Ensaio sobre o conhecimento

  • EntreTantos
  • Publicado em 16 de janeiro de 2018 às 23:08
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:27
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Saudações paciente leitor.

Certamente você já se deparara, ao menos uma vez com a seguinte frase: “Não tenho tempo para ler”. Não lhe parece que, além da pessoa estar lhe propondo uma desculpa esfarrapada para não enriquecer seu conhecimento, também, está afirmando que leitura é coisa para desocupado. Isto é de uma hipocrisia imensa. Na verdade, pesquisas recentes mostram que, o brasileiro compra em média de 3 a 4 livros por ano. Além de um absurdo, completo desleixo para com o nosso próprio enriquecimento cultural é também, uma excelente perspectiva para esta filosofia de governo que tende a nos violar cada dia mais. Visto que, mediante a vulnerabilidade cultural de uma nação, abrem-se centenas de brechas que facilitarão a filosofia da corrupção. Um dos maiores eventos da Alemanha nazista proposto por Adolf Hitler, era a “Queima de Livros”, onde, milhares de obras de autoria judaica eram incineradas em praça pública. Outros fatos não menos relevantes, como o cerco a Bagdá, que resultou na destruição de sua biblioteca, a inquisição espanhola, que queimou mais de 5 mil manuscritos árabes e a ditadura Vargas, que incinerara livros, como de Jorge Amado, por exemplo. Em todos estes casos, o objetivo é bem claro, através de labaredas, consumir, reduzir a pó a cultura de um povo, eliminando assim qualquer vestígio de sua identidade. Todos sabem, e qualquer um há de presumir que, baixar o nível intelectual de uma nação é a maneira de dominá-la.

No brasil, ocorre manobras bem menos ofensivas, que descartam a necessidade de queimar livros. No entanto, os eficácia desta tal “manobra” é capaz de perpetuar uma extinção cultural. Simplesmente porque, através de estratégias midiáticas, tem-se substituído os elementos que compõem nossa cultura, por propostas populares. No cenário musical, por exemplo, com novas “revelações” forjadas em estúdios –e aqui me permito uma pausa para saborear meu escárnio- matam-se verdadeiros compositores e interpretes.

Não! Paciente leitor que, por razões desconhecidas, ainda segue minhas reminiscências. Não se trata de conservadorismo. Dizem por ai, que são os novos tempos, da juventude. Ora! Já fomos jovens. Sabemos que, os adultos que somos hoje, do tipo que ainda lê jornais, foram lapidados na juventude, embalados pela cultura, pelo hábito da leitura, pela boa música.

Sei que ás vezes pode até parecer que pretendo, com tais analogias, pregar no deserto, mas, uso como argumento, a certeza de que, diante destas palavras, talvez esteja agora alguém que se sinta, senão transformado, ao menos provocado por esta nova analogia. E, voltando à questão da leitura, ou, da triste falta de. Eis que surge uma pergunta inquietante: Quanto você investe em seu conhecimento por mês? Será que alguma vez você já se permitira esta pergunta? Renovamos nosso guarda-roupas, pagamos tv à cabo, sem falar no absurdo que as empresas de telefonia nos subtraem mensalmente. Mas, e livros? “Ah, mas, livro é um artigo caro no Brasil”. Desculpas, desculpas e mais desculpas para se adiar o enriquecimento cultural. Caro, é o preço da ignorância, caro, é evitar certos ciclos sociais, por medo de transparecer sua deficiência intelectual. Caro, é eleger corjas de canalhas, simplesmente, por estar tão manipulável e vulnerável intelectualmente. Caro é viver sem perspectiva, é mendigar horizontes, é morrer sem ter alcançado conhecimento suficiente para encontrar a si próprio.

 Sei que pode parecer pretensioso, um escritor, a propor leitura, mas, você sabe, tanto quanto eu que, somente através da leitura, adquirimos conhecimento, caso contrário, você não estaria com os olhos a percorrer tais linhas. Avante, que a batalha nos aguarda, paciente leitor. Há um denso matagal de ignorância lastrando, definhando os campos onde fecundamos nossas sementes. E, se o Brasil foi mesmo desbravado na base de enxadadas, há de ser uma nação mais saudável pela força do lápis. 

*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.


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