Santa: Irmã Dulce será a primeira mulher brasileira a ser canonizada

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 15 de maio de 2019 às 00:22
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:33
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Segundo milagre realizado pela beata estava sob avaliação do Vaticano: homem foi curado após 14 anos cego

A
pessoa agraciada pelo segundo milagre de Irmã Dulce reconhecido pelo Vaticano é
um homem, que morava na Bahia, e foi curado após passar 14 anos cego. A
informação foi divulgada pela Arquidiocese de Salvador durante coletiva
realizada na última terça-feira, 14 de maio.

O milagre teria ocorrido após o homem pedir a Irmã Dulce
para interceder por ele, por conta de uma conjuntivite, pouco antes de dormir.
Quando acordou, no dia seguinte, o homem havia melhorado da doença e voltado a
enxergar, segundo a Arquidiocese.

Ainda de acordo com as informações divulgadas durante a
coletiva, o milagre intriga médicos, pois, mesmo após voltar a enxergar, os
exames do homem apontam lesões que deveriam impedir que ele tivesse o sentido.

A identidade do homem, onde mora atualmente e quando
ocorreu o milagre não foram divulgados.

O
reconhecimento do milagre e o anúncio da canonização de Irmã Dulce foram
divulgados pelo Vaticano. A data da cerimônia será definida em julho, durante
reunião presidida pelo Papa Francisco, em Roma.

Irmã Dulce será
a primeira mulher nascida no Brasil a ser canonizada e será chamada de Santa
Dulce dos Pobres, pelas obras de caridade e de assistência prestadas aos mais
pobres e necessitados.

A canonização
de Irmã Dulce será a terceira mais rápida da história (27 anos após seu
falecimento), atrás apenas da santificação de Madre Teresa de Calcutá (19 anos
após o falecimento da religiosa) e do Papa João Paulo II (9 anos após sua
morte).

Três
graças alcançadas por devotos, após orações a Irmã Dulce, estavam sendo
analisadas pelo Vaticano, com vista no processo de canonização da religiosa.
Esses três casos foram enviados ao Vaticano pelas Obras Sociais Irmã Dulce
(OSID), em 2014, após análise de profissionais da própria instituição. 

Processo
de canonização

Após
a beatificação da freira, iniciou-se o processo para buscar a canonização,
quando a pessoa passa a ser considerada santa pela Igreja Católica. Para a
beatificação, é necessária comprovação de um milagre, que, no caso de Irmã
Dulce, ocorreu em outubro de 2010.

Já para a canonização, é preciso que o Vaticano
reconheça mais um milagre, com a exigência de que esse milagre tenha ocorrido
após a beatificação, o que foi reconhecido agora.

O
Vaticano tem quatro exigências quanto à veracidade da graça, até ser
considerada milagre: ser preternatural (a ciência não consegue explicar),
instantâneo (acontecer imediatamente após a oração), duradouro e perfeito.

Frei Galvão, conhecido pelas pílulas milagrosas que,
segundo a fé católica, têm poder de cura e que nasceu em 1739, em
Guaratinguetá, no interior de São Paulo, foi o primeiro santo nascido no Brasil
a ser canonizado, em 11 de maio de 2007, pelo então Papa Bento XVI.

Madre Paulina, que morava em Santa Catarina, também foi
canonizada e ficou conhecida como a primeira santa brasileira. Ela, no entanto,
nasceu na Itália e só veio morar no país com a família aos 10 anos. Com isso,
Irmã Dulce se tornará a primeira santa nascida no Brasil. 

Primeiro
milagre reconhecido

A primeira
graça de Irmã Dulce reconhecida como milagre, e que possibilitou a sua
beatificação, pelo Vaticano ocorreu em 2001, nove anos após a morte dela. Foi
um caso de pós-parto de uma moradora da cidade de Malhador, no interior de
Sergipe.

De acordo com o
médico Sandro Barral, um dos investigadores e peritos que confirmaram o
milagre, a paciente apresentava um quadro de forte hemorragia não controlável.
Em um período de 18h, a mulher chegou a passar por três cirurgias, mas o
sangramento não cessava. Contudo, sem nenhuma intervenção médica, e após pedir
a intercessão de Irmã Dulce, a hemorragia subitamente parou e a paciente se
recuperou.

De acordo com
informações das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), a abertura do processo de
beatificação começou em 17 de janeiro de 2000. No ano seguinte foi anunciada a
graça, e em 2002 o processo foi levado para análise do Vaticano. A Congregação
para a Causa dos Santos do Vaticano reconheceu o milagre em 26 de outubro de
2010.

Em
22 de maio de 2011, foi realizada no Parque de Exposições de Salvador a cerimônia
de beatificação de Irmã Dulce, que passou a ser chamada como
“Bem-aventurada Dulce dos Pobres”.

Na cerimônia, foi lido o decreto apostólico do então
Papa Bento XVI inscrevendo Irmã Dulce na lista dos santos e beatos da Igreja
Católica, propondo-a como exemplo cristão para todos os fiéis. 

História
e legado

Irmã Dulce,
cujo nome de batismo era Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, é recordada
por suas obras de caridade e de assistência aos pobres e necessitados. Religiosa
da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, a
beata nasceu em Salvador em 26 de maio de 1914, e morreu no dia 13 de março de
1992, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, na mesma cidade.

Desde cedo
manifestou interesse pela vida religiosa. Aos 13 anos, passou a acolher
mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família – na Rua
da Independência, 61, no bairro de Nazaré – em um centro de atendimento.

A casa ficou
conhecida como “A Portaria de São Francisco”, por conta do grande
número de carentes que se aglomeravam a sua porta.

Em 1933, a
jovem ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da
Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, cidade de São Cristóvão, em
Sergipe.

No mesmo ano
recebeu o hábito e adotou o nome de Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe, que se
chamava Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes e morreu quando a freira tinha
7 anos.

No ano de 1935,
já de volta a Salvador, dava assistência à comunidade pobre de Alagados,
conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de
Itapagipe, na capital baiana. Nessa mesma época, começou a atender também os
operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico e
fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização
operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da
Bahia.

Em 1939, Irmã
Dulce invade cinco casas na localidade da Ilha do Rato, em Salvador, para
abrigar doentes que recolhia nas ruas da cidade. Expulsa do lugar, ela
peregrina durante uma década, levando os seus doentes por vários locais da
cidade.

Por fim, em 1949,
Irmã Dulce ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, após
autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes. A iniciativa deu
origem à tradição propagada há décadas pelo povo baiano de que a freira
construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro.

Já em 1959, é
instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), e no ano
seguinte é inaugurado o Albergue Santo Antônio.

A Osid
atualmente é um dos maiores complexos de saúde com atendimento 100% gratuito do
Brasil, com 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano a usuários do
Sistema Único de Saúde (SUS), entre idosos, pessoas com deficiência e com
deformidades craniofaciais, pacientes sociais, crianças e adolescentes em
situação de risco social,dependentes de substâncias psicoativas e pessoas em
situação de rua.

Segundo a
instituição, nos últimos 25 anos a entidade contabiliza 60 milhões de
atendimentos ambulatoriais e mais de 280 mil cirurgias realizadas, o que dá uma
média de aproximadamente 30 cirurgias por dia.


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