Home office deve acelerar desigualdade entre trabalhadores no Brasil

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 8 de agosto de 2020 às 11:33
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:04
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Tendência é que o espaço para os menos qualificados no mercado formal fique mais estreito.

A adoção definitiva de home office após a pandemia deve acelerar mudanças estruturais no mercado de trabalho, com potencial para aprofundar as desigualdades entre trabalhadores mais escolarizados e aqueles com menor qualificação.

Para especialistas, o tema tem que ganhar espaço no debate para a discussão de medidas de apoio ao contingente que tende a ter mais dificuldade de se recolocar.

Dados sobre o desemprego divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na quinta-feira (6) já sinalizam que o teletrabalho dá maior proteção aos trabalhadores mais qualificados do que àqueles que dependem do movimento nas ruas.

Mesmo com o aumento do desemprego e o fechamento recorde de vagas no segundo trimestre, o rendimento médio do trabalhador subiu 4,6% em relação ao trimestre anterior, para R$ 2.500, indicando que o corte foi mais intenso entre os que ganham menos.

Neste momento, o problema tem forte influência da restrição à circulação. No segundo trimestre, o primeiro em que a pesquisa do IBGE captou três meses completos de pandemia, a taxa de informalidade da economia atingiu o menor patamar desde o início da série histórica, em 2012.

Mas, com a perspectiva de que as empresas passem a adotar o teletrabalho de forma permanente, a tendência é que o espaço para os menos qualificados no mercado formal fique mais estreito.

Pesquisa do FGV-Ibre mostrou que mais da metade das empresas pretende incorporar mudanças adotadas na pandemia. Dos entrevistados, 83% adotaram home office para áreas administrativas.

A Petrobras quer manter 50% do pessoal administrativo em teletrabalho por ao menos três dias por semana e reduzir de 17 para 8 o número de prédios que ocupa.

Estrutura menor demandará menos pessoal para segurança, manutenção ou limpeza. A queda na demanda por esse tipo de serviço já foi sentida também pelo IBGE: em maio, as atividades de limpeza de prédios e agenciamento de mão de obra estiveram entre as que impulsionaram o tombo do setor de serviços.

O grande desafio é fazer com que essa tecnologia não abrace somente o emprego altamente qualificado, mas consiga abranger também a parte de baixo da pirâmide.”

Aplicativos que permitem a venda do trabalho diretamente ao consumidor final, como os de transporte, já cumprem papel de alternativa para absorver a mão de obra que está à margem do avanço tecnológico.

Mas esses serviços ainda deixam lacunas em relação a temas como segurança do emprego ou a situação previdenciária do trabalhador – com o corte de vagas no segundo trimestre, o número de pessoas que contribuíram para a Previdência chegou perto do mínimo histórico, registrado quando a pesquisa começou a ser feita.


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