Quem são os novos ‘queridinhos’ do consumo na pandemia de covid-19

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  • Publicado em 31 de maio de 2020 às 22:53
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:47
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Produtos pessoais, de entretenimento e práticos são preferidos no comércio e se tornam campeões de vendas

Que os hábitos de consumo estão mudando com a pandemia de COVID-19 não é só uma impressão. 

Quem está mais perto das pessoas na hora da compra, o comércio varejista, atesta isso com números e se prepara para atender às novas demandas, que são basicamente para conseguir fazer em casa o que antes era necessário, ou desejável, sair para executar. 

De aspiradores de pó a máquinas de cortar cabelo, de lava-louças a cadeiras para jogar videogames e trabalhar, não foram poucos os artigos que cresceram no gosto popular em período de distanciamento social. Isso ajudou a amenizar um pouco a queda no faturamento, que foi brutal.

“O consumidor investiu em cuidados pessoais, entretenimento, praticidade na limpeza e conforto do lar depois que percebeu que a quarentena se estenderia”, concluiu estudo da consultoria GFK ainda no fim de abril, mas já com dados de mais de um mês de distanciamento social compilados.

Desde então,  a empresa constatou o aumento da venda de vários produtos, sendo que chamou a atenção a de aspiradores de pó, que vendeu 351%. Já a venda de notebooks cresceu 173% desde março.

A de tablets, 176%. E a de TVs e celulares, que vinham em queda antes da pandemia, subiram 126% e 125%, respectivamente.

“O perfil do consumidor mudou bastante. Constatamos o aumento de três dígitos em eletroportáteis, como aspirados de pó, principalmente o aspirador robô, cujas vendas combinadas subiram 800%, e outras coisas que facilitam o dia a dia. Equipamentos de ginástica cresceram 500% em vendas. Itens de games, como cadeiras, também. Kit de churrasco, 200%”, afirma Pedro Bianchi, CEO da Ricardo Eletro, empresa de origem mineira e que é uma das maiores do Brasil.

(foto: Estado de Minas/ reprodução )
(foto: Estado de Minas/ reprodução )

 

“Desde o início do período de distanciamento social percebemos uma maior procura por produtos que auxiliam na rotina das pessoas que estão passando mais tempo em casa. Principalmente por produtos que facilitam e possibilitam a realização de atividades que antes eram feitas por prestadores de serviço, como salões de beleza, por exemplo, e também por quem está preparando as próprias refeições e busca mais praticidade. A demanda por itens de escritório também aumentou, tanto por softwares quanto hardwares. A busca por esses produtos demonstra que o consumidor vem se preparando para uma nova rotina de trabalho com uma frequência maior em casa, em vez do escritório”, argumenta Josiane Terra, diretora comercial da Via Varejo, que controla as bandeiras Casas Bahia e Ponto Frio.

Outra mudança é na forma de adquirir os produtos. Com lojas fechadas por determinação do poder público, os grandes varejistas recorreram ao comércio eletrônico.

“As vendas no site cresceram 311%. Nosso papel agora é garantir segurança e facilitar a compra. Temos de trabalhar de forma conjunta”, diz Biachi, destacando a adequação realizada, com os vendedores de lojas físicas passando usar os próprios telefones celulares para vender via aplicativos de mensagens.

“Um terço das vendas já é feita pelo WhatsApp do próprio vendedor, desenvolvemos campanha de vendas para eles. E também lançamos a ‘Somos todos vendedores’, iniciativa em que todos tiveram meta de vender determinada quantia, inclusive o pessoal do setor administrativo. Foram quase R$ 4 milhões só de venda desses funcionários, inclusive eu. Partimos de 50 mil visitas diárias para 350 mil no nosso site.”

Hipermercados Ao contrário dos magazines, os hipermercados levaram vantagem, pois puderam funcionar em função de comercializar alimentos e bebidas.

Mesmo assim, viram crescer o comércio eletrônico. “Inclusive de produtos tradicionais. As pessoas estão comprando até arroz e feijão pela internet”, explica uma fonte do Supermercados Carrefour.

