Por que a maioria das pessoas é destra e não canhota? A ciência explica!

  • Nina Ribeiro
  • Publicado em 12 de outubro de 2024 às 11:30
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Cientistas buscam entender padrões na predominância da mão dominante direita utilizando diferentes bases de conhecimento genético e histórico

Há muitas teorias sobre a maioria das pessoas no mundo ser destra – foto Racha Cuca

 

A maioria das pessoas no mundo é destra, mas o motivo por trás dessa predominância ainda é intrigante. Será que isso acontece por acaso ou é fruto da seleção natural?

Culturalmente, há muito tempo, o fato de ser destro foi associado a qualidades positivas como habilidade e correção, enquanto ser canhoto foi historicamente visto de forma negativa.

Em várias línguas, como o espanhol, o termo para canhoto, “zurdo,” carrega conotações pejorativas, assim como no português, em que “canhoto” pode significar “inábil” ou “desastrado”.

Até mesmo em representações religiosas, como nas primeiras ilustrações cristãs do Juízo Final, os justos são colocados à direita de Deus, enquanto os condenados estão à sua esquerda.

Em muitas culturas, como no mundo islâmico, a mão esquerda é reservada para funções vistas como impuras, o que reforça a marginalização dos canhotos.

Essa distinção cultural pode ter raízes na biologia ou na seleção natural. A predominância de destros é um fenômeno global, com variações entre povos — cerca de 10 a 12% das pessoas no Ocidente são canhotas, enquanto na China, apenas 5%. No entanto, a explicação para essa diferença não parece ser puramente aleatória.

Hipóteses para a Predominância de Destros

Primeira hipótese: genética relacionada ao sexo

Há estudos que sugerem que a condição de ser canhoto pode estar ligada ao sexo e aos níveis de testosterona.

Homens têm uma probabilidade maior de serem canhotos, e a condição estaria associada a uma incidência mais alta de doenças imunológicas, enxaquecas e problemas de aprendizado.

Algumas teorias indicam que o canhotismo poderia ser geneticamente codificado nos cromossomos sexuais, talvez no cromossomo X, já que existem mulheres canhotas.

No entanto, essa hipótese não explica completamente por que gêmeos, bebês prematuros ou pessoas que passaram por estresse fetal têm uma incidência maior de canhotismo.

Além disso, essa teoria não se aplica diretamente a outras espécies próximas dos humanos, como os chimpanzés, onde também se observa uma tendência similar de predominância de destros.

Segunda hipótese: vantagem adaptativa da destreza

Outra teoria sugere que a condição de ser destro oferece uma vantagem evolutiva. Os seres humanos apresentam uma assimetria corporal natural, e o desenvolvimento de órgãos como o coração e os pulmões é um exemplo disso.

O coração, por exemplo, está localizado no lado esquerdo do corpo, tornando essa área mais vulnerável a lesões.

Historicamente, os humanos desenvolveram maneiras de proteger essa parte do corpo, como o uso de escudos no braço esquerdo, enquanto a mão direita era usada para o ataque.

Essa assimetria poderia ter favorecido os destros, conferindo a eles uma vantagem adaptativa ao proteger áreas vitais do corpo.

No entanto, essa explicação também não é conclusiva. Populações de caçadores-coletores, que não usavam escudos, ainda mostram uma predominância de destros.

Evidências Históricas e Arqueológicas

As evidências da predominância de destros remontam a milhares de anos. Em cavernas como a de Las Manos, na Argentina, as marcas de mãos deixadas pelos habitantes sugerem que a maioria era destra — 829 marcas de mãos esquerdas foram encontradas, indicando que as pessoas usavam a mão direita para pintá-las.

Da mesma forma, em cavernas na Europa, como a de Maltravieso, na Espanha, há evidências semelhantes datadas de mais de 64 mil anos.

Além disso, análises de ferramentas antigas e ossos de animais caçados por seres humanos antigos mostram que a maioria das marcas foi feita por pessoas destras.

Essas evidências arqueológicas apontam que a lateralidade manual já era uma característica presente em nossos ancestrais, como o Homo heidelbergensis, que viveu há cerca de 450 mil anos.

Uma Explicação Definitiva?

Apesar de várias hipóteses e estudos, a razão definitiva para a predominância dos destros ainda é incerta. É provável que uma combinação de fatores biológicos, culturais e evolutivos esteja em jogo.

O canhotismo, embora seja uma condição menos comum, continua a existir em todas as populações humanas, sugerindo que não há uma desvantagem evolutiva definitiva para ser canhoto.

No entanto, a expectativa de vida dos canhotos é, em média, um pouco menor que a dos destros, o que levanta questões sobre as possíveis desvantagens de ser canhoto em um mundo predominantemente destro.

De qualquer forma, o estigma cultural que acompanha os canhotos tem diminuído ao longo dos anos, e muitas sociedades agora reconhecem que ser canhoto não implica em inabilidade ou desvantagem.

A biologia e a história, no entanto, ainda continuam a buscar uma explicação definitiva para essa característica tão presente na humanidade.

*Informações Galileu


+ Ciência