Segundo estudo, afirmar que açúcar dá mais disposição é puro mito

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 27 de abril de 2019 às 23:09
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:31
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No passado, estudos sugeriam que ingestão de carboidratos melhorava concentração e desempenho

Você já deve ter ouvido que o carboidrato dá um prazer especial
ou que um brigadeiro ajuda a acordar depois do almoço.

Pois um novo artigo científico acaba de desafiar essa ideia,
indicando que o nutriente não melhora a disposição por si só – e pode até
piorá-la.

Pesquisadores de várias instituições europeias
revisaram 31 estudos anteriores que avaliaram o estado do humor de 1 259
indivíduos logo após consumirem essa substância.

E, aqui, cabe uma ponderação: carboidrato não é sinônimo de açúcar. O açúcar de
mesa – ou o que é adicionado aos produtos industrializados – é um tipo de
carboidrato. Portanto, o levantamento não se concentrou apenas no açúcar.

De qualquer forma, nenhum efeito positivo relevante
foi identificado na disposição ou na concentração logo após a ingestão de
alimentos ricos em carboidrato.

Por outro lado, houve sensação de fadiga e queda no estado de
alerta em até uma hora. “A ideia de que o açúcar influencia no ânimo é popular.
Tanto que muitas pessoas tomam bebidas açucaradas para combater o cansaço”,
afirma Konstantinos Mantantzis, psicólogo que liderou o levantamento, da
Universidade Humboldt, na Alemanha. “Nossos achados indicam que essa alegação
não se sustenta. Se o açúcar pode causar algo, é fazer você se sentir pior
depois de consumi-lo”, completa, em comunicado à imprensa.

A esperança desse especialista e de seus companheiros é que seus
esforços reduzam a popularidade do açúcar. E, especialmente, das bebidas cheias
desse ingrediente, como refrigerantes e energéticos.

De onde surgiu essa história?

No passado, certos estudos com animais e seres
humanos sugeriam que a ingestão de carboidrato melhorava a concentração e o
desempenho cognitivo para tarefas complicadas.

A explicação biológica afirmava que o açúcar
estimulava a produção de neurotransmissores relacionados ao bem-estar,
especialmente a serotonina. Contudo, a revisão europeia questiona esses
mecanismos, apontando que os efeitos mais robustos foram observados em experimentos
com carboidrato puro. Ou seja, os voluntários (e as cobaias) estariam recebendo
um concentrado do nutriente – e não um alimento que o contém.

No texto do artigo, os autores argumentam que, em
uma comida qualquer, um teor de proteínas tão pequeno quanto 5%, por exemplo,
já sabota o efeito do açúcar na produção de serotonina. Somente as proteínas do
leite condensado do brigadeiro seriam suficientes para neutralizar essa ação
animadora dentro do cérebro, portanto.

Acima disso, mais de 20 outras pesquisas citadas na
revisão refutam a ideia de que mesmo itens que praticamente só concentram
carboidrato dão disposição. Ponto negativo para o refrigerante, para citar um
caso.

Agora, por que algumas pessoas relatam que, depois
de saborear um doce, ficam mais ativas? Talvez seja a própria crença de que, ao
comer açúcar, o corpo ganha uma dose de energia – seria uma espécie de placebo.
Tanto que alguns dos trabalhos analisados indicam que esse gás extra é mais
relatado entre 15 e 45 minutos depois do consumo.

Claro que as fontes de carboidrato não precisam ser
riscadas da dieta. Inclusive, elas têm seu papel no organismo. Só não pense nos
docinhos como uma forma de recarregar as baterias de uma hora para outra. É
melhor degustá-los pelo prazer, e não para atingir um objetivo inalcançável,
segundo a revisão.


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