Lembrar menos, viver mais: por que esquecer é crucial para a memória duradoura

  • Nina Ribeiro
  • Publicado em 20 de junho de 2024 às 21:00
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Pesquisa da Unesp explica como o esquecimento auxilia o cérebro na renovação de memórias e na preservação da saúde mental

O esquecimento é essencial para a saúde da memória – foto Arquivo

 

A perda de memória é uma queixa frequente entre os idosos, variando de 8% a 50% conforme os estudos.

Esse problema está frequentemente associado a fatores como depressão, ansiedade, baixa escolaridade e síndromes demenciais.

No entanto, a perda de memória não se limita apenas ao envelhecimento natural, mas também ao impacto de emoções e condições de saúde mental.

O Que é Memória?

Para a maioria das pessoas, memória é a capacidade do cérebro de armazenar e resgatar informações. O professor Ivan Izquierdo, uma referência no estudo da memória no Brasil, define memória como a “aquisição, conservação e evocação de informações”.

Quando ocorre um esquecimento — tecnicamente chamado de amnésia —, há uma falha na evocação dessas informações, que pode ser permanente e progressiva em casos de síndromes demenciais, ou transitória, causada por estresse, substâncias ou lesões cerebrais.

A Importância da Memória e do Esquecimento

A percepção de falhas de memória é especialmente dramática para os idosos, afetando não só sua qualidade de vida, mas também sua identidade e suas relações.

Eric Kandel, neurocientista, reforça essa ideia, indicando que a perda de memória conduz à perda do sentimento de si, da história de vida e das interações duradouras.

Para entender as falhas de memória, devemos considerar:

1. Estados emocionais influenciam a formação de memórias.
2. Memória é um termo genérico com diferentes sistemas.
3. A consolidação da memória requer mudanças na estrutura e função cerebral.

Memória e Emoção

Memórias carregadas de emoções fortes, sejam positivas ou negativas, tendem a ser mais duradouras. Estruturas como a amígdala e redes neurais como o sistema de recompensa desempenham papéis cruciais nesse processo.

Fatores emocionais como depressão e ansiedade afetam a memória em todas as suas fases — aquisição, consolidação e recuperação. Estes transtornos são comuns entre os idosos, exacerbando os problemas de memória.

Sistemas de Memória

Nem todas as experiências são memorizadas, e isso é normal. Por exemplo, você provavelmente não lembra o que comeu em 5 de junho de 2023, a menos que tenha sido um evento especial. Esse tipo de esquecimento é saudável, evitando sobrecarga de informações irrelevantes.

Existem memórias de curta e longa duração. Memórias de curta duração armazenam informações temporárias, enquanto memórias de longa duração podem durar a vida inteira. Essas memórias são classificadas em:

– Não-declarativas: Automáticas, como andar de bicicleta.
– Declarativas: Podem ser autobiográficas (pessoais) ou semânticas (conhecimentos).

Arquitetura Cerebral da Memória

A formação de memórias novas e a recuperação de memórias antigas ocorrem em diferentes regiões do cérebro.

Estruturas hipocampais são essenciais para a formação de novas memórias, enquanto o córtex pré-frontal está relacionado à evocação de memórias.

Com o envelhecimento, há uma diminuição da densidade neural nessas áreas, mas isso não significa necessariamente um declínio cognitivo.

O cérebro possui uma capacidade chamada plasticidade neural, que permite adaptação e reorganização.

Plasticidade Neural e Envelhecimento

A capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar pode ser estimulada pelo aprendizado contínuo. Aprender coisas novas modifica a estrutura cerebral, demonstrando que a memória não é estática.

Podemos definir memória como a capacidade de alterar o comportamento com base em experiências passadas. Assim, memória é dinâmica e se altera ao longo da vida.

O Papel Saudável do Esquecimento

Os déficits de memória não são apenas a dificuldade de recordar fatos passados, mas também a habilidade de construir novas memórias e reconstruir as antigas.

O esquecimento é essencial para a saúde da memória, permitindo que o cérebro elimine informações desnecessárias.

A condição de “não esquecer nada” é uma doença rara chamada Hipertimesia, ou Síndrome da Supermemória, onde a capacidade de lembrar tudo é considerada patológica.

Portanto, tanto lembrar quanto esquecer são cruciais para nossa identidade e bem-estar. Como disse Ivan Izquierdo, nossa identidade é formada não apenas pelas memórias que mantemos, mas também pelas que esquecemos.

Em condições normais, somos responsáveis tanto pela construção quanto pela manutenção de nossa memória, onde o esquecimento desempenha um papel fundamental.

*Informações CNN


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