É o que constata também a direção do Extra, outra rede nacional. “No e-commerce alimentar do Extra, neste momento de recomendado distanciamento social, as pessoas passaram a realizar compras mais abastecedoras, com número maior de itens e maior variedade de categorias. Hoje, é possível identificar uma crescente demanda por perecíveis (como itens de açougue e peixaria) e também por frutas, legumes e verduras, itens que, tradicionalmente, os clientes preferem comprar pessoalmente nas lojas”, diz a empresa através de nota encaminhada à reportagem, na qual faz ainda um recorte específico de Minas. 

“Na comparação com o mês anterior, houve crescimento de vendas de 31% em produtos lácteos e achocolatados, avanço de 51% em itens de bombonière e de 102% em doces e sobremesas.”

Perdas acumuladas Apesar de alguns produtos estarem com excelente desempenho de vendas em meio à crise do novo coronavírus, o varejo acumula muitas perdas desde março. 

Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a queda no faturamento no comércio diminuiu, mas continua longe do que estava antes das restrições às atividades econômicas, na terceira semana de março.

Na primeira semana das medidas governamentais, compreendida entre 15 e 21 de março, já foi registrado recuo de R$ 8,21 bilhões. 

Nos sete dias seguintes, a recessão atingiu o ápice, com perda de R$ 23,03 bilhões. O último levantamento, que compreendeu o período entre os dias 10 e 16 de maio, mostrou que as lojas deixaram de arrecadar R$ 16,08 bilhões. 

No total, as perdas chegaram a R$ 155,65 bilhões.

Minas fica em segundo lugar quando se leva em consideração as unidades da Federação. 

Desde 15 de março, a CNC estima que os lojistas do estado deixaram de arrecadar R$ 12,24 bilhões, R$ 640 milhões a mais que o terceiro colocado no ranking de perdas. São Paulo lidera, com menos R$ 49,3 bilhões nos caixas das empresas de varejo.

Três pergunta para…

José Jorge do Nascimento Júnior, presidente-executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros)

1 – Eletrônicos são considerados produtos que  sofreram menos com a crise, pois se  tornaram ainda mais essenciais com o distanciamento. É verdade?

Não é verdade, pois a partir das restrições de circulação as medidas de isolamento implementadas para contenção da pandemia a indústria de eletroeletrônicos sofreu forte impacto com o fechamento das lojas, já que o varejo físico é a principal plataforma de comercialização para nossos produtos, sobretudo, os de grande porte, como a linha branca, que inclui geladeiras, fogões e refrigeradores. 

O mesmo se percebe na linha marrom. O setor como um todo já sofreu retração de mais de 60% desde o começo da crise.

2 – Foi possível observar mudança no perfil de produtos consumidos? Qual teve alta na demanda e qual teve queda?

Os produtos das linhas branca e marrom, de maior porte, e também os de maior valor agregado registraram quedas mais significativas. 

Por outro lado, identificamos aumento pontual na venda de produtos para o lar e de uso pessoal, ou seja, as pessoas estão comprando mais aspiradores de pó, secadores e chapinha para cabelo, utensílios para cozinha.

Afinal, estão comendo mais em casa, entre outros eletroportáteis, que acabam tornando a permanência forçada em isolamento mais agradável. 

3 – Como a indústria encara o momento de retração na demanda? E como está se preparando para a retomada?

O momento é grave. Registramos um tímido crescimento no primeiro trimestre, que reflete um pouco da expectativa que tínhamos no início do ano, de retomada no consumo.

Esperávamos crescimento de 5% a 10% na produção de eletroeletrônicos. Entretanto, com o agravamento da crise a partir da segunda quinzena de março, fizemos drástica revisão nos nossos números. 

Ainda não consolidamos os dados de abril, mas estimamos retração ainda maior do que os 60% que já são perceptíveis em nossos indicadores. Em maio, esses números devem ser ainda piores. 

*Correio Braziliense


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