Gene ‘sabota’ eficácia de pílula anticoncepcional em 5% das mulheres

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 13 de março de 2019 às 19:15
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:26
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Quem tem esse traço genético pode engravidar mesmo fazendo uso do método, constatam cientistas

Mesmo fazendo uso de
métodos anticoncepcionais, algumas mulheres podem engravidar porque o próprio
DNA delas “sabota” o controle de natalidade.

Pela primeira vez, um
estudo científico conseguiu constatar que uma em cada 20 mulheres carregam um
gene que impede a eficácia completa de contraceptivos hormonais.

A pesquisa foi realizada
na Escola de Medicina da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, e
publicada na revista Obstetrics and Gynecology.

Os autores destacaram que tal achado
poderia ajudar a abordar preconceitos de profissionais de saúde e da população
em geral. Afinal, muitas pessoas supõem que mulheres que tomam anticoncepcional
e engravidaram simplesmente não usaram o método corretamente. “Quando uma
mulher diz que engravidou durante o controle de natalidade, a suposição sempre
foi de que, de alguma forma, foi culpa dela” diz Aaron Lazorwitz, principal
autor do estudo. “Essas descobertas mostram que devemos ouvir nossas pacientes
e considerar se há algo em seus genes que causou isso”.

Como foi feita a pesquisa

Aaron Lazorwitz e seus
colegas estudaram o DNA de 350 mulheres que usavam um implante contraceptivo
que consiste em uma pequena haste de plástico colocada sob a pele do braço.
Essa haste libera hormônio progestagênio para evitar que elas ovulem.

Os pesquisadores utilizaram o
sequenciamento genético das participantes da pesquisa para examinar seções do
DNA conhecidas por estarem envolvidas na regulação hormonal.

Eles descobriram que cerca de 5% das
participantes tinham uma forma diferenciada do gene CYP3A7*1C. Normalmente, ele
se ativa apenas quando a pessoa ainda está no útero, mas se desliga pouco antes
de ela nascer.

No entanto, mulheres com a forma ativa
do gene continuam a produzir uma enzima CYP3A7 para o resto da vida. “Essa
enzima quebra os hormônios de controle da natalidade e pode colocar as mulheres
em um risco maior de gravidez durante o uso de contraceptivos, especialmente os
métodos com doses mais baixas”, afirma Lazorwitz. “Essas descobertas marcam a
primeira vez que uma variante genética é associada ao controle da natalidade”.

Com milhões de mulheres usando alguma
forma de contracepção hormonal e cerca de uma em cada 20 potencialmente
carregando esse traço genético, mesmo um pequeno risco aumentado pode ter
grande impacto.

Isso pode ser importante para os
médicos, bem como para os pesquisadores que trabalham em novos tratamentos para
o controle da natalidade. Segundo os autores da pesquisa, esse achado pode
ajudar mais mulheres a evitar os impactos emocionais e financeiros decorrentes
de uma gravidez não planejada.

Outros pesquisadores

No entanto, cientistas independentes,
não envolvidos no estudo, disseram que essa descoberta não deve afastar as
mulheres da contracepção hormonal.

A professora Sharon Cameron, codiretora
da Unidade de Eficácia Clínica da Faculdade de Saúde Sexual e Reprodutiva,
disse que uma em cada mil mulheres com um implante de progestágeno engravidará
ao longo de três anos. “Embora a composição genética possa
ter um impacto sobre o quão bem a contracepção pode funcionar para algumas
mulheres, este é apenas um estudo e é muito cedo para dizer se uma tecnologia
relacionada a isso será útil no futuro”, acrescentou. “Ainda está longe de se tornar realidade
qualquer aplicação clínica dessa tecnologia. Por exemplo, um teste genético que
diria às mulheres se elas quebrariam os hormônios na contracepção em maior grau
do que outras mulheres, tornando a contracepção hormonal menos eficaz para elas”.


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