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O setor calçadista sofre ainda mais pela dependência que tem do varejo interno
A crise provocada pelo novo coronavírus segue impactando o setor calçadista brasileiro, que deve terminar o mês de agosto operando com 52% de sua capacidade instalada.
A afirmação foi feita no Análise de Cenários, evento realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) no último dia 20 de agosto.
A segunda edição da iniciativa – que terá três edições neste ano – ocorreu no formato on-line e contou com apresentações do doutor em Economia Marcos Lélis e da coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck.
“No período de pandemia o setor calçadista está sofrendo muito ainda mais pela dependência que tem do varejo interno”, frisou Marcos Lelis.
O fato pode ser ilustrado com a utilização da capacidade instalada, que hoje está em 72% para a indústria em geral e em 52% para o setor calçadista.
Projeções
Segundo Lélis, após a queda ao longo de 2020, o Brasil deve ter um incremento de 3,5% no PIB do próximo ano.
Mesmo sendo uma boa notícia, segundo o economista, ainda não vai recuperar as perdas dos últimos anos.
“Se isso acontecer – crescimento de 3,5% – vamos empatar com o PIB de 2014, de antes da crise de 2015”, projetou.
A segunda parte do evento contou apresentação focada no setor calçadista, que registrou uma queda de 36,2% na produção do primeiro semestre em relação a igual período de 2019.
Segundo Priscila, o resultado foi impactado, especialmente, pelo ápice da crise, em abril, quando o setor registrou revés de 74%.
“Existe uma expectativa de leve melhora no segundo semestre, com a abertura gradual do varejo, fazendo com que o ano feche com uma queda média na casa de 29%”, informou Priscila, acrescentando que a queda corresponde a quase 300 milhões de pares, ou quatro meses de produção.
“Seria como se o setor tivesse parado de produzir por quatro meses ao longo de 2020”, destacou, ressaltando que o setor voltará ao patamar produtivo de meados dos anos 2000.
Exportações devem cair 27%
Além da queda da demanda doméstica, as exportações de calçados também devem impactar negativamente a atividade calçadista ao longo de 2020.
Com queda de 24,9% em pares embarcados entre janeiro e julho, no comparativo com igual período do ano passado, as exportações devem fechar o ano com revés de 27%.
“O principal impacto vem da perda no mercado norte-americano, principal destino das exportações brasileiras de calçados. No primeiro semestre, os Estados Unidos reduziram suas importações totais em 26,6%, ou mais de US$ 3,6 bilhões”, comentou.
A queda nas importações originárias do Brasil foi 31,5%, mais de US$ 36 milhões.
Segundo destino dos embarques brasileiros, a Argentina, embora indique uma pequena retomada, também diminuiu suas importações totais de calçados no primeiro semestre, em 21% (- US$ 37 milhões).
A queda brasileira foi de 25,5% (- US$ 14,9 milhões) no mesmo período.
Empregos
Fortemente impactado pela queda na demanda doméstica, o setor calçadista brasileiro perdeu 44 mil postos de trabalho no primeiro semestre, 19% da força de trabalho.
Segundo Priscila, a projeção é de perda de até 57 mil postos de trabalho no ano, 21% menos do que o nível registrado em dezembro de 2019.
“A MP 936, agora transformada em Lei, ajudou e vem ajudando o setor a segurar postos”, destacou. Segundo levantamento da Abicalçados, até julho 90% das empresas do setor utilizaram a medida em algum momento, tanto para redução da jornada como suspensão temporária do contrato de trabalho.