Minha história com relação à música

  • Fofocas Musicais
  • Publicado em 23 de outubro de 2019 às 09:35
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:23
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FASE 1

Dias atrás, uma senhora de Brasília curtiu uma de minhas páginas no Facebook e me pediu que contasse minha história e trajetória profissional.

Com 3 anos de idade contavam meus pais que eu tocava piano no ar, sem nunca ter visto um piano antes e dizia que queria aprender a tocar.

Aos 7 anos me colocaram para estudar piano no Conservatório Jesus Maria José, a uma quadra e meia de minha casa. Fiquei estudando com ela até os 13 anos de idade, quando meus pais me trocaram de professora. O Conservatório foi vendido para uma instituição espírita que ficava mais longe de minha casa. E eu tinha uma vizinha bem próxima que dava aulas de piano em casa, só tinha uma casa entre as nossas. Comecei aulas com ela, embora meus pais recomendassem para que eu não ficasse brincando de amarelinha na rua com os filhos dela.

Antes dessa, fiz uma aula com uma professora renomada na cidade, bem antiga, que era bastante severa e usava bater com a régua nos alunos, apontava os lápis e espetava os alunos que não mantivessem os pulsos retos. Tive apenas uma aula e pedi a meus pais que me tirassem de lá. Eu ainda não tinha o piano para estudar.

Quando fui estudar com a vizinha, ela conscientizou meu pai da importância de ter um piano em casa para estudo. E ele então adquiriu o instrumento. Não sei como a outra professora não conversou com ele a respeito. Antes, eu estudava duas vezes por semana por meia hora no piano que as freiras do Colégio emprestavam. Faltavam as ‘ tampinhas’ das teclas , tinha cola endurecida, machucava os dedos e o tempo que eu tinha para estudar era insuficiente.

Logo depois, a professora particular me transferiu para o Conservatório espírita onde ela foi dar aulas. E este conservatório se transformou em Escola Técnica , onde me formei em piano e depois em Suprimento também em piano . Após minha primeira formatura, me convidaram para dar aulas lá.

Meu pai faleceu no último ano de meu curso de piano e eu quis largar os estudos pois o luto em minha casa não permitia soar um piano. Mas o Conservatório me cedeu uma sala durante os últimos 3 meses do ano  para que eu estudasse a música de formatura que recebi no dia 18 de Setembro e teria que tocá-la impecavelmente no dia 18 de Dezembro.

Em casa, meu pai se sentava na sala na ‘ cadeira do papai ‘ logo após o almoço e tirava seu cochilo de 15 minutos , enquanto eu me sentava ao piano e estudava as técnicas. Minha mãe chamava minha atenção para que o deixasse descansar e ele respondia que descansava ouvindo o som do piano mais do que no silêncio.

Quando ganhei o piano, aos 13 anos e meio, quis tirar todo o atraso e estudar o quanto pudesse. Lembro-me que tive o privilégio de receber a partitura do Tico-Tico no Fubá para estudar e me dediquei com afinco como quem recebe uma prancha em alto mar para não se afogar e chegar até à praia.

Vendo esta minha sede por tocar, estudando muito, descobrindo sozinha as formas de fazer as músicas soarem melhor trabalhando a técnica, a nova professora começou a me dar partituras cada vez mais trabalhosas e vistosas. Meu pai se orgulhava, pois era cumprimentado a cada final de audição de piano.

O baque de sua morte transformou minha vida. Fiquei um ano perdida, foi tão intensa a perda e o choque que não consigo me lembrar daquele ano, parece que nem existiu, embora fosse o ano da minha formatura de piano.

Com 18 anos, prestes a prestar vestibular para Psicologia, abandonei o cursinho e fiquei somente com o piano. Estava dispendioso para minha mãe manter os dois. Eu tinha alunos particulares de piano mas cobrava pouco, não dava para manter os cursos. E além disso tanto para um quanto para outro tinha que estudar muito. Formatura e vestibular.

Chegou o dia da formatura, me sentei ao piano , a plateia e a mesa que compunha a formalidade do evento, silenciaram de tal forma que parecia não ter ninguém no auditório completamente lotado. Parece que esperavam pelo momento em que eu iria parar de tocar e começar a chorar de saudade do meu pai que tinha falecido há alguns meses. Mas consegui ir até o final, de cor, sem erros, fui aplaudida de pé e neste momento o diretor financeiro da Fundação me ofereceu uma bolsa de estudos por 2 anos pago pela Instituição para me aperfeiçoar na Alemanha. Recusei. Não conseguia dar um passo além. Então me ofereceram um curso em Curitiba por 1 mês como prêmio pelo curso. Fui, mas chegando lá era um pensionato de freiras que apagava as luzes às 21 horas e eu sozinha nas férias naquele quarto com 10 camas, não conseguia dormir. Fui ao curso e não conseguia me concentrar, pensando no meu pai , em minha mãe sozinha com uma filha de 12 anos e uma porção de incumbências. Voltei chorando e abandonei o curso.

De volta, o ano escolar se iniciava em Fevereiro, tinha 18 alunos em casa e o Conservatório me convidou para dar aulas na Instituição levando meus alunos para lá. Então os que se dispuseram a se matricular foram. Os outros continuaram como alunos particulares.

E assim, iniciei a vida profissional oficialmente registrada numa Fundação de renome, que me acolheu de braços abertos.


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