Nova pesquisa alemã indica que sal pode induzir reação alérgica

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 2 de março de 2019 às 23:17
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:25
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A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Técnica
de Munique demonstrou, em laboratório, que o sal leva à formação de células
imunológicas chamadas Th2, que ficam ativas em condições alérgicas, como a
dermatite atópica.

Os cientistas também detectaram concentrações
elevadas de cloreto de sódio na pele dos pacientes de alergias alimentares.

Nos países industrializados, quase uma em cada três
pessoas é afetada por alergias em algum momento da vida. Uma em cada 10
crianças sofre de dermatite atópica.

As células-T desempenham papel importante nas
condições imunológicas do tipo. Embora sejam um aspecto vital da resistência do
corpo a infecções, se não controladas, também podem desencadear respostas
patológicas e começar a atacar partes do próprio organismo em contato com
substâncias inócuas, conhecidas por alérgenos.

Quando isso ocorre, as células Th2, um subgrupo de
células-T, podem causar condições inflamatórias da pele, como a dermatite
atópica. Isso envolve um aumento da produção das proteínas interleucina 4
(IL-4) e interleucina 13 (IL-13). Mas cientistas ainda não sabem o que
desencadeia o ataque autoimune.

O sal de mesa, conhecido cientificamente como
cloreto de sódio, é essencial para a saúde de seres humanos e animais. No
corpo, ocorre na forma de íons sódio e cloro.

No estudo, Christina Zielinski, professora da
Universidade Técnica de Munique demonstrou que o sódio pode induzir uma reação
nas células-T humanas que faz com que elas produzam quantidades aumentadas das
proteínas IL-4 e IL-13. Na presença do sal, alguns tipos de células-T, que não
causam alergias, podem, se transformar em Th2, desencadeando a reação alérgica.

Reversão

As alterações são revertidas quando a célula-T é
novamente exposta a níveis mais baixos de sal. “Consequentemente, os sinais
iônicos desempenham um papel na geração e no controle das células Th2”, diz
Christina Zielinski. O resultado do estudo foi publicado na edição desta semana
da revista Science Translational Medicine.

Como especialista em dermatologia, Zielinski diz
que seu interesse de pesquisa é a dermatite atópica. Por isso, ela investigou
se as regiões da pele afetadas por essa alergia, caracterizada por secura,
rachaduras, vermelhidão e coceira, exibiam níveis elevados de sódio.

A análise revelou que as quantidades de sal nas
lesões dos pacientes da doença eram até 30 vezes mais altas que nas áreas
saudáveis da derme. “Os níveis mais altos de sódio na pele afetada combinam
nitidamente com outra característica da dermatite atópica”, diz Christina
Zielinski. “Sabe-se, há algum tempo, que os pacientes com essa condição
apresentam níveis elevados da bactéria Staphylococcus aureus na pele. Trata-se de
micro-organismos que prosperam sob condições salinas, diferentemente das
bactérias comensais, que são prejudicadas pelo sal.”

A pesquisadora acredita que esse conhecimento
prévio e os resultados da nova pesquisa são forte indicativo da associação
entre o sal e a dermatite atópica. “No entanto, ainda não conseguimos mostrar
como essas grandes quantidades de sal chegam à pele”, admite. “Por essa razão,
também não temos certeza se uma dieta com pouco ou muito sal pode influenciar
nessa ou em outras condições alérgicas.” A equipe espera responder a essa e a
outras perguntas em novos estudos interdisciplinares.


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