compartilhar no whatsapp
compartilhar no telegram
compartilhar no facebook
compartilhar no linkedin
Franca registrou 36.917 infrações entre outubro de 2020 e setembro deste ano, com R$ 7,7 milhões em multas aplicadas
Avenida Presidente Vargas, em Franca, foi palco de 2 acidentes graves com morte recentemente – foto EPTV
Quinze a cada 100 pessoas autuadas no trânsito de Franca são flagradas com o celular ao volante, aponta um levantamento com base em dados divulgados pela Prefeitura.
Consideradas em grande parte gravíssimas, as condutas associadas ao uso da tecnologia por parte dos motoristas renderam 5,8 mil autuações em 11 meses, com o equivalente a R$ 1,7 milhão em multas, e permanecem entre as infrações mais frequentes, ao lado da falta do uso de cinto de segurança e excesso de velocidade em uma das cidades mais importantes do interior do estado de São Paulo.
Uma recorrência que preocupa autoridades e especialistas para a elevação dos riscos de acidentes graves e de mortes no trânsito.
A prática parece ter se tornado um hábito muito perigoso e pode ser percebida facilmente nas principais vias da cidade, afirma o secretário municipal de Segurança, Marcus Alexandre Moraes de Araújo.
“Se você para em um cruzamento em uma avenida, começa a observar o número excessivo de pessoas utilizando o celular, seja usando, seja manuseando”, diz.
Infrações no trânsito
De acordo com o relatório de administração de multas, compilado pela Prefeitura a cada quatro meses, Franca registrou 36.917 infrações entre outubro de 2020 e setembro deste ano, com R$ 7,7 milhões em multas aplicadas.
Dirigir o veículo manuseando o celular e segurar o aparelho ao volante estão entre as infrações mais comuns na cidade e só ficam atrás da falta do uso de cinto de segurança, que corresponde a 37,7% das autuações, com 13.948 ocorrências, e transitar a uma velocidade 20% maior do que a permitida, que representa 14,7%, com 5.462.
Prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a prática de dirigir segurando o celular é considerada gravíssima e prevê ao condutor o pagamento de R$ 293,47. Entre os maus hábitos associados ao smartphone, esse é o mais frequente, com 3.193 ocorrências em 11 meses.
Com a mesma previsão legal, a prática de manusear o aparelho enquanto se está na condução do automóvel aparece na sequência, com 2.546 ocorrências.
Considerada média, a infração por dirigir veículo utilizando o telefone celular, para ligações, ao ouvido, rendeu outras 80 notificações.
Fato recorrente e perigoso
Consultor em engenharia de tráfego e segurança viária, Fernando Velázquez avalia que o uso do celular ao volante, um hábito errado adquirido com o avanço da tecnologia, está entre as principais causas de mortes no trânsito, ao lado do excesso de velocidade e do consumo de bebida alcoólica.
Isso acontece, segundo ele, porque o estado de atenção do motorista, que deveria estar focado no trânsito e na sinalização, acaba dividido com as informações contidas na tela do aparelho, o que pode ser fatal.
Estudos mostram, de acordo com Velázquez, que a uma velocidade média de 50 km/h o condutor segue com o carro por 45 metros sem saber o que acontece à frente do automóvel em apenas quatro segundos de desatenção.
“Você já tem ali casos de uma colisão, quase a fatalidade de um pedestre. Não dá tempo de frear. Esses fatores acabam fazendo com que os acidentes se processem cada vez mais e claro, a exposição das pessoas também”, diz.
Uma condição oposta à ideal, que ele define como estado de vigilância. “Durante a condução você está focado, observando as marcações, a sinalização de trânsito e também preparado para futuras eventualidades pra você ter tempo, durante a atuação e reação para minimizar um acidente ou coisa do tipo, você está totalmente focado na principal ação que é a condução.”
Diante disso, o engenheiro de tráfego defende, além de um trabalho de conscientização e uma melhor formação de condutores, mais fiscalização e normas mais rígidas, a fim de mudar o comportamento dos motoristas.
“As pessoas têm que entender também que não se trata de algo punitivo, mas educativo. Infelizmente no Brasil dói mais no bolso do que na vida das pessoas. A gente tem que mudar essa concepção e também fazer um grande reforço junto a órgãos municipais principalmente, de educação no trânsito, fazer campanhas, trazer a sociedade para discutir, apresentar problemas e soluções”, diz.
Situação preocupa, diz secretário
Para o secretário municipal de Segurança de Franca, a desatenção atrelada a hábitos como o uso do aparelho celular enquanto se está dirigindo está diretamente ligada a recentes atropelamentos com mortes na cidade.
“A necessidade de se verificar logo a mensagem ou verificar um telefonema, de ver na hora o que está acontecendo, muita vezes ela [a pessoa] está no volante, é a hora que pode causar um acidente”, diz.
Em conjunto com outras práticas, como avançar o sinal vermelho e dirigir na contramão, a situação do trânsito do município preocupa, segundo Araújo, mesmo com uma queda de 33% nas infrações em comparação com o período entre outubro de 2019 e setembro de 2020 – quando foram registradas 55,5 mil autuações.
Essa redução, segundo ele, é explicada por uma menor circulação de carros em períodos de lockdown e de medidas restritivas adotadas este ano, não por conta de um melhor comportamento dos motoristas.
O secretário cita que, além de campanhas de conscientização, o município avalia mudanças na legislação local para ampliar a fiscalização no trânsito, hoje feita exclusivamente por um convênio firmado com a Polícia Militar.
A ideia é dar autonomia para que esse trabalho também seja feito por guardas municipais. “Estamos fazendo estudos para ver se ampliamos esse rol de agentes de fiscalização”, diz.
Polícia Militar
Em nota, a Polícia Militar informou que a fiscalização ostensiva e preventiva do trânsito urbano é de sua atribuição e que o trabalho não deixou de ser realizado mesmo no período da pandemia.
“A atividade de fiscalização é um dos atos primordiais que contribuem significativamente para redução da letalidade nas vias de tráfego”, comunicou.
*Fonte: G1