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Médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem estão entre os profissionais mais vulneráveis nas circunstâncias atuais
O pico de novos casos de covid-19 por enquanto não tem, segundo indícios iniciais, levado a um aumento na mortalidade.
Mas a doença avança diante de equipes de saúde esgotadas, fragilizadas e desesperançosas com os rumos da pandemia, segundo dizem pesquisadores, psiquiatras e especialistas que acompanham esses profissionais da saúde desde os primórdios da batalha contra o coronavírus, em março de 2020.
É também o que dizem os próprios profissionais.
“O que temos escutado é que existe uma grande sensação de exaustão – de profissionais de saúde dizendo ‘não é possível. Vou ter que tirar férias, não vou aguentar’, ao verem as emergências cheias novamente”, disse à BBC News Brasil o psiquiatra Helian Nunes, um dos idealizadores do projeto Telepan Saúde, que desde o início da pandemia oferece sessões de aconselhamento psicológico gratuito online a mais de 640 profissionais de saúde de todo o país.
Situação não melhora
Há cerca de 200 pacientes ainda sendo acompanhados pelo Telepan (uma parceria da Universidade Federal de Minas Gerais com a Associação Brasileira de Neuropsiquiatria), alguns deles com sintomas de estresse pós-traumático, explica Nunes.
“Ficamos surpresos, porque achávamos que, quando a situação melhorasse, iríamos zerar os atendimentos. Mas não foi o que aconteceu. Muitas pessoas (profissionais de saúde) seguem em atendimento até hoje, não pudemos dar alta. E quem vai ocupar o lugar delas nos hospitais?”
Menos medo
“Nossa expectativa era de que os resultados seriam sempre melhores: que os profissionais iriam aprender (a lidar com a doença), que sentiriam menos medo, que as questões de saúde mental iriam se acomodar. E não é isso o que os dados mostram”, explicou à BBC News Brasil a pesquisadora Gabriela Lotta, professora de Administração Pública e Governo da FGV.
O medo dos profissionais de saúde entrevistados pela pesquisa – de técnicos de enfermagem a médicos – frente à covid-19 se manteve em patamares acima de 80% ao longo de todas as rodadas da pesquisa.
Também mais de 80% deles sentiram que sua saúde mental foi afetada negativamente pela pandemia, mas menos de um terço (30%) afirmou ter recebido algum tipo de apoio para lidar com isso.
Esperança de normalidade que se perdeu
“Eles estão lá em condições muito ruins de saúde física e mental, e com a sensação de falta de apoio de políticas públicas e uma esperança de normalidade que se perdeu”, avalia Lotta.
“Uma frase que apareceu em muitas respostas é: ‘somos soldados largados na frente da batalha’. A sensação de solidão é muito forte.”
E, embora tenha havido um aprendizado técnico importante sobre como prevenir, enfrentar e tratar o coronavírus, a sucessão de mutações do vírus e de novas ondas de covid-19 faz com que a sensação de despreparo frente a doença continue elevada, explica Lotta.