Financiamentos mudam e podem aquecer mercado imobiliário brasileiro

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de abril de 2018 às 12:16
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:41
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Redução das taxas de juros e aumento do percentual do valor do imóvel podem aquecer mercado

A redução das taxas
de juros do crédito imobiliário e o aumento do percentual do valor do imóvel
financiado anunciados esta semana pela Caixa Econômica Federal, podem
contribuir tanto para o próprio banco quanto para melhorar o cenário do mercado
imobiliário no Brasil.

Os especialistas
dizem que, apesar das condições favoráveis, compradores devem ter cautela antes
de assumir dívidas e avaliar se as parcelas cabem dentro do orçamento. 

As taxas mínimas da Caixa passaram de 10,25% ao ano para 9% ao
ano, no caso de imóveis do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), e de 11,25%
ao ano para 10% ao ano para imóveis enquadrados no Sistema de Financiamento
Imobiliário (SFI). As taxas máximas caíram de 11% para 10,25%, no caso do SFH,
e de 12,25% 11,25%, no SFI. O banco também aumentou novamente o limite de cota
de financiamento do imóvel usado, de 50% para 70%. 

De acordo com o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV)
Alberto Ajzental, especialista no setor, a medida traz à Caixa, que estava há
17 meses sem mexer nas taxas, “de volta para o jogo”. A mudança equipara o
banco em termos de juros para financiamento imobiliário no SFH ao Itaú
Unibanco, que até então oferecia taxas mais vantajosas. 

A decisão, segundo o
economista, foi acertada uma vez que o cenário econômico está favorável com a
queda da Selic, que é taxa básica de juros da economia, para 6,5% ao ano. Além
disso, o banco está em um bom momento. 

No ano passado, alegando falta de recursos, a Caixa reduziu para
50% do valor do imóvel o limite máximo de financiamento de imóveis usados. No
mês passado, no entanto, o banco mostrou melhoras, anunciando um lucro líquido
recorde de R$ 12,5 bilhões, em 2017. O crescimento em relação a 2016 chegou a
202,6%.  “Isso ajuda a ter liquidez. Ao longo do ano passado a Caixa não
estava se vendo em condições de fazer isso. Acertadamente, olhou para a empresa
e não para a pressão política e populista.  A empresa tem que ser
preservada”, diz. 

O professor do
Ibmec-DF José Kobori concorda com a análise. “A Caixa estava mais cara que os
bancos privados, agora não apenas se equiparou, como ficou pouca coisa abaixo”,
compara. 

Segundo Kobori, a ação da Caixa poderá aquecer o mercado
imobiliário e impulsionar a construção civil, mas é possível que isso não tenha
um efeito muito significativo imediatamente, devido ainda a altas taxas de
desemprego e endividamento das famílias. “Não podemos ser pessimistas, mas não
podemos ser otimistas demais”, pondera. “Se olhar da maneira racional, o
endividamento ainda é alto e a massa salarial não cresce de forma suficiente
para retomada mais forte da economia”. 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), há 12,7 milhões de pessoas desocupadas – a taxa de desemprego tem se
mantido estável desde o ano passado. Já o percentual de famílias com dívidas ou
contas em atraso aumentou em março pela primeira vez no ano, atingindo 25,2%,
uma alta de 0,3 ponto percentual, segundo a Pesquisa de Endividamento e
Inadimplência do Consumidor (Peic).  

Cuidados na compra

Após período de baixa, o volume de imóveis vendidos no país
cresceu 9,4% no ano passado, na comparação com 2016, segundo levantamento da
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e do Senai Nacional. Foram
vendidas 94.221 unidades em 2017, contra 86.140 unidades de 2016. A aposta é
que a redução de juros ajude a impulsionar ainda mais o mercado este ano. 

Na avaliação de Ajzental, após a recessão dos últimos três anos, o país está em
um cenário de estabilidade. “Enquanto está caindo não se sabe se vai afundar
junto com o barco, se tem que pular no mar. Na hora que parou de afundar, fica
claro quem está no barco e quem está no mar. Quem se manteve, volta a pensar em
consumir, obviamente não é o mercado consumidor que tinha pleno emprego, mas é
quem está pensando em trocar de carro, trocar de imóvel”, diz.  

Para aqueles que querem adquirir um imóvel, a notícia é boa, de
acordo com Kobori, pois irão conseguir comprar a casa própria em um bom
momento, com taxas baixas. Emprego fixo e estabilidade econômica são segundo
ele, requisitos necessários por aqueles que desejam buscar um financiamento. É
necessário também avaliar se a parcela do financiamento cabe dentro do salário.

Apesar de ser possível financiar até 70% do imóvel, a dica é
quitar o máximo a vista. “A taxa de juros está sempre contra de quem precisa”,
diz e acrescenta: “melhor é não financiar, mas se for financiar, a casa própria
é melhor do que buscar crédito para trocar de carro, por exemplo. Para cartão
de crédito então, nem pensar”, diz.

A
Caixa é líder no mercado imobiliário, detendo atualmente cerca de 70% de
participação. O banco fechou 2017 com saldo na carteira imobiliária de R$ 421,7
bilhões. Segundo o presidente da Caixa, Nelson Antônio de Souza, o objetivo da
redução das taxas de juros  é oferecer melhores condições para os
clientes, além de contribuir para o aquecimento do mercado imobiliário e suas
cadeias produtivas.


+ Economia