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O impacto negativo no emprego também arrefeceu, embora o setor ainda tenha 14% menos mão de obra
Jogar luz no quadro, por mais nebuloso que ele seja. Essa foi a missão do Análise de Cenários, evento realizado ontem (5) pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) com o apoio de sindicatos do setor calçadista e patrocínio da Blu.
Aberta ao público, a terceira edição do ano foi on-line e conduzida pelo doutor em Economia, Marcos Lélis, e pela coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck.
Lélis iniciou a apresentação trazendo dados da macroeconomia e tendências para o final do ano e 2021. Segundo ele, a China sairá antes da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, mudando a configuração da economia internacional.
“A China já está do mesmo tamanho pré-pandemia, crescendo há dois trimestres seguidos. Sairá mais fortalecida que os demais países”, disse, ressaltando que o Tigre Asiático deve crescer 2% em 2020 e 8,2% em 2021, enquanto a economia mundial deve ter queda de 4,4% neste ano e um crescimento de 5,2% em 2021.
No Brasil, Lélis destacou o impacto do fim do auxílio emergencial, que deve ocorrer no início do próximo ano.
Além disso, o problema do rombo nas contas públicas e a pressão sobre o câmbio, que vem alimentando um processo inflacionário crescente também preocupam, não somente para 2020, mas para o próximo ano, pois “vai sobrar menos renda para consumir bens não essenciais, caso do calçado”.
“Mais de 55% da população brasileira foi beneficiada direta ou indiretamente pelo auxílio emergencial do Governo. Como será quando esse auxílio terminar?”, questionou.
Segundo o economista, o auxílio, fundamental no período da pandemia, minou as possibilidades de investimento público.
“Somente as últimas cinco parcelas do auxílio demandaram R$ 250 bilhões dos cofres públicos, o dobro de todo o investimento público realizado em 2019”, informou, ressaltando que em nove meses os gastos foram equivalente a nove anos de Bolsa Família.
“Entre janeiro e agosto, o auxílio e demais benefícios emergenciais responderam por 54,9% do IBC-Br (índice que mede a atividade econômica). Ou seja, se hoje estamos 4,3% abaixo da atividade de janeiro, estaríamos 8,7% abaixo sem o auxílio. O impacto é enorme”, explicou.
Para 2020, Lélis destacou que a estimativa é de que o PIB brasileiro registre queda de 4,81%, para crescer 3,34% em 2021. “Como o crescimento foi de apenas 1,1% em 2019, ainda estaremos abaixo do nível pré-crise”, disse.
Calçados
Com uma queda produtiva de 30,9% entre janeiro e setembro, o setor calçadista vem experimentando uma recuperação nos últimos meses do ano, mas deve terminar o período 25% menor do que 2019. Priscila explica que a queda dos nove meses equivale a 208 milhões de pares a menos, como se o setor tivesse ficado quase três meses inativo.
Segundo Priscila, pesou para o quadro os efeitos da pandemia, especialmente no mercado doméstico, que absorve mais de 85% da produção de calçados.
“Assim como na economia em geral, os auxílios governamentais tiveram um impacto muito forte no comportamento do setor, de quase 30% sobre os crescimentos mensais, desde maio. Se não fosse esse impacto, estaríamos 36,8% abaixo dos resultados de janeiro e não 24,3% como estamos”, informou a coordenadora.
As melhoras tanto no comércio doméstico quanto internacional têm auxiliado o incremento da utilização da capacidade instalada da indústria de calçados, hoje em 62%. Em junho, ápice da crise, a utilização chegou a pouco mais de 30%.
O impacto negativo no emprego também arrefeceu, embora o setor ainda tenha 14% menos mão de obra empregada do que em 2019. Desde o início do ano até setembro foram perdidos 25,8 mil postos.
Por outro lado, Priscila destacou a recuperação no nível de empregos nos últimos meses. Entre julho e setembro foram criados quase 19 mil postos de trabalho, fechando o mês nove com 243 mil pessoas empregadas diretamente no setor.
Priscila destacou, ainda, o fato de que a produção brasileira de calçados caiu mais do que nos principais concorrentes.
Na China, a queda até agosto ficou em 16%, na Índia 28,4% e no Vietnã 4,8%, enquanto no Brasil até o mês oito a queda foi de 34,8%. “A concorrência irá acirrar em 2021, visto que estes países, ainda que com queda acumulada no ano, já retornaram aos níveis mensais de produção pré-pandemia”, alertou.
Exportações
Embora também tenham registrado um arrefecimento nas quedas, as exportações de calçados brasileiros também diminuíram entre janeiro e setembro. No período, a queda foi de 24,4% (para 64,5 milhões de pares). A estimativa é que o ano feche com um revés de cerca de 26%, fazendo com que o setor retorne ao patamar de 37 anos atrás. Embora o impacto da pandemia tenha se disseminado por todo o mundo, o mais forte foi nos Estados Unidos, que teve um revés de 15,4% no consumo de calçados (no mundo o revés foi de 13% e no Brasil de 29%, conforme projeções da Abicalçados). Atualmente, os Estados Unidos são o principal destino do calçado brasileiro no exterior.
Projeções
Para 2021, Priscila estimou que o setor, mesmo com crescimento da produção ante 2020 (tem torno de 20%), deverá ficar aquém dos resultados de 2019. “A queda ante 2019 deve ficar na média de 15%”, projetou. Segundo ela, haverá um aumento da demanda interna e das exportações, essas últimas favorecidas pelo valorização do dólar sobre o real, que torna os preços brasileiros mais atrativos no exterior.
O Análise de Cenários é uma tradicional promoção da Abicalçados que tem o objetivo de auxiliar as empresas nas tomadas de decisões por meio de informações e projeções. Neste ano, em função da pandemia, além de serem realizadas três edições on-line, os eventos foram abertos ao público em geral. O patrocínio do evento foi da Blu e o apoio dos sindicatos das indústrias de calçados de Birigui, Franca, Jaú, Três Coroas, Igrejinha, Parobé, Nova Serrana, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
DADOS*
2020
- Produção (janeiro e setembro): -30,9%
- Produção (projeção 2020): -25%
- Exportação (janeiro a setembro): -24,4%
- Exportação (projeção 2020): -26%
- Emprego (até setembro): -14%
- Emprego (projeção 2020): – 17,5%
2021
- Projeção produção (ante 2019): – 15%
- Projeção exportação (ante 2019): – 11%