Falando em Rússia…

  • Aromas em Palavras
  • Publicado em 27 de junho de 2018 às 22:08
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:11
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O ano era 1843, o nascimento da indústria de perfumes na Rússia, o país em que os olhos do mundo e dos amantes do futebol estão voltados agora. Foi neste ano que o comerciante francês Alphonse Rallet fundou a ‘Rallet & Co.’ em Moscou, produzindo cosméticos e perfumes caros. Antes disso, havia apenas pequenos artesãos produzindo sabonetes e outros produtos aromáticos de forma independente.

Em pouco tempo, mais precisamente 1855, tornou-se fornecedora oficial da Corte Imperial da Rússia sendo a mais importante marca de perfumes e cosméticos no país e muito respeitada por toda a Europa. No ano seguinte, Rallet vendeu sua empresa e voltou para a França, e o responsável pela empresa era agora Edouard Beaux, pai de Ernest Beaux (criador do Chanel n°5 em 1921), que mais tarde se tornou o perfumista da empresa. A marca então se tornou fornecedora oficial não somente da Corte Imperial, como também para o Xá Persa e para o Conde de Montenegro.

Outro importante produtor de perfumes da Rússia, foi a ‘Brocard & Co.’, fundada em 1864 em Moscou por Henri Brocard, filho do perfumista francês Athanas Brocard. Começando a produção com sabonetes, ela se tornou a maior e mais famosa produtora de perfumes do Império Russo no início do século XX dividindo a liderança com a Rallet. A Guerlain se tornou a fornecedora oficial da Corte Imperial em 1900, e em 1910 os perfumes da Coty foram apresentados na Corte, assim que a marca abriu sua primeira boutique em Moscou, e se tornaram os favoritos das filhas de Romanov.

Após a Revolução de 1917, todas as fábricas foram nacionalizadas e seus proprietários deixaram o país, e muitas empresas acabaram arruinadas, artigos de luxo incluindo perfumes também foram proibidos de serem importados. Pode-se dizer que a guerra acabou com todo o poder que indústria cosmética tinha e viria a ter naquele país. Por conta de toda essa transformação a fragrância Krasnaya Moskva de Novaya Zarya (antiga Brocard & Co), se tornou a mais famosa da União Soviética, um verdadeiro marco na história do país que perdeu muito a qualidade dos produtos conforme o passar dos anos. Os anos soviéticos foram influentes na mentalidade do povo russo, levando a um modo diferente de perceber a perfumaria em geral. Por exemplo, comprar um perfume francês era quase impossível e aqueles que poderiam ter acesso ao lendário Beriozka (uma cadeia de lojas que vendia mercadorias importadas com moeda estrangeira, concedidas apenas a trabalhadores soviéticos no exterior como diplomatas, oficiais militares e suas famílias) eram tão privilegiados. Conseguir alguns bens do exterior era como um desafio na URSS que deu origem a uma atmosfera muito única, até hoje isso tem sido considerado como um luxo para a maioria da população distante das principais cidades, Moscou e Sâo Petersburgo. Isso também influenciou as tradições de usar os perfumes, muitas mulheres russas tinham apenas um frasco e o mantinham guardado para ser usado apenas em ocasiões especiais. Isso tudo está mudando, claro!Após o rompimento soviético, o mercado tornou-se mais aberto a bens europeus e americanos, e as fragrâncias passaram a fazer parte da vida cotidiana.

Os aromatizadores de ambiente só começaram a aparecer por lá no final dos anos 90 e início dos anos 2000, mas não tiveram popularidade significativa até 2010, devido aos altos custos ou até mesmo de costume. Por isso vale ressaltar um costume interessante dos russos que está relacionada com a população que vivia em aldeias. Essas pessoas que viviam perto de florestas e campos, coletavam buquês de flores silvestres, ervas e outras plantas perfumadas, colocavam-nos embaixo de suas camas e chaminés para que o cheiro de difundisse no ar sozinho ou com sua queima no fogo. Talvez por isso, o costume dos aromatizadores artificiais demorou tanto para ser algo considerado por lá! Mas podemos ver que esse país, ainda está em constante transformação, e essa grande ‘festa’ com certeza veio a somar, e modificar um pouco o modo arcaico pós guerra em que os russos ainda vivem.

*Esta coluna é semanal e atualizada às quintas-feiras.​


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