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Muito mais que uma questão estética, a autoestima impacta em relacionamentos sociais e profissionais; e é um pilar do empoderamento
Dificuldade em receber elogios pode esta ligada à autoestima – foto Freepik
Nos últimos dois anos, é bem provável que a sua relação com o espelho tenha mudado. Muito se fala sobre o boom dos procedimentos estéticos, o empoderamento de assumir os fios brancos, ou deixar de lado a maquiagem e o salto alto.
Contudo, além dos aspectos físicos que envolvem a autoestima, você sentiu que a sua a percepção sobre si mesmo sofreu um baque durante o período?
A pandemia causou instabilidade em todos os sentidos — não apenas em um contexto global, mas também observando a questão de forma interna.
Com a poeira mais baixa, é possível ver, de fato, as consequências de um período em que, de certa forma, ninguém saiu ileso.
Em meio ao caos, Amanda Cardoso, 29, teve dificuldade em enxergar com carinho a mulher que ela via no espelho.
“Eu comecei a me questionar sobre a minha capacidade profissional, exigir perfeição em absolutamente tudo que eu fazia. Também me agarrei a um ideal de perfeição que não existe: precisava ser a melhor profissional, a melhor dona de casa, a melhor esposa”, lembra.
Em apenas dois anos, a brasiliense abriu e fechou um negócio — que não resistiu aos fechamentos e reaberturas do comércio —, conseguiu uma vaga como operadora de caixa em um supermercado, teve síndrome de burnout, iniciou um processo terapêutico, deixou o emprego e se realocou no mercado.
“Todos esses obstáculos me fizeram deixar de me enxergar com carinho. Eu percebi que não me encaixava nos padrões que via nas redes sociais, nem conseguia olhar para mim e entender quem eu era. Me sentia feia, cheia de defeitos e fora dos padrões. De certa forma, eu não era boa o suficiente”, completa.
Segundo a psicóloga Ana Volpe, o processo que Amanda viveu não é um caso isolado. A sociedade foi apresentada a um sentimento de pessimismo e impotência sem precedentes.
Esse impacto foi sentido também na forma de enxergar a si mesmo, até para quem nunca teve problema com isso.
“Todos esses obstáculos me fizeram deixar de me enxergar com carinho. Eu percebi que não me encaixava nos padrões que via nas redes sociais, nem conseguia olhar para mim e entender quem eu era. Me sentia feia, cheia de defeitos e fora dos padrões. De certa forma, eu não era boa o suficiente”, completa.
Autoestima x imagem
Vincular a autoestima apenas ao aumento das visitas às clínicas de estética é uma tentativa malsucedida de reduzir um tema muito mais complexo. O sentimento é, na verdade, algo totalmente subjetivo.
Como explica a psicóloga, a autoestima faz parte de um conjunto de pensamentos e atitudes que regem a percepção sobre a própria personalidade, portanto, não pode ser limitada à imagem, tampouco à vaidade. São termos que andam de mãos dadas, mas têm significados diferentes.
“O mais importante é desprender essa percepção individual da imagem. A autoestima pode se manifestar de diversas formas: intelectualmente, a partir do autoconhecimento, de pensamentos, gestos, condutas; cada expressão é única”, ressalta.
Geralmente, quem tem dificuldades nesse quesito costuma questionar de forma frequente se é digno das próprias conquistas ou deixa de se dedicar a objetivos por medo de ser mal sucedido.
Sinais de alerta
O primeiro passo para identificar que seu relacionamento consigo está em desequilíbrio é o autoconhecimento.
A psicóloga Mary Pinheiro elenca comportamentos que funcionam como uma espécie de alerta vermelho:
– Faz comparações entre você e outras pessoas;
– Tem dificuldade de receber um elogio: ao receber uma gratificação, você responde com um “não mereço ou não foi grande coisa; era meu dever ou minha obrigação”;
– Não sabe dizer não ou impor limites: e frequentemente, sente sobrecarga física emocional;
– Está sempre se punindo, ao invés de acolher suas imperfeições;
– Se sente rejeitada;
– Tem excesso de cobrança e é muito autocritica consigo mesma;
– Tem dificuldade de enxergar as próprias qualidades.
“Ao menor sinal de sentimentos fortes de rejeição, inferioridade ou incapacidade, procure ajuda. Achar que todos estão contra você e não conseguir lidar com críticas também são boas formas de identificar”, completa a psicóloga Cíntia Araujo.
Se enxergar com carinho
Apesar de um cenário prejudicial para a saúde mental como um todo, a boa notícia é que a autoestima pode ser trabalhada com um bom acompanhamento terapêutico.
O primeiro passo é contar com a sua rede de apoio: “se cerque de pessoas que te estimulem, e se espelhe em pessoas que você confia. Criar um ciclo de relacionamentos que te dê segurança para ser quem você é, facilita muito o processo”, orienta Mary Pinheiro.
A autoestima está ligada à sua conexão com o seu eu interior. Refletir sobre até que ponto você se prioriza, se você respeita os seus valores e externaliza isso, se a sua companhia é suficiente para você mesma, se amar acima de tudo.
Esses são pensamentos importantes para se conhecer, acho que a chave para tudo é o autoconhecimento.
*Informações Metrópoles