Fechar a boca garante a perda de peso? Nem sempre. Entenda o motivo!

  • Dayse Cruz
  • Publicado em 29 de outubro de 2023 às 21:00
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Pesquisas ainda indicam que, quanto menos uma pessoa tenta comer, mais exposta à compulsão ela fica

Dietas restritivas não garantem a perda de peso – foto Freepik

 

Jejum intermitente, low carb, paleolítica, Dukan, sem glúten ou sem lactose são algumas das dietas associadas ao emagrecimento e que, às vésperas do verão, ganham ainda mais atenção nas redes sociais.

Todas têm um mesmo ponto em comum: a restrição de determinados tipos de alimentos.

Todas promovem uma redução drástica ou proibição de determinados itens. Você já tentou alguma delas e não conseguiu perder peso?

Segundo especialistas, uma das explicações para a falta de sucesso com cardápios recheados de proibições é que as pessoas não conseguem manter uma dieta restritiva a longo prazo, e a tendência é que, com a proibição de certos alimentos, tenham momentos de compulsão e comam até em quantidades maiores ao abandonar a dieta.

A restrição alimentar prolongada, de idas e vindas em dietas desse tipo, pode também podem gerar uma mudança metabólica (em relação a como o nosso corpo reage aos alimentos), fazendo com que seja mais difícil perder peso no futuro.

Por que é tão difícil manter uma dieta restritiva?

Biologicamente, para perder peso é preciso comer menos do que o corpo precisa para ter energia para vivermos.

É o chamado déficit calórico. Com isso, o organismo vai usar o que há de reserva e o resultado é a perda de peso.

O que os especialistas explicam é que a conta não é tão simples. Até é possível perder peso com esse tipo de dieta, mas há grande chance de recuperar o peso e até em mais volume do que se tinha antes.

Quando se priva o corpo da quantidade de energia que ele precisa, ele não volta a gastar a mesma quantidade de calorias para o seu metabolismo.

Essa é uma reação como uma forma de poupar energia, já que ele não sabe quando vai entrar de novo em restrição. Afinal, o corpo não sabe que se está de dieta.

Se não adianta fazer dieta, o que é possível fazer?

Abandonar o hábito da dieta, ainda mais nesta temporada do ano em que só se fala disso, pode não ser uma tarefa fácil. O que os especialistas dizem é que antes de buscar uma maneira de perder peso, é preciso se perguntar: por que preciso perder peso?

Se o desejo for para caber em uma roupa, ir à praia no verão, a um casamento ou formatura. Talvez, devesse se perguntar: o que há de errado com o seu corpo do dia a dia que não pode estar nesses lugares?

Então, se fazer dieta restritiva não adianta, qual a alternativa?

Pesquisadores e especialistas de nutrição têm usado novas abordagens que ajudam as pessoas a entenderem como a mente funciona sobre a alimentação para fazerem às pazes com a comida.

Já parou para pensar por que você come o que você come? Ou por que você almoça em determinado horário? Ou o porquê tem fome depois do jantar?

“Vivemos em uma sociedade ansiosa e cercada de dietas e cobranças sobre o corpo. Com isso, as pessoas ficam muito desconectadas de suas percepções internas”.

“O nosso trabalho é ajudar a pessoa a entender o porquê come como come e quais as percepções sobre a comida, diz Manoela Figueiredo, nutricionista especialista em transtornos da alimentação pela USP.

Algumas dessas técnicas são o mindful eating (comer com atenção plena) e o intuitive eating (comer intuitivo).

As técnicas existem desde os anos 90 e são aplicadas em centros médicos e hospitais pelo mundo no tratamento de pessoas com transtorno alimentar, obesidade e também em quem tem uma má relação com a comida.

Uma pesquisa da Universidade Brown, nos Estados Unidos, observou 104 mulheres com sobrepeso que foram submetidas ao mindful eating.

Ao fim do estudo, com a aplicação da técnica, perceberam que a alimentação emocional e os excessos reduziram em 40%.

Como é na prática?

Comer intuitivo: antes de comer, observar o sinal de fome e dar nota em uma escala de 0 e 10. Depois, observar na mesma escala o quanto ficou feliz com o que comeu (se queria ter comido outra coisa, mas não fez por medo) e o quanto ficou satisfeito.

Na prática, é a pessoa quem escolhe o que e quando come, mas com uma análise acompanhada.

Ah, mas pode comer tudo que quiser? O que a nutricionista explica é que todos os alimentos são permitidos, mas o que as pessoas precisam é refazer a relação para repensar uma quantidade.

Uma pessoa que passou muito tempo de dieta sem poder comer chocolate, por exemplo, pode comer uma caixa inteira na permissão por compulsão. Mas, se não há restrição, não há o porquê ter compulsão. O alimento é permitido.

“As pessoas chegam ao consultório falando que sofrem ao comer, que têm medo, que vivem de dieta e odeiam seus corpos. As pessoas não precisam de dieta, mas de refazer sua relação com a comida e com elas mesmas”, fala
Marle Alvarenga, nutricionista especialista em comer intuitivo

Mindful eating: a proposta é criar um ambiente (arrumar a mesa, o prato), se concentrar nos sinais que o corpo dá de fome, vontade e saciedade, e se distanciar de telas para comer.

Para pessoas que comem compulsivamente, uma das propostas é comer com o garfo do lado inverso ou até usando hashi (palito japonês) até que consiga desacelerar para entender o que come.

“Esses exercícios variam com a demanda de cada pessoa. Uma pessoa com obesidade come um pacote de bolacha. Não vamos trocar isso por uma maçã, mas entender o gatilho para ela extrapolar a saciedade e comer o pacote todo”.

“Aos poucos, ela deixa de comer essa quantidade e mantém um equilíbrio”, diz Manoela Figueiredo.

Todo mundo pode fazer? Sim, mas não sem acompanhamento, pois é necessário observar o contexto.

Por exemplo, uma pessoa com compulsão alimentar e sobrepeso não vai conseguir sozinha e sem outros suportes respeitar o limite de saciedade.

Assim como pessoas com anorexia têm os sinais de fome alterados e precisam de ajuda para retomar a alimentação.

“É um trabalho cuidadoso e individual. Para muitas pessoas, abandonar essas regras é como chutar o pau da barraca. Mas existem dietas a vida toda e ainda assim vemos a obesidade crescer no Brasil, o que explica? A única resposta é uma nova relação com a comida”, diz Manoela.

*Informações G1


+ Boa Forma