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Equilibrar a rotina de alimentação, atividades físicas e bem-estar emocional é fundamental
Para a nutricionista Tamara Gonçalves Maciel, a alimentação de um obeso muitas vezes está associada à quantidade aumentada de alimentos ingeridos e a porções acima do adequado.
Porém, pode-se observar com maior frequência que a má qualidade nutricional, aliada a quantidades exageradas, atua como fator determinante.
É o caso da ingestão de bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos artificiais, e o consumo de alimentos ultraprocessados, como salgadinhos, bolachas recheadas, macarrão instantâneo com frequência nas refeições e entre elas.
Por que engordam?
Esses alimentos têm em sua composição açúcar, gordura e sal aumentados, impactam negativamente no estado de saúde e podem contribuir para o ganho de peso.
Todos concentram calorias em pequenas porções e, por possuírem baixo teor de fibras, não proporcionam saciedade, além de serem adicionados aditivos que viciam o paladar e dão aquele gostinho de quero mais.
Mudança de hábitos
O nutricionista é o profissional responsável por orientar a mudança de hábito alimentar focado principalmente na melhora da qualidade de vida e na prevenção de doenças associadas ao excesso de peso.
“É importante esclarecer que a obesidade não é escolha, não é questão de estética e não é falta de vontade ou força, mas uma questão de saúde!”, enfatiza Tamara.
Segundo ela, é possível trabalhar a mudança de estilo de vida em qualquer idade, porém os hábitos introduzidos na infância vão refletir no estado de saúde na vida adulta.
Família
Por isso, o papel das famílias, principalmente no momento de introdução alimentar, é evitar ao máximo o consumo de alimentos ultraprocessados
E, mais importante ainda, os pais devem ser o exemplo, pois a criança só vai aprender a comer bem se eles consumirem alimentos saudáveis, compreendendo que esses alimentos são necessários para o crescimento e desenvolvimento adequado dos seus filhos.
Mundo moderno
Para Tamara, são vários os fatores que influenciam no aumento da obesidade em todo o mundo, entre eles o ritmo mais intenso de vida envolvendo a rotina de trabalho e a escassez de tempo para o lazer, para a prática de atividade física ou até mesmo para o preparo das refeições.
A nutricionista lembra que o acesso facilitado a alimentos prontos, como os fast foods, e o consumo de ultraprocessados aumentaram de forma significativa.
Essa mudança está relacionada principalmente à conveniência, praticidade e palatabilidade desses alimentos, enquanto as refeições caseiras preparadas com alimentos in natura ou minimamente processados (arroz, feijão, carnes, legumes e verduras), considerados essenciais para a alimentação adequada, reduziram.
Emagrecer não é simples
Atualmente, “existe um bombardeio de notícias sobre alimentação e dietas para emagrecer que, na maioria das vezes, trazem informações falsas e sem comprovação científica, tornando esse tema bastante confuso para quem busca melhorar os seus hábitos alimentares”, pontua Tamara.
Para ela, a base para uma boa nutrição está em se focar principalmente na qualidade da alimentação e o ajuste das quantidades.
E encarar os alimentos como nossa principal fonte de nutrientes (energia, vitaminas e minerais) e que por isso é importante ter uma alimentação variada com base em cereais integrais, leguminosas (feijões e grãos), legumes e verduras, frutas, leite e derivados com menor teor de gordura, carnes e peixes, e principalmente água para manter a hidratação.
Ela também sugere introduzir na sua rotina alimentos ricos em fibras, como aveia, granola, arroz integral, macarrão integral, pães variados de milho, aveia, batata, mandioca, além de grãos e sementes como linhaça, chia, abóbora e girassol para regular a saciedade e reduzir a vontade de comer alimentos mais calóricos.
Rotina
Tamara explica que a constância é o que realmente importa. Uma refeição fora do plano alimentar não tem impacto tão negativo, mas um “dia inteiro comendo besteiras” ou várias refeições somadas ao longo da semana ultrapassam nossas necessidades e contribuem para o ganho de peso.
Fome física e fome emocional
A psicóloga Mérope Vedana, especialista em terapia cognitivo-comportamental, diz que para avaliar o comportamento do paciente é preciso identificar em cada indivíduo os fatores que contribuíram para a aquisição e manutenção da sua obesidade e criar estratégias que auxiliarão na conquista da redução de peso e em sua manutenção permanente.
“A psicologia tem demonstrado grande importância nesse sentido, visto que tem como papel tirar o foco da obesidade em si e olhar para o sujeito”, afirma.
Observa que outras características podem estar presentes na obesidade, como a impulsividade, a ansiedade e sintomas depressivos.
