que outros profissionais de TI adquiram habilidades de segurança).

Demanda por habilidades relacionadas a dados

O relatório de 2017, The Quant Crunch, prevê um crescimento significativo nas funções relacionadas a dados, estimando que o número de empregos relacionados a dados nos Estados Unidos aumente para 2,7 milhões em 2020, em comparação a 2,3 milhões em 2015.

Como outros empregos de TI de alta demanda, essas posições de dados exigem uma combinação de habilidades. “A demanda por uma nova geração de profissionais qualificados em dados, análise, aprendizado de máquina e inteligência artificial requer uma resposta necessária tanto do ensino superior quanto do desenvolvimento da força de trabalho”, afirma o relatório da Burning Glass Technologies em parceria com a IBM.

Procure não apenas um número crescente de posições de cientistas de dados, mas também trabalhos para engenheiros de big data, gerentes de bancos de dados, desenvolvedores de bancos de dados e arquitetos de dados, dizem especialistas.

“O hype agora é a IA e o aumento da automação e isso significa que agora e no futuro há necessidade de cientistas de dados, analistas de dados e pessoas realmente capazes de manter o motor em movimento e processar todos esses dados”, acrescenta Stephen Zafarino, diretor de recrutamento na Mondo, empresa nacional especializada em TI, tecnologia e marketing digital.

*Valor Econômico e CIO


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