Jovem vende brigadeiro para pagar estudos e leva vaga em Medicina

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 18:20
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:19
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Lucas Carvalho, 17 anos, usava o dinheiro com venda de doces para comprar livros e se dedicar aos estudos

Sonhar alto dá trabalho, mas também pode dar resultado. E dos bons. 

Esse é o caso de Lucas Carvalho, de 17 anos, estudante de escola pública que conquistou uma vaga na Medicina da Universidade de Brasília (UNB).

Morador da favela do Sol Nascente, em Brasília, Lucas vem de uma família cujo pai é analfabeto e a mãe estudou apenas até a quarta série.

Mas o sonho de ser médico venceu qualquer tipo de dificuldade que Lucas passou – inclusive o preconceito dos colegas. 

“Cheguei a ouvir no cursinho que eu não ia conseguir, que era negro, que racismo no Brasil não existe, que Medicina é coisa de rico, que não daria para entrar nesse curso na UNB. 

“Mas não deixei nada disso me abalar. Pensei: já fiz tanta coisa difícil, por que não isso?”

O sonho de virar médico começou depois que Lucas ficou internado por 5 dias, em 2016, após quebrar o braço e precisar de uma cirurgia. 

Ali, no hospital, Lucas encantou-se com o ambiente e os procedimentos. Mas, principalmente, o agradou a possibilidade de ajudar outras pessoas. 

“Foi ali que me apaixonei pela Medicina, pela oportunidade de ajudar aqueles que são iguais a mim”, diz ele.

Brigadeiro para pagar os estudos

Então, começou a pesquisar tudo sobre o curso, qual especialidade seguiria e o tamanho dos obstáculos que teria de enfrentar. 

Sua mãe, que trabalha como diarista, o apoiou desde o início e passou a trabalhar dobrado para ajudar o filho com os estudos. 

Porém, acabou ficando doente, com diabetes, e foi aí que Lucas decidiu se esforçar ainda mais para seguir seus planos. 

Decidiu vender brigadeiro na porta da escola para ajudar nos gastos da casa e custear os estudos, principalmente os livros.

“Meu maior medo no início era não dar certo. Tinha medo de arrastar minha mãe, minha família, meus amigos e minha igreja para uma ilusão”, conta o estudante. 

Mas, Lucas deixou o medo de lado e, como se diz nas muitas mensagens motivacionais que vemos na internet hoje em dia, foi “com medo mesmo”.

O estudante pesquisou receitas e aprendeu a fazer o doce, que vendia a R$ 1,50. Também fazia trabalhos como músico. Chegava a estudar 15 horas por dia, entre o período do cursinho e as leituras em casa. 

Aos poucos, tornou-se conhecido pelos brigadeiros e começou a fornecer também para festas e a pegar encomendas maiores. Só parou um pouco a produção no fim do semestre passado, para focar totalmente no vestibular. 

O esforço deu certo: com o nome na lista dos aprovados, vibrou e contou logo para a mãe. “Quase que eu tive que ser médico ali mesmo, de tão emocionada que ela ficou”, brinca ele. 

O pai, divorciado da mãe, viu a notícia pela TV e foi logo procurar o filho, orgulhoso.

As aulas começam no dia 9 de março, mas Lucas pretende continuar fazendo os doces para vender também na universidade. “Meus veteranos precisam conhecer o brigadeiro, claro”, afirma.

Ansioso para o início das aulas, Lucas dá um recado para aqueles que dividem o sonho de ingressar um dia na universidade pública. 

“Eu quero dizer que a gente já começa a vencer quando nós mesmos acreditamos nos nossos sonhos. Muita gente não achava que eu conseguiria. 

“Mas eu acreditava, minha mãe também. A persistência, o foco, a determinação e a motivação vão determinar onde você vai chegar”.


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