Juro do parcelado de loja é quase o dobro que de banco; taxa chega a 366%

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  • Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 11:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:20
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De 8 financeiras ou bancos ligados ao varejo, 7 cobram mais do que as 5 maiores instituições financeiras

Três em cada 10 brasileiros ainda fazem compras com carnês de lojas (Foto: Agora São Paulo/Reprodução)

Aquela blusinha inocente pode sair muito mais cara do que você imagina.

Que hoje a maioria das grandes redes varejistas é dona de instituições financeiras e oferece cartões de crédito de bandeira própria, com parcelamentos a perder de vista, quase todo mundo já sabe.

O que pouco se fala é que as taxas de juros cobradas por essas lojas no cartão parcelado são as mais altas do mercado, chegando em alguns casos a serem quase o dobro das praticadas pelos bancões.

Segundo dados do Banco Central pesquisados, de oito financeiras ou bancos ligados ao varejo, sete cobram mais do que as cinco maiores instituições financeiras, que já praticam juros bastante altos, no cartão parcelado.

Esses números, referentes a taxas de juros efetivamente praticadas no mercado no período entre 16 e 22 de janeiro, mostram que as varejistas “campeãs” de juros altos chegam a praticar, no cartão parcelado, taxas de 366% ao ano, maiores até do que as do cartão rotativo.

O rotativo, modalidade em que o cliente paga somente um valor mínimo da parcela do cartão de crédito e vai rolando o resto da dívida, é o empréstimo mais caro do Brasil, com uma taxa média de 339% ao ano em dezembro. 

“Em geral, as pessoas usam o cartão das redes de varejo porque permitem parcelamentos mais longos. Mas é preciso ter todo cuidado, tanto com o nível das taxas praticadas quanto com o fato de que muita gente tem vários cartões e acaba se endividando”, afirma a planejadora financeira Malu Sprícigo, da consultoria Par Mais.

Quais as maiores taxas cobradas pelas grandes redes de varejo? A campeã de juros altos é a financeira Realize, responsável pelos cartões da Renner.

Segundo o número do BC, que divulga semanalmente uma tabela com os juros efetivamente cobrados em diferentes modalidades de crédito, a taxa cobrada no cartão de crédito parcelado é de 13,7% ao mês, ou 366% ao ano.

Em seguida, aparecem a Pernambucanas, com 12,28% ao mês (301% ao ano), a Midway, da Riachuelo, com 11,85% ao mês (283% ao ano) e o Banco CSF, do Carrefour, com 10,56% ao mês (233% ao ano).

Entre os bancos, a taxa praticada no cartão parcelado varia entre 7,29% ao mês (132% ao ano), caso do Banco do Brasil, que teve a melhor taxa no período pesquisado, a 8,04% ao mês (ou 152% ao ano), caso do Bradesco, que é o banco de grande porte com os maiores juros.

Veja abaixo a tabela completa.

Você pode me dar um exemplo de como isso pode afetar o preço final que eu pagarei em uma compra? Vamos lá. Imagine que você parcelou R$ 500 em compras em 18 vezes.

Se você paga uma taxa de 13,7% ao mês, que é a praticada pelo cartão parcelado da Renner, pagará R$ 1.368,72 após quitar toda a fatura.

Se paga uma taxa menor, de 7,29% ao mês, por exemplo, que é a praticada pelo Banco do Brasil, pagará R$ 913,50 no final do processo. Ou seja, uma diferença de R$ 455,22.

Mas as varejistas não parcelam em muitas vezes sem juros? Em geral, os parcelamentos sem juros no cartão são limitados a um número específico de parcelas.

Se o prazo é um pouco mais longo, acima de determinado número de meses, os juros do cartão parcelado incidem, na maioria dos casos, sobre todo o período de financiamento.

Como são os juros das varejistas no cartão rotativo? As taxas cobradas quando o consumidor não paga o valor mínimo estipulado da parcela também são mais elevadas do que os dos bancos.

O cartão rotativo regular da Pernambucanas, por exemplo, é de 17% ao mês (558% ao ano), e da Sax, da Marisa, de 16% ao mês (495% ao ano).

Para comparação, o rotativo do Bradesco custa 13,09% ao mês, ou 337% ao ano.

Parcelar no cartão do banco é melhor, então? Os juros do cartão parcelado dos bancos, apesar de menores do que os praticados pelas varejistas, ainda são muito elevados.

Especialistas em planejamento financeiro afirmam que o melhor caminho, se você tem dinheiro disponível, é quitar as compras à vista, barganhando um desconto.

O que dizem as varejistas? 

Procurada, a Renner informou, através de sua assessoria de comunicação, que não comentaria os dados do Banco Central pois sua financeira, a Realize, está em período de silêncio por causa da divulgação do resultado do quarto trimestre.

O Carrefour afirmou que que sua taxa está “em linha com o que é aplicado pelo mercado de varejo”.

“A empresa ressalta ainda que tem como política estimular que seus clientes optem por programas de parcelamento sem juros, amplamente divulgados em suas lojas e demais canais de comunicação, e não incentiva que o consumidor escolha pelo pagamento de valores inferiores ao total da fatura”.

A Marisa declarou que 80% dos financiamentos realizados em pagamentos das compras via cartão de crédito nas suas lojas são feitos em 5 parcelas, com taxa zero de juros.

“Os demais 20% do volume de clientes opta pela alternativa de pagamento em 8 parcelas, com taxa de juros de 7,90% ao mês. O valor atribuído na tabela divulgada pelo Banco Central é superior pois inclui uma taxa de juros cobrada em casos de registro de atraso no pagamento, que entra no rotativo do cartão”, disse a rede através de nota divulgada por sua assessoria de imprensa.

A reportagem procurou outras redes varejistas citadas, como a Riachuelo (Midway) e a Pernambucanas, mas essas empresas não comentaram os dados do BC.

*6Minutos


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