Saiba quais os gatilhos que te ajudam a aumentar a motivação no trabalho

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 25 de maio de 2020 às 16:16
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:46
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​Falar de motivação no trabalho significa entender a gratificação que ele lhe proporciona além do salário

Falar de motivação no trabalho significa entender a gratificação que ele lhe proporciona. 

“A própria tarefa em si pode ser gratificante. Exemplo daquele aposentado financeiramente independente, mas que se mantém ativo”, ilustra Célio Estanislau, pesquisador em neurociência comportamental e professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Quando o serviço deixa a desejar, a gratificação costuma acontecer por outros fatores, como dinheiro para realizar um sonho ou sensação de pertencer a um grupo. 

Tais emoções positivas são explicadas pelo sistema de recompensa que se encontra no cérebro. 

“O neurotransmissor dopamina é liberado em uma área importante para a motivação: o núcleo accumbens”, descreve. 

“Esse mecanismo é disparado automaticamente ao realizar algo que tenha caráter gratificante para o indivíduo, seja o próprio trabalho ou uma coisa fora dele, como uma meta pessoal”, exemplifica.

Aquilo que motiva uma pessoa, claro, não motivará outra. 

“Isso porque as necessidades delas serão diferentes. É a necessidade que gera o comportamento”, sintetiza Paulo Sérgio Boggio, coordenador do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 

A seguir, os neurocientistas listam seis “gatilhos” para ajudar a manter a motivação no trabalho. Confira!

Crie metas com significado

Um “gatilho” de motivação é traçar uma meta pessoal para o trabalho, como fazer uma viagem, comprar algo ou se qualificar. 

“Ou seja, a pessoa busca se manter consciente das suas razões para realizar aquela atividade”, resume Estanislau. 

A realização dessa meta não será imediata, podendo levar meses ou anos para acontecer. Isso faz com que ela funcione como um truque para o cérebro, burlando o sistema de recompensa. 

“Imaginar algo que ocorrerá no futuro pode ‘emprestar’ motivação para realizar uma atividade agora. Isso depende do pleno funcionamento de áreas associativas do córtex cerebral”, justifica. 

Entender que as metas devem mobilizar fatores individuais de motivação para serem eficientes traz desafios extras para líderes de equipe. “Eles precisarão conhecer cada colaborador para garantir o seu envolvimento no projeto”, descreve Estanislau.

Seja parte de algo maior

Boggio lembra que a sensação de pertencer a um grupo ou ambiente gera autoestima e, consequentemente, motivação. 

“Estudos que simulavam chats mostraram que os participantes excluídos da conversa tinham menores níveis de gratificação. Ou seja, ostracismo, sentimento de impotência ou de ser deixado de lado desmotivam”, lista. 

“Sentir-se aceito e acolhido em uma equipe pode ser um fator motivacional poderoso. Principalmente para pessoas mais gregárias, cujo bem estar está diretamente relacionado a fazer parte de uma rede de relações marcada por confiança, aceitação e metas compartilhadas”, complementa Estanislau.

Mais colaboração, menos competição

O ser humano naturalmente gosta de andar em grupo. Dessa forma, ajudar e ser ajudado gratifica e estimula. 

“Quando você precisa de algo e alguém lhe oferece, há uma sensação forte de gratidão. Em contrapartida, se a oferta não é vista como feita de boa vontade, o efeito pode ser contrário. Uma das razões pelas quais nem sempre uma bonificação motiva”, lembra. 

Em relação ao trabalho colaborativo, o desafio é não estimular a competição entre times e setores: a criação das famosas “panelinhas”. 

“Gostamos de andar em grupo, mas não em qualquer um. Assim, ao estimular a criação de uma equipe posso, consequentemente, gerar aqueles que estarão de fora dela, os excluídos”, alerta Boggio. 

O resultado pode ser um setor da empresa odiando o outro. “Nesse caso, será mais um problema do que uma solução”, alerta.

Identifique as causas do estresse

O estresse desmotiva, mesmo quando a causa seja externa ao trabalho, como uma doença na família. 

“Ele envolve uma cascata de eventos no cérebro e em glândulas que preparam o organismo para enfrentar situações difíceis. Como parte da resposta, a atenção da pessoa fica enviesada. Seu foco será mais na causa do estresse do que no trabalho”, esclarece Estanislau. 

Para completar, o estresse também afeta o sistema de recompensa. “No trabalho, é frequentemente provocado por pressões irrealistas, imposições, individualismo e sabotagens. Assim, sua redução exige necessariamente identificar e evitar a causa do problema”, recomenda Estanislau.

Contra a frustração, comunicação!

Segundo Estanislau, a frustração é uma instância do estresse. 

“Ocorre quando a expectativa de gratificação não se concretiza. Seja lá o que a pessoa esteja fazendo, não está funcionando para atingir os mesmos resultados que no passado”, pontua. 

Se por um lado isso é estressante, por outro, traz um desafio de adaptação e uma tendência a testar novas estratégias. “Mas enquanto essas não forem eficientes, a frustração continua. E pode piorar se os próximos resultados também foram negativos”, orienta. 

Para o neurocientista, a forma de evitar a frustação é por meio da melhora na comunicação com lideranças, co-workers e colaboradores. “Essa deve ser clara e objetiva”, ensina.

O valor para ser feliz

Nem sempre o dinheiro garante motivação. Boggio explica que há uma hierarquia de necessidades que procuramos suprir, em forma de pirâmide. Na sua base, está não passar fome ou sede. No primeiro andar, viver em local seguro. 

“A partir dai, começam necessidades socioculturais, como se sentir amado e aceito. No topo, sentir-se realizado com plenitude”, ilustra. 

Apenas quando uma necessidade é resolvida, passa-se ao andar seguinte. “Se tenho fome, a busca por necessidades complexas não terá sentido”, sintetiza. 

Razão pela qual nem sempre um salário mais alto consegue manter um talento na empresa. “Até certo valor, a relação entre dinheiro e felicidade acontece. Ultrapassando-o, o dinheiro não faz mais sentido, porque as necessidades básicas estarão atendidas. O profissional passa a procurar, por exemplo, outras formas de reconhecimento que não financeira”, finaliza.


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