compartilhar no whatsapp
compartilhar no telegram
compartilhar no facebook
compartilhar no linkedin
Geração que nasceu nas décadas de 80 e 90, cresceu em um mundo sem uma ideia definida de fases da vida
Se a resistência do chuveiro da sua casa queimar, você sabe trocá-la? Costurar um botão na camisa é algo que você aprendeu a fazer? E declarar o imposto de renda?
Enquanto a ciência define diferentes estágios de maturidade e evolução do cérebro aos dez, 20 e 30 anos de idade, as marcas sociais da vida adulta são muitas, e realizar algumas tarefas como essas descritas acima — além de pagar boleto, como bem nos lembram inúmeros memes —, são bons indicativos de independência.
Mas, em que momento a gente aprende a fazer tudo isso?
Na escola, temas como esses passam longe das apostilas. Em casa, não há mais grandes rituais de transição em que os pais ensinam os filhos a navegar pela vida adulta.
Os millennials estão chegando aos 20 e poucos em fases bem diferentes da vida: enquanto uns conquistam independência financeira e social cedo, outros enfrentam mais dificuldade para se virar sozinhos.
“É a primeira geração que não foi preparada para ser adulta. Isso se deve à educação dada a eles pelos pais baby boomers (os nascidos entre 1946 e 1964), mas também porque eles são reflexo de um mundo em que se esfacelou por completo a ideia de curso de vida”, reflete o sociólogo Michel Alcoforado.
Como solução, começam a surgir cursos especializados em ensinar a encarar o mundo real de forma autônoma.
A Universidade da Califórnia em Berkeley (UC Berkeley) é uma das instituições que oferecem, nos Estados Unidos, um curso de adulting.
Há também a Adulting School of Portland, além de diversos cursos livres e mais específicos sobre temas da vida adulta, como contabilidade básica, marcenaria e culinária básica.
Apesar de o nome ser novo, não é difícil ouvir alguém se perguntando por que é que não aprendemos tudo isso na escola.
“Há vários sinais de que essa limitação das práticas escolares faz com que elas não respondam a muitas necessidades e aspirações das pessoas”, avalia Elie Ghanem, professor de sociologia da educação na Faculdade de Educação da USP e coordenador do Centro Universitário de Investigação em Inovação, Reforma e Mudança Educacional (Ceunir).
“A vida cotidiana requer saberes ligados a relacionamentos interpessoais, ao conhecimento de si, à organização da rotina doméstica, ao planejamento e à realização de projetos de vida”.
Enquanto na educação infantil há espaço para desenvolver habilidades pessoais, brincar e crescer como ser humano, o ensino fundamental representa uma mudança de foco na vida escolar.
“A nomenclatura já muda. Não se fala mais em educação, mas em ensino”, observa Ghanem, defensor de um currículo que extrapole a preparação para o mercado de trabalho.
Para Alcoforado, até faz sentido que as atribuições da vida real sejam ensinadas na escola, mas ele percebe que os millennials são o público que mais precisa dessas lições.
A geração que nasceu entre meados das décadas de 1980 e 1990 em países como os Estados Unidos ou o Brasil, de costumes ocidentais, foi a primeira a crescer em um mundo sem uma ideia definida de fases da vida.
Ou seja, sem a marcação obrigatória de rituais de passagem: emprego formal, independência financeira, casamento aos 20 e poucos anos, compra do primeiro apartamento, filhos.
Como consequência, perde-se o momento de aprender a se virar em cada uma dessas situações.
Segundo o IBGE, em 1970 a idade média dos homens ao casar era de 27 anos, e das mulheres, 23.
Quase 50 anos depois, em 2018, passou a ser de 30 e 28 anos para homens e mulheres, respectivamente.
Além de terem nascido em uma época com rituais de passagem esfacelados, “os millennials foram criados num modelo de que tinham que fazer um curso primeiro, para tudo. Se tem um celular na mesa, o millennial vai dizer: eu encontrei um MBA que me ajuda a usar melhor esse aparelho”, brinca Alcoforado.
“A geração Z, que nasceu com o celular no bolso, acredita que ninguém sabe mais do que o Google ou um youtuber”.