Empresas de telefonia passam a oferecer empréstimos via celular

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 27 de novembro de 2019 às 02:41
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:04
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Operadoras criam serviços com bancos e fintechs, mas tendência é que peçam ao BC seus próprios registros

Na mira de um mercado anual de R$ 1,2 bilhão, as empresas de telefonia entraram na disputa para ofertar crédito. Vivo e Claro já lançaram serviços de empréstimos via celular. A TIM finaliza seu plano.

Estimativas da Associação Brasileira de Crédito Digital indicam que, por ano, 45 milhões de brasileiros, principalmente de baixa renda, vêm movimentando cada vez mais dinheiro fora do sistema bancário.

No ano passado, foi R$ 1,2 bilhão, um crescimento de 35% em relação aos R$ 800 milhões movimentados em 2017. A maioria desse grupo tem uma linha de celular. São esses clientes que as ‘teles’ pretendem “bancarizar”.

Esse novo produto está alinhado com a estratégia do Banco Central de ampliar a oferta de crédito por meio de competição de novos agentes financeiros, principalmente do setor de tecnologia.

No caso da Claro, o parceiro é o mexicano Inbursa, que pertence ao próprio dono da operadora, o bilionário Carlos Slim. O serviço foi lançado na última segunda-feira, 25 de novembro.

Para acessá-lo, basta baixar um aplicativo da operadora (Claro Smartcred), inserir dados pessoais e incluir documentos (RG e CPF) digitalizados.

Automaticamente, é feita uma análise de crédito, e o cliente pode ter uma linha disponibilizada que varia de R$ 1.500 a R$ 10 mil. O valor pode ser parcelado em até 38 vezes, e as mensalidades são lançadas na fatura da operadora.

Diferentemente dos bancos, a Claro não cobra taxa pela análise cadastral, não pede avalista ou garantias. Também não exige que seu cliente abra uma conta no banco Inbursa.

Na Vivo, a parceria é com o banco Digio, que atende 14 empresas de tecnologia (fintechs). Lançado em agosto, o projeto, batizado de Vivo Money, é um teste para algo maior: a exploração de serviços de crédito e pagamentos.

A empresa, controlada pelos espanhóis da Telefónica, oferece crédito de R$ 1.000 a R$ 30 mil com juros mensais de 2,9% a 9,9%, que variam dependendo do risco de inadimplência de cada cliente.

Numa primeira etapa, somente clientes que receberam a comunicação da Vivo poderão usufruir do serviço. Em breve a empresa vai estender para toda sua base de usuários.

A TIM está praticamente concluindo a elaboração de seu plano nesse ramo. Na Itália, a empresa fechou parceria com o banco espanhol Santander.

A tendência, segundo pessoas que participam das conversas, é que, no Brasil, a parceria seja feita com uma fintech ou banco de menor porte. Isso porque, para empréstimos de menor valor, os custos dos grandes bancos não compensam os ganhos com as operações.

A tendência, segundo as ‘teles’, é que, passada a fase de testes, elas próprias avaliem a compra de uma fintech ou o pedido de registro no Banco Central para abertura de bancos ligados às operadoras.

Por enquanto, elas oferecem serviços financeiros como correspondentes bancários. Na prática, elas fecham um contrato com um banco e dividem as receitas das operações de crédito.

Estudo da consultoria PricewaterhouseCoopers mostra que, em um cenário de queda persistente de receitas de serviços de telefonia, as operadoras precisam se valer dos benefícios da digitalização para gerar outros tipos de receitas. Os serviços financeiros seriam uma nova fronteira.

As ‘teles’ sempre quiseram prestar serviços financeiros para seus clientes, a maior parte de baixa renda (classes C, D e E). No entanto, a pressão dos bancos no governo e no Banco Central impedia a abertura desse mercado.

Nos últimos três anos, o regulador optou por mudar radicalmente de direção diante do aumento, considerado excessivo, da concentração bancária. Os grandes bancos passaram a controlar todas as atividades financeiras.

A decisão do BC de dificultar a aquisição de fintechs pelos grandes bancos é para estimular a competição e assim forçar a queda dos juros para o consumidor. Essa estratégia do BC está levando as ‘teles’ a rever os planos que estavam de lado.

Na mesa das operadoras, além da oferta de crédito, voltaram as opções de pagamento (transferências de recursos via mensagens telefônicas, por exemplo) –o que viria em uma outra fase.


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