PANDEMIA E A MÚSICA

  • Fofocas Musicais
  • Publicado em 28 de agosto de 2020 às 13:35
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:23
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Por várias vezes escrevi sobre a música e sua utilidade, mas nunca ela foi tão necessária como neste período de isolamento.

Outro dia uma pessoa me ligou pedindo pelo amor de Deus que atendesse presencialmente para aulas, porque ela precisava de alguém pegando em suas mãos, conduzindo os estudos, que foi acostumada a ser guiada.

Vemos neste pedido, como tantos que tenho recebido, que nós brasileiros principalmente, nos acostumamos a ser guiados pelas mãos. De repente soltaram das nossas mãos e nos deram uma máquina para nos comunicarmos com as pessoas.

Neste processo frio da informática não conseguimos abraçar, sentir a energia do contato, olhar nos olhos e captar a mensagem, porque virtualmente mesmo que se olhe para a câmera, o olho está do outro lado. 

Por algumas vezes, quando meus alunos conseguem olhar para a câmera e ficarem conectados com os meus olhos e eu com os deles, há uma comunicação mais verdadeira e transparente. Mas nem sempre isso acontece porque existem outros movimentos ao redor deles, outra energia, outros barulhos que interferem na comunicação , isso quando a internet está boa, porque tem vezes que desconecta no meio da conversa ou da execução, o que também faz parte. Desconectar faz parte.

Já percebeu como é difícil se manter olhando para a câmera? Olhar para um botão e passar o seu eu verdadeiro, sem ter o retorno do outro olhar? O que o outro estará sentindo? Como estará recebendo a mensagem? 

Nesta linha de raciocínio percebo que é hora da essência se comunicar, e o que o outro estará sentindo já passa a ser com ele. Não chega a ser um processo egoísta, mas penso que é um processo de olhar para si e filtrar o que está sendo dito, compreender, administrar, avaliar e concluir. Como estamos crescendo!

Desenvolver percepções é nosso desafio. Não deixar para o outro decidir, para o professor somente avaliar, mas partir para o autoconhecimento e auto avaliação. É algo que não estamos acostumados a fazer. É tão mais fácil chegar à escola e receber uma ‘ nota ‘ do professor e questionar:  ah.. O professor tal me deu uma nota baixa, ou fui premiado porque recebi tal nota do professor tal. Agora, é bem diferente. Você se dá a nota para o que você fez. Claro que o mestre está ali avaliando, pontuando, continua dando notas, mas na verdade você aluno de qualquer disciplina, de qualquer instrumento musical sabe que a sua parte agora é tão importante quanto a do seu mestre.

Divisão de responsabilidades.

Os pais, por sua vez, que entregavam às escolas a responsabilidade de educarem os seus filhos, agora precisaram pegar as rédeas e assumirem totalmente o ensino. Fico me lembrando dos músicos de antigamente que recebiam suas primeiras noções de música geralmente de seus pais. Alguns, de professores que iam até suas casas. O mestre sempre foi essencial porque já trilhou o caminho das pedras e pode conduzir os alunos a chegarem aos seus destinos, mas ele pegava nas mãos para que o aluno não caísse.

Agora, mostra-se o caminho e deixa-se a pessoa seguir com suas próprias pernas, seus pés, sua percepção de onde pisar, o que fazer como andar, por onde seguir. 

Estamos crescendo meus amigos! Como estamos crescendo!

Na antiguidade, os mestres eram reverenciados porque tinham a sabedoria. E os discípulos buscavam os mestres para lhes ensinar. Hoje o mestre é você na maioria das vezes.

Nesta pandemia, descobriram o estudo de um instrumento musical. E sabe por que o piano é o mais procurado por aqueles que despertam? Porque ele é solitário: é você e o piano e o piano e você. Não tem ninguém mais ali para dividir a interpretação da música, para participar de um conjunto, para enfim dividir erros e acertos. O piano te convida a dominá-lo e você tem tudo dentro de você para que isso possa ocorrer. O que falta? Coragem! Determinação! Perseverança! Ousadia! Foco! Concentração! 

Com certeza sairemos melhores desta pandemia, caso aproveitemos as chances de nos aventurarmos nesta busca solitária para encontrarmos conosco, lá o âmago.

“ O piano um escultor da alma”  é um livro que escrevi em 2014, abordando um pouquinho do que é o estudo deste instrumento que desafia nossos próprios limites, nos oferece compreensão, alento, realização e contato com a essência verdadeira.

Deixo aqui um vídeo do professor da Escola Pianística de Buenos Aires , com sua opinião sobre este pequeno livro. 

Que possamos abrir nossas mentes, corações, para dentro. Quem sou eu ? O que vim fazer no planeta? Como posso acessar minhas verdades? Digo com toda a certeza que a música é o caminho. Ouvir muito, com o coração e aprender a tocar um instrumento onde você fique sozinho consigo mesmo.

Boa semana a todos! Aproveitem esta oportunidade nunca antes oferecida à humanidade com tanta força:  Conhece-te a ti mesmo!


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