Migração para apps: mais acidente, trânsito e poluição, diz associação

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 29 de setembro de 2019 às 12:29
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:52
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Previsão é da Associação Nacional de Transportes Públicos, com base em SP e BH. Uber contesta estudo

Aumento de emissão de gases causadores do efeito estufa, de congestionamento e de acidentes são os efeitos estimados da eventual migração de passageiros do sistema de ônibus para os carros de aplicativos.

Essa projeção faz parte do relatório da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), divulgado nesta semana.

A oferta de veículos por aplicativo surgiu por volta de 2014 no Brasil. 

Inicialmente, sem nenhuma regulamentação – uma lei federal, no entanto, obriga as cidades a regulamentar o serviço, mas o tema não está inteiramente pacificado. Cidades como São Paulo, por sua vez, criaram regras específicas, regularizando a atividade.

Neste caso, estão entre as normas de idade máxima para carros, licenciamento de placa oriunda do município, curso de treinamento de condutores, compartilhamento de dados e identificação da empresa nos veículos.

Com o novo serviço, o transporte público, diz a entidade, perde cada vez mais passageiros. 

De acordo com dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), entre 2013 e 2017, a taxa de pagantes no sistema de ônibus no país caiu 25,9%. 

Essa perda está relacionada, segundo a entidade, ao reflexo das condições econômicas e à busca por diferentes formas de deslocamento, entre outros fatores.

Para entender melhor o contexto, a Associação coletou dados de cidades como Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP). 

As informações são resultado de três cenários hipotéticos: migração para aplicativos em taxas de 10%, 20% e 30% da demanda. 

Dessa forma, a entidade prevê aumento da poluição, trânsito e acidentes, bem como efeito negativo na arrecadação e aumento do custo dos serviços.

O aumento dos quilômetros rodados por carros, de 19% a 57%, provocaria maior emissão de poluentes, elevando a taxa entre 11,9% e 43,2%. 

Cresceria, também, a emissão de gases causadores do efeito estufa, que ficaria entre 21,3% a 77,5%. 

A taxa de acidentes com vítimas pode subir de 2,8% a 8,4%. E, com o aumento do trânsito, cresceria o custo operacional das empresas de ônibus: 10,9% a 32,9%.

A análise dos impactos esperados dessa migração pode ser separada em dois grupos: sociedade e sistema de ônibus. 

O primeiro tendo resultado como consumo de energia, emissão de poluentes e acidentes de trânsito. 

O segundo, por sua vez, em redução de arrecadação e aumento de custos. Com a suposta queda do número de passageiros de ônibus, a receita também cairia.

Segundo a Associação, seria necessário, para balancear os caixas, aumento nas tarifas ou dos subsídios vindos da prefeitura municipal. 

“Se este custo ficasse apenas para o passageiro, a passagem sofreria um aumento de 31% a 141%”, prevê a entidade, considerando os três cenários avaliados (10%, 20% e 30%).

A Uber informou em nota que o desafio da mobilidade urbana exige uma gama cada vez maior de opções de deslocamento à disposição das pessoas, com soluções compartilhadas entre vários modais.

“Diversas pesquisas realizadas pelas principais universidades e centros de pesquisa do mundo vêm demonstrando que a Uber não compete com o transporte público. 

“Ela complementa e incentiva o uso da rede ao facilitar o acesso das pessoas às linhas de ônibus, metrô e trens, seja usando o app para ir de casa à estação, seja para ir do último ponto até a porta de casa”, escreve.

Em seguida, a empresa cita diversas pesquisas que indicam a utilidade do serviço: alimentador da rede pública, “tanto que entre as viagens com início ou fim nas estações do metrô paulista, por exemplo, as mais frequentes são nas ‘pontas’ de linhas, como as estações Barra Funda (linha 2-Vermelha) ou Tucuruvi (linha 1-Azul) – o usuário usa o app no trecho em que os trilhos não chegam”.

Em relação ao estudo, disse que não teve acesso à metodologia, portanto, “não é possível saber qual a frequência da suposta substituição do transporte público por aplicativos, se rotineira ou eventual, como é observado que a maior parte dos usuários utiliza o sistema”. 

Argumenta que a “cidade de São Paulo, por exemplo, teve seus índices de lentidão caindo seguidamente nos últimos três anos, mesmo período em que viu o serviço dos aplicativos crescer de forma significativa”.


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