Por que casos de depressão e ansiedade aumentam na virada do ano? Médicos explicam

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 31 de dezembro de 2024 às 21:00
  • Modificado em 2 de janeiro de 2025 às 13:38
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Em geral as pessoas estão felizes em dezembro e celebram as festas, porém nem todos costumam se identificar com essa alegria

Para muitas pessoas, as comemorações de fim de ano trazem gatilhos emocionais (Foto: Freepik)

Dezembro, tradicionalmente marcado por festas, reflexões e a formulação de novas metas, é também um período de desafios emocionais para muitas pessoas.

Apesar do clima de celebração, o mês é apontado por psiquiatras como um dos mais críticos para a saúde mental.

A chamada “Síndrome do final de ano”, ou “dezembrite”, é caracterizada por crises de ansiedade e depressão que se intensificam nesta época, afetando especialmente aqueles já diagnosticados com transtornos mentais.

Por que dezembro é um gatilho emocional?

De acordo com especialistas, o ciclo anual, embora arbitrário, provoca um processo de avaliação pessoal que pode ser angustiante.

O psiquiatra Arthur Danila, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, explica que essa introspecção é muitas vezes impulsionada pela pressão social e pelas redes sociais, onde impera a demonstração de felicidade.

“Quem não teve um bom ano tende a comparar sua vida com a dos outros, gerando crises de ansiedade”, afirma Danila.

Além disso, encontros familiares característicos das festas de fim de ano podem intensificar conflitos antigos, libertando sentimentos como rancor e raiva.

Para muitas pessoas, a convivência obrigatória com parentes de quem se distanciaram emocionalmente é um fator que aumenta o estresse e o desconforto.

O impacto em pacientes com transtornos mentais

A “Síndrome do final de ano” afeta especialmente pessoas com diagnósticos prévios de depressão e ansiedade. Segundo a psiquiatra Camila Magalhães, fundadora da clínica Caliandra Saúde Mental, o clima festivo aliado ao consumo de álcool e à exigência social de felicidade contribui para recaídas.

“Esses pacientes enfrentam insônia, ansiedade exacerbada e dificuldade de acessar suas emoções de maneira tranquila, o que pode agravar seus quadros”, diz a especialista.

Prevenção e enfrentamento

Para enfrentar esse período, especialistas recomendam a desmistificação da felicidade idealizada. “É importante aceitar que a tristeza e a angústia fazem parte da vida”, pontua Renata Rivetti, especialista em Felicidade Corporativa, CEO e Fundadora da Reconnect Happiness at Work & Human Sustainability.

Rivetti também alerta para os perigos da comparação nas redes sociais e para a definição de metas irrealistas. Ela sugere focar em pequenas conquistas e mudanças graduais ao longo do ano, em vez de tentar resolver tudo em dezembro.

A autoavaliação é considerada uma ferramenta essencial. Segundo Arthur Guerra, professor de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC, é fundamental reconhecer as dificuldades enfrentadas ao longo do ano sem tentar camuflá-las.

“Romantizar as metas ou depositar expectativas nos outros pode intensificar a frustração. Assumir responsabilidades e respeitar os próprios limites é primordial para o autoconhecimento”, destaca Guerra.

Autocuidado como prioridade

Exercícios físicos, alimentação equilibrada, tempo para lazer e o cultivo de hobbies são estratégias que ajudam a enfrentar o estresse do final de ano. Além disso, os especialistas sugerem refletir sobre as próprias necessidades emocionais.

“Ouvir suas angústias e avaliar o que realmente faz sentido para você é essencial”, afirma Camila Magalhães. Isso inclui decidir se participar de eventos sociais será saudável ou se o melhor é passar o período sozinho ou com pessoas queridas.

Uma mudança gradual

A mensagem central dos especialistas é clara: a transformação não acontece da noite para o dia. Construir uma vida mais equilibrada requer esforço contínuo ao longo dos 365 dias do ano, e não apenas nos últimos 31.

Confiar nos próprios limites, estabelecer metas realistas e respeitar as próprias emoções são passos importantes para começar o novo ciclo com mais serenidade.

*Informações O Globo


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