compartilhar no whatsapp
compartilhar no telegram
compartilhar no facebook
compartilhar no linkedin
Pesquisa realizada apontou elevada concentração de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no ar respirado pela população
Igreja matriz e praça principal de Batatais encobertas por fumaça vermelha das queimadas
As queimadas que atingem Franca e cidades da região podem trazer um risco ainda maior à saúde das pessoas do que os já conhecidos problemas pulmonares e cardíacos.
Pesquisa realizada em Ribeirão Preto apontou elevada concentração de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no ar respirado pela população da cidade. Esses compostos, resultantes das queimadas que acontecem na região, causam a morte de células e têm potencial cancerígeno.
O estudo foi realizado pela professora Maria Lúcia de Arruda Moura Campos e pela pesquisadora Caroline Sacaramboni, ambas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.
Segundo reportagem da revista IstoÉ, o estudo envolve a coleta e filtragem de material particulado do ar e a exposição de células de fígado às substâncias fixadas no extrato da filtragem.
Potencial de câncer
O resultado impressionou as pesquisadoras. Em 72 horas de exposição, houve a morte de parte das células. Em apenas 4 horas, já havia danos ao DNA, revelando o potencial de câncer.
A pesquisa, que vai compor a tese de doutorado de Caroline, mostra que a concentração desses hidrocarbonetos, uma classe de mais de cem substâncias químicas conhecidas pela sigla HPA, se torna muito elevada quando a cidade está imersa em uma nuvem de neblina e fumaça por causa das queimadas.
A pesquisadora fez as coletas em dois pontos da cidade – o campus da universidade e a região central – usando aspiradores com filtros. Em seguida, os filtros passaram por lavagem e o líquido foi processado para a análise das substâncias contidas no material particulado do ar.
O passo final foi a exposição das células aos hidrocarbonetos. Caroline utilizou células do fígado porque se trata do órgão em que os HPAs são metabolizados no organismo.
Estudo inédito
“Se tem dano no DNA, há potencial de câncer, mas ainda estamos estudando se esse dano é reparado depois”, disse. Trata-se de um estudo inédito e, após a apresentação da tese, a pesquisadora pretende reunir os dados para publicação, inclusive em revistas internacionais.
Maria Lúcia, especialista em química ambiental, lembra que os incêndios rurais queimam grande quantidade de biomassa, lançando no ar fuligem e partículas que fazem mal à saúde. “Estamos respirando um material particulado que vai para a nossa corrente sanguínea e não sabemos as consequências”, disse.
A fumaça das queimadas apresenta monóxido de carbono, que provoca sufocamento em quem o inala, e gases ácidos, como os óxidos de nitrogênio e enxofre, que provocam irritação das vias respiratórias.
Partículas finas
Segundo ela, o estudo está mostrando que as pessoas terão de se preocupar também com as partículas finas, quase indetectáveis, que a fumaça dos incêndios transporta para as casas das pessoas.
“Estamos fazendo um alerta, mostrando que os danos podem ser piores do que sabemos, por isso é preciso conscientizar a população e combater as queimadas”, disse.
Sem chuvas e com calor acima da média nas últimas semanas, o interior tem registrado também umidade relativa do ar muito abaixo dos 60% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).