Noite Feliz: conheça a história por trás da mais famosa canção de Natal

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 24 de dezembro de 2018 às 17:08
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:15
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A canção nasceu em 1818, a pedido do padre austríaco Joseph Mohr e já foi traduzida para mais de 300 idiomas

Em 24 de dezembro de 1818, o padre
austríaco Joseph Mohr pediu ao amigo organista Franz Xaver Gruber que
compusesse a melodia para um poema escrito por ele dois anos antes. Nascia
assim Stille Nacht, heilige Nacht, uma das mais famosas canções
natalinas, traduzida para mais de 300 idiomas e conhecida em português como Noite
Feliz
.

Naquela noite, Mohr e Gruber
executaram a música pela primeira vez durante o serviço da igreja de São
Nicolau em Oberndorf bei Salzburg, na Áustria.

Hoje, a canção é quase onipresente no
Natal, figurando desde 2011 na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da
Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco).

O poema foi criado em um período
difícil para Salzburgo. O então principado eclesiástico independente sofreu
diversas ocupações durante as Guerras Napoleônicas. Os conflitos trouxeram caos
e fome – em especial no Ano Sem Verão de 1816, quando temperaturas extremamente
baixas destruíram plantações na Europa e América do Norte.

Naquele mesmo ano, Salzburgo perdeu
sua independência e foi incorporada à Áustria. “As palavras deste cântico
foram escritas nestas circunstâncias. Elas expressam uma ânsia por redenção e
paz”, explica Peter Husty, curador da exposição Silent Night 200 – The
Story. The Message. The Present
(“Noite Feliz 200 – A História. A
Mensagem. O Presente”, em tradução livre), no Museu de Salzburgo.

O contexto local não impediu que a
canção se tornasse um sucesso em todo mundo. Primeiro a música se espalhou em
um manuscrito na região dos autores. Depois, o construtor de órgão Carl
Mauracher a levou para Zillertal, um vale em Tirol, onde era cantada por
corais.

Dali, se alastrou pela Alemanha,
Europa e Estados Unidos. “O Cristianismo levou essa música para o mundo
com missionários (protestantes e católicos). Ela se tornou acessível em muitas
línguas e dialetos, tonando-se global”, afirma Thomas Hochradner, chefe do
Departamento de Musicologia da Universidade Mozarteum, na Áustria, e
idealizador da exposição Silent Night 200.

A exibição traz informações
detalhadas sobre a canção – como o fato de que ela é cantada por 2 bilhões de
pessoas no mundo -, além de objetos que ilustram o estilo de vida no tempo da
composição, autógrafos de Mohr e Gruber, e o piano usado para tocar a música.

Uma infinidade de traduções e adaptações 

A propagação de Stille Nacht
em diversos idiomas resultou em traduções nada fiéis ao texto original. Muitas
delas são, na verdade, adaptações. A versão em português, por exemplo, foi
intitulada Noite Feliz, embora o título real seja algo como
“Noite Silenciosa”.

A primeira estrofe também abriga a
frase “pobrezinho nasceu em Belém”, inexistente no poema austríaco.
“As chamadas traduções são novas poesias que tentam manter a mensagem do
texto, mas precisam levar em conta o ritmo e as rimas da língua”, diz
Hochradner.

Segundo Husty, geralmente as
traduções buscam manter o sentido central da canção: o Natal como festa da
redenção e sinal de paz. Mas nem sempre é o caso, como prova a
Weihnachtsringsendung, a versão nazista do cântico.

O regime de Hitler tinha um problema
óbvio com Natal: Jesus era judeu. E o antissemitismo estava no centro da
existência da ditadura nazista. Por isso, sua equipe tentou remover todo o
contexto religioso da celebração. Isso incluía reescrever canções natalinas sem
referências a Deus, Cristo ou fé.

Na Alemanha nazista, o primeiro verso
de Stille Nacht transformou-se em um louvor a Hitler. A letra dizia:
“Tudo é calmo, tudo é esplendido / Apenas o Chanceler fica em guarda / O
futuro da Alemanha para vigiar e proteger / Guiando nossa nação
certamente.”

A música também não
escapou do uso comercial em inúmeros filmes (a Forbes afirma que ela apareceu
em 295 até 2015) e interpretações por cantores famosos, incluindo Sinead
O’Connor, Elvis Presley, Etta James e Kelly Clarkson.

Os compositores

Mohr nasceu em 1792 em Salzburgo, onde estudou e foi
ordenado padre. Em 1815, o religioso tornou-se curador na pequena
municipalidade de Mariapfarr. No ano seguinte, escreveu o poema que o tornou
conhecido.

Em 1817, Mohr foi transferido para Oberndorf bei
Salzburg. Na cidade, o padre conheceu Gruber, nascido em Hochburg em 1787 e que
tocava órgão na igreja local. Eles cultivaram uma amizade por toda a vida.

Os dois são tão famosos na Áustria
que os locais onde nasceram, trabalharam e morreram possuem memoriais e museus
em sua homenagem.

Para celebrar os 200 anos do hit
natalino, Hochburg, Mariapfarr, Arnsdorf, Hallein, Oberndorf, Hintersee,
Wagrain, Fügen e Salzburgo fizeram uma parceria para uma exposição nacional.
“Os austríacos gostam e cantam a canção, principalmente em sua versão
original, que difere um pouco daquela mais comum no mundo. É mais uma tradição
do que orgulho”, afirma Hochradner.

Para Husty, Stille Nacht
transcende a religião. “Ela conta a história do nascimento de Jesus. Então
é um cântico religioso ao mesmo tempo em que é para a paz no mundo.”


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