Perder 10% do peso corporal alivia arritmia e melhora a saúde

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de setembro de 2018 às 01:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:01
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Pesquisadores acreditam que o resultado reforça a necessidade de medidas de combate à obesidade e sobrepeso

A fibrilação atrial é um dos
principais fatores relacionados ao acidente vascular cerebral (AVC), o popular
derrame, e pode levar à insuficiência cardíaca. Entre os fatores de risco para
essa complicação está o excesso de peso. 

Por isso, emagrecer é uma recomendação
comum nos consultórios cardiológicos. Agora, pesquisadores australianos mostram
que a orientação médica tem base científica. Eles detectaram a redução dos
sintomas da enfermidade, um tipo comum de arritmia cardíaca, e até a reversão
dela em voluntários que perderam peso. Detalhes do trabalho foram apresentados
na revista Eurospace.

Melissa Middeldorp, pesquisadora da Universidade
de Adelaide, na Austrália, e participante do estudo, explica que, por ser
progressiva, a fibrilação atrial precisa, e deve, ser tratada o quanto antes.
“Os sintomas iniciais breves e intermitentes se desenvolvem em formas mais
sustentáveis da doença até ela se agravar, sendo que fatores de obesidade e
estilo de vida estão associados a essa progressão.”

Ela e o restante da equipe acompanharam 355
pessoas com sobrepeso ou obesas, todas acometidas por fibrilação atrial, que
foram perdendo quantidades variáveis de peso ao longo do experimento. 

Ao
analisar as condições dos voluntários e o progresso do emagrecimento, os
cientistas concluíram que a perda de 10% no peso, acompanhada do gerenciamento
de fatores de risco associados à doença, pode reverter a progressão dela, reduzir
os sintomas e a necessidade de tratamento. “Esta é a primeira vez em que há
evidências de que a fibrilação atrial pode ser aliviada pela perda de peso e
pelo tratamento dos fatores de estilo de vida”, frisa Melissa Middeldorp.

Segundo Fausto Stauffer, cardiologista
do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, e diretor científico da Sociedade
Brasileira de Cardiologia do Distrito Federal (DF), estudos anteriores
mostraram a relação da fibrilação atrial com outros fatores de risco, como o
diabetes, que também pode influenciar a perda de peso. Para o médico, pesquisas
como a australiana reforçam a importância do combate ao sobrepeso e à
obesidade. “No Brasil, por exemplo, em torno de 17% dos brasileiros já estão
obesos e mais de 50%, com o IMC acima de 25, o que pode ser definido como
sobrepeso”, completa.

Os investigadores também ressaltam a necessidade
de estar atento à relação próxima entre as duas complicações. Segundo eles, o
resultado da pesquisa pode ajudar nesse desafio. “Vemos que a progressão da doença
tem uma ligação direta com o grau de perda de peso. Com níveis recordes de
obesidade na Austrália e na maioria dos países de alta renda, esse estudo dá a
esperança de que pessoas obesas podem ter uma melhora na qualidade de vida e
reduzir sua dependência de serviços de saúde se perderem peso”, diz Melissa
Middeldorp.

Fausto Stauffer ressalta que outro ponto que
merece ser estudado são maneiras de manter os benefícios conquistados pela
perda de peso, aprofundando-se, por exemplo, nos mecanismos da fibrilação
atrial. “Sabemos que a diminuição de sintomas e a reversão da doença podem ser
feitas com a perda de peso, mas temos que descobrir uma maneira de manter essa
melhora, com estudos mais direcionados, que analisem medicamentos e mudanças
específicas de estilo de vida”, sugere o especialista.

Hormônio da fome não diminui

Vencida a batalha com a balança, surge outra ainda
mais complicada: manter o peso. Pesquisadores da Noruega identificaram por que
essa segunda etapa é tão difícil. A resposta pode estar no hormônio que nos faz
sentir fome, a grelina. 

Segundo a equipe, a quantidade dessa substância
liberada pelo corpo não acompanha a perda de peso. “Todo mundo tem esse
hormônio, mas, se você está acima do peso e perde, o nível de hormônio
aumenta”, resume Catia Martins, professora da Universidade Norueguesa de
Ciência e Tecnologia e líder do estudo, divulgado no American Journal of
Physiology, Endrocrinology and Metabolism.

A cientista e a equipe acompanharam 34 pacientes
com obesidade mórbida durante dois anos. No início, os voluntários pesavam em
média 125kg. Eles foram internados, durante três semanas, em um centro de
tratamento especializado, onde puderam praticar exercícios regularmente, fazer
exames, receber educação nutricional e conversar com psicólogos. A assistência
foi repedia a cada seis meses.

Ao fim da pesquisa, os participantes perderam em
média 11kg. Dois em cada 10 conseguiram manter o peso baixo após o programa, Os
níveis de grelina, porém, aumentaram em todos eles. Para Catia Martins, isso
significa que é provável que as pessoas que estejam acima do peso tenham que
lidar com o aumento da fome para sempre. “A obesidade é uma luta diária para o
resto da vida. Temos que parar de tratá-la como uma doença de curto prazo,
dando aos pacientes algum apoio e ajuda e, depois, deixando-os cuidar de si
mesmos”, defende.

Segundo a cientista, a maioria das pessoas com
obesidade é capaz de perder peso mesmo sem ajuda especializada, mas pesquisas
mostram que apenas 20% conseguem manter o novo peso. “É importante saber quais
mecanismos fisiológicos resistem à perda de peso. É claro que existem também as
diferenças individuais. As pessoas podem perder a motivação e ter dificuldade
para seguir a dieta e fazer exercícios. Tudo isso dificulta a manutenção do
novo peso”, ressalta.


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