O uso de gatilhos mentais e da Inteligência Artificial está aumentando o engano publicitário e fazendo vítimas nas redes sociais
Recentemente, um cliente relatou ter sido vítima de um golpe digital, ao se deparar com uma promoção suspeita no Instagram que utilizava a imagem de uma marca de bicicletas amplamente conhecida, a Caloi.
O anúncio, que parecia legítimo à primeira vista, apresentava Henrique Avancini, um renomado atleta e embaixador da marca, promovendo uma suposta campanha promocional.
A proposta era irresistível: a Caloi estaria oferecendo modelos de bicicletas da sua linha de entrada como brindes para quem respondesse corretamente um simples questionário sobre o esporte.
Ao final do quiz, o usuário poderia escolher o modelo desejado, conforme disponibilidade. O cliente, interessado na oportunidade, selecionou uma bicicleta de valor significativo, que, supostamente, estava disponível sem custos.
Cobrança adicional
Entretanto, ao prosseguir para o fechamento do pedido, surgiram cobranças adicionais. Inicialmente, foi cobrada uma taxa de entrega, seguida por uma taxa complementar referente ao tamanho do pacote e, por fim, uma taxa administrativa, totalizando R$ 112,73, valores pagos exclusivamente via PIX.
Após concluir o pagamento, o cliente começou a desconfiar e decidiu verificar o site oficial da Caloi, onde encontrou um comunicado alertando que a marca não estava realizando promoções desse tipo, tampouco utilizando a imagem de Avancini para fins promocionais.
De acordo com Sthefano Scalon Cruvinel, especialista em Contratos de Tecnologia e CEO da EvidJuri, esse caso ilustra a crescente sofisticação dos golpes virtuais, que utilizam estratégias avançadas, como deepfakes e gatilhos mentais, para enganar o consumidor.
Seguem dois pontos principais que merecem atenção e que podem ajudar outros consumidores a evitarem situações semelhantes.
Uso de Deepfake e Inteligência Artificial
Uma das técnicas empregadas neste golpe foi o uso de deepfake, uma tecnologia que permite manipular vídeos de maneira a tornar a imagem e a voz de uma pessoa praticamente idênticas às do original.
No caso relatado, a figura do atleta Henrique Avancini foi utilizada para conferir credibilidade ao golpe, criando um conteúdo altamente persuasivo e difícil de identificar como falso.
A página falsa, que aparentava ser legítima, contava com conteúdos patrocinados e chamava o usuário para a ação, utilizando recursos de design e navegação típicos de perfis oficiais.
Gatilhos Mentais para Persuadir a Vítima
Além da inteligência artificial, os golpistas empregaram gatilhos mentais, técnicas psicológicas de persuasão comumente utilizadas em vendas. Abaixo, destaco três gatilhos identificados neste golpe:
Urgência – A promoção continha um cronômetro que limitava o tempo disponível para participar, forçando o cliente a agir rapidamente.
Escassez – Frases como “restam poucas unidades” ou “últimas oportunidades” criavam a sensação de que a promoção estava acabando, incentivando uma decisão apressada.
Prova Social – Depoimentos falsos nas páginas de comentários afirmavam que pessoas haviam recebido suas bicicletas, elogiando a agilidade e qualidade do serviço, o que influenciava os consumidores a confiar no processo.
Essas estratégias tornam a fraude altamente convincente e ilustram a necessidade de cautela ao realizar transações online.
Veja algumas dicas que podem auxiliar na identificação de golpes digitais e na proteção do consumidor:
Dicas para Evitar Golpes Virtuais
Desconfie de ofertas e descontos muito atrativos. Marcas estabelecidas raramente realizam promoções que fogem aos preços de mercado. Grandes descontos e brindes são sinais de alerta.
Observe a linguagem. Erros gramaticais e de ortografia são indícios comuns de páginas falsas. Confira sempre a URL e compare com o site oficial da marca.
Desconfie de comentários excessivamente positivos. Perfis com muitas avaliações positivas e sem críticas podem ser fabricados.
Cuidado com excesso de críticas em outras páginas. Muitas reclamações em sites de avaliação e comentários de outras redes podem indicar práticas suspeitas.
Esteja atento a sinais de manipulação de imagem ou voz. Deepfakes podem ser convincentes, mas observar inconsistências nos gestos e no movimento dos lábios em vídeos pode ajudar a identificar uma manipulação.
Essas dicas simples podem ajudar a proteger o consumidor e evitar que caia em golpes sofisticados que utilizam inteligência artificial e técnicas de persuasão para obter vantagens. Fiquem atentos!
Sobre o autor
Especialista em Contratos de Big Techs Tecnologia de Direito. Auditor Judicial e Presidente do Grupo Cruvinel e CEO da EvidJuri, hoje o maior escritório de Perícias do Brasil. Especialista em Tecnologia certificado internacionalmente.