Outros auxílios
A terapia cognitivo-comportamental apresentou as primeiras evidências científicas nos anos 1960, no tratamento da depressão.
A partir daí, as ferramentas para auxiliar na mudança de comportamento foram usadas nos tratamentos de ansiedade, pânico, fobias, transtornos de personalidade e alimentares.
Ela atribui esse crescimento da obesidade no mundo ao modo de vida que levamos, à correria do dia a dia, ao acesso imediato à informação e às condições do meio, que favorece a busca por fast foods e alimentos ultraprocessados.
Ela dá três orientações básicas para um obeso: observe seus pensamentos e sentimentos; tente diferenciar a fome emocional da fome física e lembre-se do provérbio chinês: ‘Coma a metade, ande o dobro e ria o triplo’.
Tratamento
A advogada de direito empresarial Jéssika Chielle, 31 anos, começou tratamento para obesidade em uma clínica especializada em outubro do ano passado e desde então eliminou 16 kg.
“Comecei a sentir o desconforto da obesidade, dores nas costas, indisposição, baixa produtividade no trabalho e falta de ânimo, minhas roupas já não serviam”, revela.
Ela tentou alguns modelos de dietas, mas não conseguiu se encaixar. Foi aí que chegou a um tratamento multidisciplinar. Seus exames clínicos ainda não estavam alterados, mas se continuasse engordando no ritmo em que estava isso impactaria sua saúde.
Jéssika acredita que o descontrole emocional contribuiu para que fosse perdendo o foco na saúde. Casou e passou a ter um dia a dia muito atarefado no trabalho, consumindo diariamente fast food e alimentos congelados e prontos.
Mas quando iniciou tratamento com endocrinologista, nutricionista e personal trainer, a vida começou a mudar.
“A médica me ajudou a compreender a importância da perda de peso não apenas por estética, mas por causa da saúde. Por isso, as porções das refeições já diminuíram bastante e comecei a fazer escolhas mais conscientes, como mais frutas e verduras e comida de verdade, e não mais industrializada”, conta.
Hoje, Jéssika percebe a importância da atividade física. Seu metabolismo teve ótima resposta, bem como a disposição e autoestima. “Agora virei a chave, não tem mais volta. Os resultados do tratamento me trouxeram muitos benefícios e bem-estar, mas sem o suporte desses profissionais, não teria conseguido me manter na linha”, avalia.
Mudança de vida
O empresário Daniel Rodriguez, 42 anos, assim como Jéssika também decidiu ir atrás de tratamento para a obesidade.
Ele sempre foi um jovem ativo, mas depois do casamento e do excesso de trabalho tornou-se sedentário e passou a comer e beber excessivamente. Em maio de 2020, quando procurou ajuda, estava 35 kg acima do seu peso ideal.
“Eu não tinha mais disposição, estava sempre cansado, sem vontade de praticar atividade física, e o fato de algumas roupas não servirem mais também passou a me incomodar. Além disso, quando meu filho completado cinco anos, não tinha ânimo para brincar e correr com ele”, revela Daniel.
O empresário aderiu a uma dieta saudável e balanceada e adotou a prática de atividade física de 4 a 5 vezes por semana. Em seis meses, eliminou 30 kg.
Durante um tempo, Daniel ficou bem motivado, mas não conseguiu manter a disciplina e engordou de novo. “No período mais intenso da pandemia, deixei de praticar crossfit e acabei ganhando 15 kg novamente”, pontua.
Depois das festas de fim de ano e as férias, ele voltou a fazer futevôlei e crossfit, e está focado. Daniel acredita que, melhor do fazer uma dieta muito restritiva, é preciso optar por algo mais equilibrado, que possibilite perder peso gradualmente e de modo constante e permanente.
“Parece que a gente inicia a dieta e os convites para festas e jantares começam a aparecer com mais frequência. Por isso, agora na retomada do tratamento estou evitando essas saídas. Não quero desistir da dieta”, pontua.
Ele destaca a importância do acompanhamento médico e nutricional para ajudar a emagrecer com qualidade e saúde, diferentemente das fórmulas que fazem com que o indivíduo emagreça rapidamente, mas que prejudicam a saúde. Outro ponto positivo são as atividades físicas, como o muay thai, o crossfit e o futevôlei, e que sua única dificuldade é administrar melhor o tempo.
“A gente ouve muita gente falando que é só fechar a boca para emagrecer, mas não é tão simples assim, são muitas pressões sociais, da família e do trabalho que dificultam todo o processo”, explica. Daniel revela que uma abordagem mais humana e gentil, e que não agrida a autoestima do paciente, é fundamental para a adesão ao tratamento, assim como o apoio da família.