Mesmo em meio à crise, profissão de professor resiste bravamente no país

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  • Publicado em 14 de outubro de 2019 às 22:59
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:55
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Em Franca são mais de 2 mil profissionais em sala de aula levando o ofício de ensinar e formar gerações

Neste dia 15 de outubro, celebra-se o Dia do Professor (Foto: Reprodução)

Ensinar, orientar. São esses os pilares do magistério e do professor – a pessoa que escolheu guiar seus alunos pelo mundo do conhecimento. O professor é a primeira das profissões. Todas as outras especialidades e habilidades técnicas só podem existir quando há professores ensinando-as aos seus discípulos. Isto é, atrás de cada advogado, médico, engenheiro ou artesão, atrás de cada comerciante, industriário, policial ou artista, está um professor conduzindo-os.

Por isso, em meio a tantas crises na educação do país, a profissão resiste bravamente. Em Franca são mais de 2 mil profissionais em atuação nas salas de aula – sejam elas municipais, estaduais, particulares, de ensino técnico ou de ensino superior. E eles mostram no dia a dia, que não foi somente o perfil dos professores que mudou. As configurações familiares também se transformaram, como explica a psicopedagoga Lucíola Ferraiolo. Segundo ela, as crianças, atualmente, necessitam de um apoio familiar sólido. No entanto, muitos pais procuram remediar isso com as atividades escolares. “As crianças, de um modo geral, são muito largadas. Não é querer culpar ninguém, porque os pais têm de trabalhar. Mas acaba que o referencial passa a ser quase que exclusivamente o professor”, revela.

Só que a demanda dos responsáveis por uma instituição que resolva as questões de seus filhos, que não podem ser contornadas por eles no dia-a-dia, esbarra na dificuldade, cada vez maior, dos professores de se afirmarem como autoridades dentro da sala de aula. E é este um dos grandes desafios da educação nos dias de hoje, uma vez que os conceitos de autoridade e autoritarismo estão bastante confusos – tanto para as crianças quanto para os pais. “Os pais modernos acham que ter diálogo com os filhos é tratar de igual para igual. As crianças perdem o parâmetro. A autoridade faz falta”, avalia Lucíola.

Maíra Pontes Corrêa é professora de línguas inglesa e portuguesa há 12 anos (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Se por um lado a omissão dos pais causa distorções na relação dos mestres com seus alunos, a intromissão excessiva dos responsáveis nas questões pedagógicas e acadêmicas também é motivo de dor de cabeça para os professores. “Antes, as mães eram donas de casa. Hoje em dia, elas têm formação, muitas até mestrado e doutorado. Todo mudo acha que pode dar palpite em educação e o que é uma coisa natural. Às vezes, os palpites procedem, mas na maioria das vezes não”, afirma Lucíola Ferraiolo.

Entretanto, a psicopedagoga observa que o professor não deve se colocar como dono da verdade dentro da sala de aula, numa postura já ultrapassada de detentor do saber. “Atualmente, o conhecimento está muito mais focado na pergunta do que na resposta. O professor deve ser aquele que costura as informações interessantes que o aluno traz. Tem de ser um mediador e o que permeia esta relação é a afetividade”, pondera Lucíola.

As alegrias e dificuldades

De fato, sabe-se que o professor já foi mais reconhecido socialmente do que é hoje. “Infelizmente, não vemos uma cultura de respeito na escola, tanto de alunos como de pais”, relata Maíra Pontes Corrêa, 34 anos, professora de línguas inglesa e portuguesa, que deixa claro que isso não é generalizado, mas é recorrente.

Maíra tem 12 anos de experiência docente e atualmente dedica-se ao doutorado em Lingüística e Língua Portuguesa. Ela escolheu essa profissão pelo gosto de estudar. “Resolvi cursar Letras e descobri que a atividade docente é apaixonante”, conta Maíra, que acrescenta: “Depois de dar aulas, não pensei mais em seguir outra carreira”.

De acordo com Maíra, o gosto pelo estudo e constante atualização dos conhecimentos são primordiais. Outro atrativo é a possibilidade de participar ativamente na vida das pessoas, em geral, de maneira positiva. “Acredito que geramos questionamentos significativos no modo de viver de cada um. O contato com os professores compõe parte da identidade pessoal e profissional de todos”, ressalta Maíra.

Aí está a grandeza desses profissionais: desempenhar uma das mais relevantes missões humanas sob as mais adversas condições sociais. Por isso, há de se concordar quando José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e falecido em 2010, dizia que os professores “são os heróis do nosso tempo”.


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