Em Franca, Mauro Ferreira doa coleção com 2,3 mil gibis para biblioteca da Unesp

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 4 de abril de 2022 às 07:00
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Doutor em arquitetura pela USP, Mauro Ferreira coleciona os quadrinhos desde a década de 1960. Desejo dele sempre foi que cartoons fossem acessíveis a todos.

Mauro Ferreira realizou a doação do seu acervo de gibis com mais de 2,3 mil obras à biblioteca da Unesp

 

Tudo começou em 1959, quando o doutor em arquitetura pela USP, Mauro Ferreira, na época com sete anos, leu sua primeira história em quadrinhos.

Mais de 60 anos depois e 2,3 mil exemplares reunidos em coleção, ele realizou o sonho de compartilhar seu acervo com a sociedade e doou todo o material para a biblioteca da Unesp em Franca.

“Agora, qualquer pessoa que for a biblioteca vai poder ter acesso às histórias. Era o propósito desde o início. Queria que isso circulasse. Não era uma coisa para ficar guardada no armário”, disse.

Todos os cartoons foram catalogados e organizados em estantes de destaques dentro da biblioteca da própria universidade.

O novo espaço foi inaugurado na última quarta-feira (30) e conta com edições de luxo e obras famosas de artistas como Ziraldo, Laerte, Glauco e Jaguar.

Paixão por gibis

O interesse por histórias em quadrinhos surgiu durante a alfabetização do professor. Para ele, as representações gráficas foram importantes nessa fase da educação e ajudaram a ilustrar o mundo.

A partir dali, encantado com as narrativas, Ferreira cresceu consumindo gibis e tirinhas dos jornais diários que seu pai assinava.

Todo o material que lia era englobado em sua coleção que, posteriormente, deu origem a uma biblioteca chamada “Prudentina” no porão da sua casa no centro de Franca, onde ele compartilhava suas histórias com outras crianças do bairro.

“Na época estava tendo a corrida espacial, os primeiros astronautas indo para o espaço, então os quadrinhos nos davam essa perspectiva que havia uma expansão do universo. E a mesma coisa para o passado, conhecer as vestimentas, como se vivia naquele tempo”, contou.

Durante os anos 60, a coleção foi aumentando com a aquisição de revistas em quadrinhos brasileiras, como a pioneira Pererê, de Ziraldo, e publicações da editora carioca EBAL, especializada em HQ norte-americano de super-heróis.

“Eu considero que os quadrinhos são uma obra de arte. Hoje em dia há uma valorização desse tipo de manifestação artística, apesar de todo o avanço digital, continua sendo muito valorizado e vai continuar por muito tempo, essa linguagem como parte importante no mundo da arte”, disse.

Quando jovem, Ferreira foi estudar arquitetura em Mogi das Cruzes e deixou a coleção guardada no porão.

Contudo, como era um leitor assíduo, começou a adquirir revistas de HQ para adultos, como reedições de luxo de Flash Gordon, Steve Canyon, Asterix, Spirit e outros clássicos.

De passagem por São Paulo, também englobou em seu acervo cartoons publicados em jornais de resistência à ditadura militar, como o jornal ‘O Pasquim’, e autores estrangeiros de oposição aos regimes militares de países latinos, como o argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, criador da Mafalda.

Além de consumidor, o doutor em arquitetura também se arriscou em publicações. Já morando em Franca, ele foi autor de alguns dos primeiros cartoons publicados na imprensa da cidade.

Laboratório das Artes

Do porão da casa do professor, o material foi doado para a biblioteca do Laboratório de Artes, uma instituição criada por Mauro Ferreira e um grupo de artistas da cidade em 1982. Lá, a ‘gibiteca’ foi integrada ao acervo cultural com mais de 400 obras.

Contudo, alguns anos depois, houve um furto no laboratório e parte dos quadrinhos foi levada durante a noite. Segundo o professor, o material foi abandonado em caixas na chuva.

Alguns exemplares foram recuperados, mas outros foram perdidos. Apesar do obstáculo, Ferreira continuou aumentando a coleção, até que chegou um momento que ela não cabia mais no local e ficou difícil das pessoas acessarem.

“Nós não emprestávamos os Gibis, as pessoas consultavam aqui e isso foi limitando. Como também o grupo é voluntário, nem sempre o laboratório estava aberto. Então nós optamos por procurar uma instituição que pudesse cuidar e tornar isso público e encontramos isso da biblioteca na Unesp”, explicou.

*Informações G1


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