Empréstimo consignado: queixas dobram; veja 15 dicas para não se dar mal

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 20 de outubro de 2020 às 21:04
  • Modificado em 20 de outubro de 2020 às 21:04
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De janeiro e julho foram registradas 40.663 reclamações, contra os 17.891 registros feitos no ano passado

Idosos são empurrados para consignado pela família e pelos bancos

Reclamações relacionadas ao crédito consignado, aquele descontado diretamente da folha de pagamento, mais que dobraram durante a pandemia do novo coronavírus. 

No Consumidor.Gov, a plataforma oficial do governo federal para a resolução de conflitos sobre consumo, o tema lidera o ranking de problemas, e, entre janeiro e julho deste ano, foram registradas 40.663 reclamações, contra os 17.891 registros feitos no ano passado. 

Entre as pessoas com mais de 60 anos, faixa composta principalmente por aposentados, a alta é ainda mais relevante: de 9.261 queixas computadas em 2019 para 23.850 em 2020, o que indica que os idosos são os mais afetados.

“As reclamações mais comuns decorrem da dificuldade na obtenção de informações básicas sobre os cálculos e sobre o saldo devedor, além da cobrança por serviço ou produto não contratado. Ou seja, há muitas contratações que não são reconhecidas pelo consumidor, especialmente pelos idosos, que são mais vulneráveis. Temos que desenvolver mecanismos efetivos de combate a esses abusos para promover uma mudança de comportamento dos fornecedores”, afirma Juliana Domingues, da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon).

O volume de reclamações sobre esse tipo de empréstimo acompanha a alta na quantidade de operações durante a pandemia. Enquanto em julho do ano passado foram 919.764 novas contratações, em julho de 2020 esse número dobrou, chegando a 1.848.621. 

De janeiro a julho deste ano, foram realizadas 11.158.760 operações de crédito consignado, movimentando um montante de R$ 62,79 bilhões.

Para ajudar o beneficiário a não cair em golpes na tomada de crédito e mesmo evitar queixas futuras sobre o tema, listamos, abaixo algumas dicas de especialistas da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e do Banco Central do Brasil.

“Geralmente, o consignado é vendido como uma operação de crédito mais barato e fácil. Mas, na pandemia, a gente viu que ele também é o mais burocrático e menos flexível. O desconto é feito diretamente na folha. Então, antes de contratá-lo, as pessoas devem analisar como isso vai impactar as suas vidas, diante de todos os riscos de desemprego, diminuição de renda… E não só olhar para a taxa de juros. Só assim é possível fazer uma escolha responsável”, orienta a educadora financeira Cintia Senna.

O governo federal decidiu criar uma força-tarefa para combater as fraudes e os abusos contra o consumidor nas operações de empréstimo consignado. 

A Senacon, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho e o INSS iniciaram um trabalho para estudar, entre outras medidas, uma forma de ranqueamento dos infratores recorrentes, que poderão ser penalizados.

Algumas consequências previstas são a suspensão de operações para atuação no segmento de consignados em benefícios previdenciários administrados ou mesmo o descredenciamento das instituições financeiras que operam exclusivamente o crédito consignado.

Além disso, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ministério da Economia pretendem criar campanhas educativas e um guia de boas práticas sobre o tema.

Veja 15 dicas para não se dar mal na hora de solicitar crédito:

– Procure saber se a empresa é uma financeira ou uma correspondente autorizada através do site do Banco Central do Brasil ou pelo telefone 145. Além disso, ainda que o profissional use o nome de uma instituição autorizada, cheque no site dela se o interlocutor é mesmo registrado. Cobre meios de identificação, endereço físico e mais dados.

– Verifique se a instituição financeira está autorizada a funcionar pelo Banco Central e se a instituição está conveniada com sua fonte pagadora. Por exemplo, no caso dos empréstimos consignados para aposentados e pensionistas do INSS, certifique-se de que a instituição está conveniada ao INSS.

– O endereço consumidor.gov.br também pode ser consultado para auxiliar na avaliação da reputação da empresa.

– Desconfie sempre de ofertas muito vantajosas, que oferecem taxas bem menores do que as dos concorrentes ou que não pedem garantias e documentação ao tomador do financiamento.

– Nunca aceite a intermediação de pessoas com promessas de acelerar o crédito.

– Não faça pagamentos antecipados para a liberação de crédito em seu favor.

– Não peça empréstimos para ajudar terceiros, mesmo que sejam familiares.

– Pesquise e compare as taxas de juros e as condições oferecidas pelas instituições. Em especial, repare no Custo Efetivo Total – CET, que resume, em um único indicador, o preço da operação.

– Faça um diagnóstico da sua situação financeira, com a ajuda de uma planilha, para identificar os rumos de cada centavo do seu dinheiro durante o mês, entre alimentação, aluguel, pagamentos de dívidas, lazer e outras categorias de gastos. Assim, é possível inclusive considerar se outras despesas não podem ser reduzidas para evitar tomar o crédito ou montar um plano de pagamento dele.

– Ao pegar o crédito, elabore estratégias para reduzir o custo de vida em até 30%, pois o consórcio comprometerá sua renda mensal, seja salário ou benefício de aposentadoria.

– Não permita que seus problemas financeiros reflitam em seu desempenho profissional, pois será muito mais complicado pagar as contas sem salário algum.

– A linha de crédito consignado pode ser bem utilizada, mas não deve fazer parte da rotina de um assalariado ou um aposentado. Identifique o motivo que o levou a precisar do consignado e trabalhe para evitá-lo. Sua utilização deve ser pontual e ter um objetivo relevante.

– Já pediu um empréstimo? Caso encontre taxas de juros mais baixas, a portabilidade é possível e necessária. Para os trabalhadores ativos, o caminho é falar com a área de Recursos Humanos. Os aposentados podem começar conversando com a instituição financeira para a qual deseja migrar a dívida.

– Se perceber que terá problemas em pagar parcelas, entre em contato com o banco imediatamente e procure uma renegociação. Acumular mais dívidas acarretará em grande prejuízo.

– A opção do crédito consignado é muito usada para quitar cheque especial, cartão de crédito e financeiras por ter juros menores. Porém, a troca simplesmente de um credor por outro, sem descobrir a causa do verdadeiro problema, apenas alimentará o ciclo do endividamento.

Fontes: Banco Central e Associação Brasileira de Educadores Financeiros (ABEFIN), citados pelo jonal “Extra”, do Rio d Janeiro.


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