Grãos da Alta Mogiana atraem mercado de cafés especiais em Franca

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 10:27
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:23
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Região de Ribeirão Corrente, Cristais Paulista e Patrocínio Paulista produz grãos de alta qualidade

Ana Cláudia Ferreira de
Oliveira era enfermeira em São Paulo quando há sete anos decidiu se mudar para
Franca para se dedicar a uma paixão antiga. Foi assim que a empresária de 38
anos abriu uma cafeteria com o objetivo de difundir uma cultura até então pouco
difundida de consumo de cafés especiais.

Com grãos selecionados de um produtor com fazendas em
Ribeirão Corrente, Patrocínio Paulista e Cristais Paulista, na chamada região
da Alta Mogiana, ela oferece aos clientes diferentes experiências de
degustação, ao preço de R$ 5,50 a R$ 16,90 por xícara, a depender do método
utilizado, de expresso e coador a prensa
francesa e sifão.

Por
vislumbrarem na bebida uma forma de estimular o turismo da cidade, ela e outros
oito empresários há um ano fundaram com a Associação do Comércio e Indústria de
Franca (ACIF) um núcleo que incentiva o turismo em torno dos
estabelecimentos que servem cafés especiais.

Um
mercado que, segundo uma pesquisa do grupo ligado à ACIF, tem muito ainda
a ser explorado. A sondagem apontou que 87,2% dos consumidores de Franca tomam
café, 75% deles mais de uma vez por dia, mas apenas 10,6% o fazem em
cafeterias, com um gasto médio individual de R$ 20,00.

Em âmbito nacional, onde
estima-se que em torno de 30% da produção é voltada para esse segmento, o
consumo de cafés especiais movimentou em 2018 em torno de R$ 2,6 bilhões, com
um crescimento de 23%, o que pode chegar a R$ 4,7 bilhões em 2021, segundo
projeções da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).

Uma demanda que segue uma tendência parecida com a
procura por cervejas artesanais e vinhos, afirma Gabriel Borges da Silva,
gestor da Alta Mogiana Specialty Coffee (AMSC), entidade fundada há 14 anos com
a finalidade de promover os cafés especiais produzidos na região. “O café
commodity é como se fosse como um outro grão, você tem uma padronização. Café
especial não. Ele tem nuances diferentes de sabores”, diz. 

Cafés da Alta Mogiana

Segundo a AMSC, a Alta Mogiana responde hoje por 50% da
produção de café no Estado de São Paulo.

Tida como uma das principais
produtoras de grãos especiais do país, ao lado do Cerrado Mineiro, Sul de Minas
e Sul do Espírito Santo, a área abrange 23 municípios – 15 paulistas, entre os
quais Altinópolis, Batatais, e Pedregulho, e oito mineiros, tais como Claraval,
Ibiraci e São Sebastião do Paraíso – e atrai compradores estrangeiros,
principalmente do Japão.

O
que os japoneses já conhecem e os brasileiros têm buscado cada vez mais é uma
qualidade que pode surpreender os paladares mais exigentes. Encorpado, com
acidez média e notas que vão de pêssego a chocolate, o café da Alta Mogiana já
foi listado entre os dez melhores do país por dois anos consecutivos na Cup
of Excelence Brazil,
um dos principais concursos de qualidade para café do mundo.

Essa complexidade é facilitada
por condições geoclimáticas, como as altitudes acima dos 800 metros dos
municípios e a terra roxa repleta de nutrientes, mas somente obtida por
produtores cuidadosos e atentos, do plantio à secagem, da colheita à torrefação.

O trabalho resulta em um
produto mais caro – o quilo pode chegar a R$ 200 na região -, mas cada vez mais
consumido. “Às vezes, o produtor está produzindo um café especial e não
sabe. O segundo passo é ele começar a segmentar a produção”, afirma o gestor
da AMSC.

Segundo a BSCA, com base em um
estudo da Euromonitor, os brasileiros beberam em 2018 o equivalente a 705 mil
sacas de cafés especiais, o que representa apenas 3% do total do país, mas que
já é 19,1% superior na comparação com 2017.

Até 2021, a entidade projeta
um crescimento anual de 15,7%, com um consumo esperado de mais de 1 milhão de
sacas. “Até 2010 a gente não tinha 30 produtores associados. Depois desse
período a gente triplicou esse número de produtores que têm interesse em cafés
especiais, porque o mercado está demandando cada vez mais”, diz Silva. 

Mercado em potencial

Em Franca, os empresários perceberam a abertura do mercado e
começaram a articular as primeiras ações de marketing. A primeira delas foi o
lançamento de um cartão “infidelidade”, em os consumidores ganham um
voucher de R$ 30,00 se visitarem todas as nove cafeterias associadas.

O
trabalho, que também passa por melhorias em práticas de gestão, deve ser
estendido para outras datas do comércio como Dia das Mães, Dos dos Namorados e
Dia dos Pais.

Segundo Ana Cláudia, a
iniciativa tem se apresentado eficaz, com um faturamento 5% superior em
janeiro, quando quase 800 clientes visitaram sua cafeteria. “A gente vem
de um ano muito difícil, 2018 foi muito difícil pra todo mundo. Quando o grupo
se uniu, a gente percebeu que todo mundo estava com dificuldade de faturamento
e fez algumas atividades pra tentar melhorar. Surtiu efeito, mas acho que é uma
caminhada longa”, afirma.

Para ela, cativar o consumidor
local é a prioridade inicial. “O primeiro passo vai ser atrair esses
clientes para a degustação. Não aquele cliente que está acostumado, mas aquele
que quer conhecer, que quer entender um pouco mais, para mostrar a ele o que é
café especial.”

O gestor
da AMSC, que tem se envolvido em treinamentos com o núcleo de Franca, imagina,
no futuro, um turismo envolvendo também as fazendas da região.

Hoje,
são pelo menos 90 – de um total de 2,5 mil propriedades associadas à
Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec) – produzindo grãos
especiais. “Tem muito a ser trabalhado aqui na região, principalmente o
turismo rural, que não é só ir à cafeteria, mas visitar uma fazenda produtora,
conhecer o processo e tomar um café especial.”


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