O que é a luz líquida e por que ela é considerada o 5º estado da matéria

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 2 de agosto de 2018 às 23:04
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:54
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Cientistas que estudam fenômenos quânticos dizem que, sob certas condições, a luz pode se tornar como a água

No conto “A luz é como a água”, Gabriel García Márquez narra
as aventuras de Totó e Joel, duas crianças
que, durante as noites, quebram as lâmpadas de sua casa e navegam entre as
correntes de luz que surgem delas. “Uma corrente de luz dourada e fria
como a água começou a sair da lâmpada quebrada, e eles a deixaram correr até o
nível atingir quatro palmos. Então, eles cortaram a corrente, pegaram o barco e
navegaram à vontade entre as ilhas da casa”, escreve o Nobel de
Literatura.

A cena, por mais fantástica que pareça, não está tão longe da realidade
quanto parece.

Cientistas que estudam fenômenos quânticos demonstraram que a luz, sob
condições especiais, pode se comportar como um líquido que flui e ondula em
torno dos obstáculos que encontra, como a corrente de um rio entre as pedras.

Como eles fazem isso?

A “luz líquida” é uma substância muito peculiar. Não é sólida
nem plasma e tampouco se comporta exatamente como um líquido ou um gás.

Os cientistas a chamam de Condensado de Bose-Einstein (BEC, da sigla em
inglês) e a consideram o “quinto estado da matéria”.

Nesse estado, as partículas se sincronizam e se movem em harmonia, formando
um “superfluido”.

Os superfluidos não criam ondas e não experimentam fricção ou
viscosidade.

Eles têm um “comportamento coletivo”, diz Daniele Sanvitto,
pesquisador do Instituto de Nantecnologia da Itália. “É como um grupo de
bailarinos fazendo os mesmos movimentos ou uma onda de pessoas marchando no
mesmo compasso.”

Assim, um líquido comum, ao esbarrar numa parede, saltaria, mas um
superfluido, como a luz líquida, circularia ao longo da parede. “Se você
enviar um jato desses contra a parede, ele a escalará em qualquer direção e,
eventualmente, voltará a se conectar depois do obstáculo”, explica
Sanvitto.

Para que serve a luz líquida?

Até poucos anos atrás, os superfluidos só podiam ser alcançados em
temperaturas próximas ao zero absoluto (-273 °C), mas, em 2017, Sanvitto e seus
colegas conseguiram produzir luz líquida à temperatura ambiente.

Eles fizeram isso usando misturas de luz e matéria chamadas polaritons.

Até agora, os experimentos com BEC foram feitos somente em pequena
escala nos laboratórios, mas os pesquisadores vêem um grande potencial para
transmitir informações e energia sem desperdício.

Um exemplo seria a criação de computadores ópticos, que possam
aproveitar a interação das partículas de luz sem o problema da dissipação ou
aquecimento de computadores comuns. Isso os tornará muito mais rápidos e
consumirá menos energia.

Essa tecnologia também pode revolucionar o manuseio de lasers e painéis
solares. Como o cientista Michio Kaku mencionou em uma entrevista, há quem
pense que, no futuro, o BEC poderia estabelecer as bases para se teletransportar
objetos.

Por enquanto, isso só é possível na imaginação, como já foi no conto de
García Márquez…


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