Saneamento básico em Franca: uma conquista escrita por muitos em mais de 40 anos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 31 de março de 2023 às 17:00
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Quando Maurício Sandoval pediu a Estação de Esgotos ao governo, Quércia quase caiu da cadeira: o pedido era de 100 milhões de dólares

O fato de Franca comemorar 25 anos da universalização do saneamento básico mostra a necessidade e o acerto das políticas e dos planejamentos de longo prazo.

Para desfrutar da liderança e desta qualidade de vida, Franca viveu uma história de muitos anos. Não começou ontem, não começou neste governo e nada foi feito da noite para o dia.

É preciso citar o prefeito Antonio Barbosa Filho, o visionário que, na década de 30 do século XX, empenhou suas terras para dotar Franca da rede de captação, tratamento e distribuição de água, com a construção da Estação de Tratamento de Água onde hoje está localizada a Sabesp.

Também foi ele quem primeiro investiu no saneamento básico, construindo a rede e a estação de tratamento de esgoto, que funcionava no Jardim Consolação. Ainda hoje estão lá os quatro cilindros gigantes que recebiam e tratavam os esgotos.

Talento político

Franca viveu assim por alguns anos, até que em 1976, o prefeito Hélio Palermo, um homem com um talento político muito acima da média e com pós-graduação em planejamento e política pública pela Escola Superior de Guerra, obcecado por planejamento e execução, percebeu o esgotamento da capacidade da cidade para autofinanciar o seu saneamento básico.

Foi, então, atrás da estatal Sabesp e precisou travar uma luta homérica para a Câmara de Vereadores aprovar a passagem da concessão dos serviços do município para a Sabesp.

Depois desse primeiro passo, houve outro. Em 1979 chegou a Franca o engenheiro José Everaldo Vanzo para dirigir a Sabesp.

Sua primeira atitude foi convencer o então prefeito Maurício Sandoval Ribeiro a investir no saneamento. Vanzo deu a Maurício tudo o que era preciso de informação para ele levar adiante o projeto do saneamento básico.

Força política

Maurício Sandoval Ribeiro, o prefeito francano que melhor se relacionou com as autoridades estaduais e federais, pediu o apoio de seu padrinho Murilo Macedo, que a esta altura era o Secretário da Fazenda do Governo do Estado.

O pleito foi passado a Reynaldo de Barros, então presidente da Sabesp, e com ligações pessoais com Franca. O projeto de substituição de toda a rede de água de Franca e da construção da captação, adução, tratamento e distribuição de água exigia não apenas um, mas dois caminhões de dinheiro.

Mas o projeto estava feito. Era necessário obter o financiamento de um programa específico do governo federal – o Planasa , que era gerenciado pelo Ministério do Interior, que tinha à sua frente Mário Andreazza.

Novamente, Maurício Sandoval atuou firmemente. Apelou a seu amigo Armando Malan de Paiva Chaves, que era chefe da Assessoria Especial do Presidente da República, João Batista Figueiredo.

Apelo aos amigos

Eis que um dia Maurício Sandoval Ribeiro recebeu uma correspondência pessoal de Paiva Chaves dizendo que o ministro Mário Andreazza havia liberado os recursos do Planasa para a Sabesp executar todo o projeto da troca e ampliação da rede de água em Franca, o que de fato foi feito.

Para se ter uma ideia da grandeza do projeto, basta dizer que o Parque Progresso, a Vila São Sebastião, o Jardim Guanabara e muitos outros bairros de Franca ainda não tinham água encanada em ….. 1980.

Esgoto, então, nem pensar. A execução do projeto transformou Franca num canteiro de obras e, em 1980, deixou Franca com capacidade de captar, tratar e distribuir água por 30 anos.

Mas, o trabalho precisava continuar. Por volta de 1984, José Everaldo Vanzo foi cursar pós-graduação em Saúde Pública na USP, campus de São Paulo. Curso intenso, que o deixou afastado de Franca por algum tempo.

José Everaldo Vanzo

Mas ele voltou com outra determinação: dotar Franca de 100% de captação e tratamento de esgotos. A premissa era de que cada centavo investido no saneamento básico economiza muito no tratamento de doenças. “Quem tem saneamento fica menos vulnerável a doenças”, dizia Vanzo.

Novamente, a história juntou José Everaldo Vanzo e Maurício Sandoval Ribeiro. Ao vencer a eleição para prefeito em 1988, no começo de 1989, Maurício foi se encontrar com o então governador Orestes Quércia.

E pediu ao governador que ele lhe desse o projeto de captação e tratamento de esgotos. Quércia quase caiu da cadeira, pois o que Maurício lhe pedia custava mais de 100 milhões de dólares. Quércia ainda perguntou se ele não queria trocar esse pedido por muitos outros. Maurício foi determinado. Não faria mais nenhum pedido no restante do seu mandato.

O susto de Quércia

Orestes Quércia autorizou a Sabesp a obter financiamento para executar o projeto de tratamento de esgotos de Franca. Novamente, a cidade foi transformada num canteiro de obras: toda a rede de captação de esgotos foi trocada, assim como instalados os emissores e as estações elevatórias.

Mas a cereja do bolo foi a construção da Estação de Tratamento de Esgotos, que recebia todo o esgoto produzido na cidade, tratava, transformava o sólido em adubo e devolvia para o ribeirão dos Bagres a água livre de impurezas.

Franca se igualava às principais cidades do mundo e ficava muitos, mas muitos quilômetros à frente das outras cidades brasileiras.

Se Franca hoje é uma das melhores cidades do Brasil em saneamento básico, deve isso a uma história de quase 40 anos, que começou a ser escrita por Hélio Palermo e passou por todas as outras administrações que perceberam a importância de continuar investindo.

Prefeitos na história

Deve a Maurício Sandoval Ribeiro que lutou e conseguiu os recursos para o projeto de 100% de água e para 100% de esgotos tratados.

Mas teve a luta de Sidnei Rocha e de Ary Balieiro para que os projetos não parassem.

Tudo isso reforça que uma conquista não vem em quatro anos. Se Maurício Sandoval Ribeiro tivesse trocado os 100 milhões de dólares por outras obras, pode ser que Franca ainda tivesse outras conquistas, mas dificilmente estaria em lugar de destaque no Brasil em saneamento básico.

A história mostra que todo governante precisa pensar além do seu governo, além do seu período de mandato. Só assim se realiza um sonho, só assim se constrói um futuro melhor para as pessoas que vivem em comunidade.


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