“Ozempic natural”: alternativas sem comprovação trazem riscos à saúde

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 12 de abril de 2024 às 21:00
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Opções como psyllium ou berberina, que viralizaram nas redes sociais, não apresentam evidências científicas robustas sobre seus efeitos no emagrecimento

Alternativas naturais ao Ozempic têm viralizado na internet – foto Freepik

 

Recentemente, o Ozempic, medicamento para diabetes da Novo Nordisk, ganhou enorme popularidade devido ao seu efeito na perda de peso.

Muitas pessoas têm buscado o remédio para fins estéticos, o que apresenta riscos se não utilizado com orientação médica, e pode levar à falta de estoque do remédio.

Diante disso, alternativas naturais têm surgido e viralizado nas redes sociais.

Uma delas é o Psyllium, uma fibra solúvel obtida através da casca das sementes da planta Pantago ovata, encontrada na Ásia, África e região mediterrânea.

Esse ingrediente é capaz de absorver água e, quando misturado com líquidos, aumenta de tamanho, formando um gel no trato gastrointestinal, o que aumenta o volume e umidade do bolo fecal, promovendo a regularidade intestinal, melhorando a consistência das fezes e aliviando a constipação.

No TikTok, a busca por “Psyllium” leva a diversos vídeos sobre seu efeito emagrecedor, regulador de apetite e laxante.

Alguns vídeos, inclusive, chegam a chamá-lo de “bariátrica de pobre” ou “Ozempic de pobre“. Mas será que alternativas como essas são realmente seguras e levam a um emagrecimento saudável?

De acordo com especialistas, embora o Psyllium tenha propriedades que levam à saciedade e melhoram a regularidade intestinal, não há evidências científicas robustas que comprovem a sua eficácia direta no emagrecimento.

“O termo ‘Ozempic Natural‘ é uma forma de propaganda enganosa, já que não existe uma alternativa natural direta para medicamentos prescritos como o Ozempic”, afirma Tassiane Alvarenga, endocrinologista e metabologista pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

Alguns estudos realizados in vitro levantaram a hipótese de que essa substância, ao promover uma espécie de “fermentação” no intestino, poderia promover a produção de ácidos graxos de cadeia curta, dentre eles o ácido butírico.

Em outro estudo, também em laboratório, o ácido butírico pode estimular a produção do hormônio GLP-1, cuja ação é estimulada também pela semaglutida, principal componente do Ozempic.

“Esse componente promove a saciedade, retarda o esvaziamento gástrico e estimula a secreção de insulina. Talvez, a confusão tenha surgido dessa associação, mas é importante ressaltar que não há estudos demonstrando a elevação do GLP-1 com o uso do Psyllium”, reforça Leonardo Parr dos Santos Fernandes, diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo).

“Na prática e em estudos realizados com humanos infelizmente o efeito do Psyllium sobre perda de peso foi muito pequeno e em alguns estudos, semelhante ao do placebo”, completa o especialista.

Uma meta-análise que compilou resultados 22 estudos não mostrou alterações no peso corporal, no IMC (Índice de Massa Corporal) ou da medida da circunferência abdominal.

Fitoterápicos também não devem ser usados como “Ozempic Natural”

Essa não é a primeira vez que um ingrediente natural é apresentado como uma alternativa ao Ozempic. No ano passado, a berberina também se popularizou nas redes como uma alternativa ao medicamento para emagrecer.

A berberina é um fitoterápico feio a partir de um composto extraído de ervas chinesas. Porém, também não há evidências científicas robustas que atestem a sua eficácia para o emagrecimento.

“Estudos preliminares indicam que seu consumo pode levar a discretas reduções no IMC (índice de massa corporal), mas a maioria dos estudos são pequenos e de evidência questionável”, afirma Alvarenga.

Além disso, o uso da berberina sem acompanhamento médico pode causar efeitos colaterais e apresentar riscos à saúde, incluindo possíveis interações medicamentosas e intoxicação e lesão hepática.

“É preciso tomar cuidado ao consumir os produtos vendidos como ‘fitoterápicos’, especialmente nas compras on-line”, alerta Fernandes.

“Há vários casos de intoxicação por produtos ditos naturais cuja procedência é duvidosa e em que o risco de contaminação por fungos, bactérias e outras substâncias tóxicas pode ocorrer”, completa.

Os especialistas alegam que o uso de fitoterápicos, para qualquer finalidade, deve ser feito com orientação de um profissional de saúde, como médico ou nutricionista.

Além disso, esses produtos devem ser adquiridos em empresas com registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que garante boas práticas de produção e armazenamento.

Estratégias que são realmente eficazes para o emagrecimento saudável

O uso de Ozempic para emagrecimento se popularizou por aumentar a sensação de saciedade devido ao papel da semaglutida.

A Anvisa e a FDA (Food and Drug Administration, órgão regulador dos Estados Unidos), aprovaram o componente para o tratamento da obesidade.

“A semaglutida, presente no Ozempic, está aprovada para o uso no tratamento da obesidade. Porém, no caso do Ozempic, o uso é off label, não está prescrito na bula, mas o uso da molécula está liberado para a perda de peso”, afirma Lorena Lima Amato, endocrinologista com título da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia).

No entanto, como toda medicação, o uso de remédios à base de semaglutida podem trazer efeitos colaterais, principalmente se usados indevidamente, ou seja, sem prescrição e acompanhamento médico.

Por isso, o uso de medicação para emagrecer deve ser feito havendo a indicação de um profissional de saúde.

Além disso, o emagrecimento saudável pode ser atingido através da mudança de hábitos como um todo. É o caso de uma dieta saudável e baixa em calorias, adaptada a individualidade de cada pessoa e orientada por um nutricionista ou nutrólogo.

“A dieta deve ser equilibrada e rica em fibras, com carboidratos complexos e de baixo índice glicêmico, restrição de gordura, açúcares refinados e alimentos ultraprocessados. Tudo isso, combinado a atividades aeróbicas e resistidas, já podem ajudar e muito na redução da gordura corporal”, afirma Fernandes.

“Não existe nenhuma pílula, pó ou suplemento mágico que vá consertar um estilo de vida ruim”, completa Alvarenga.

*Informações CNN


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