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Espetáculo “O Mundo Começa na Cabeça”, apresentada pelo grupo de teatro Corpo Negro incentiva a pensar sobre o racismo
O Grupo Corpo Negro estará em cartaz na Avenida Paulista, em São Paulo (Foto: Renata Prado)
Em Franca, diversos grupos, artistas e cursos têm muito a comemorar o crescimento e, sobretudo, as mensagens políticas e sociais propagadas com essa arte.
A formação técnica de artistas de teatro vem ganhando grande importância ao longo dos anos, pois amplia a consciência corporal e a bagagem de conhecimento para as discussões abordadas.
O grupo Corpo Negro, que nasceu em 2016 durante a qualificação do curso Técnico em Teatro do Senac Franca, passou a colocar em pauta e debater algumas questões afro-brasileiras.
Em agosto, o grupo entra em cartaz no Centro Cultural Fiesp, na capital paulista, com o espetáculo “O Mundo Começa na Cabeça”, abordando questões de racismo enfrentadas por crianças negras.
Com entrada gratuita, a peça teatral apresentada pelo grupo busca sensibilizar crianças e adultos por meio de uma narrativa envolvente e lúdica. O espetáculo é a segunda montagem do grupo.
Potência artística
Idealizado em 2018 a partir da vontade dos integrantes do grupo em dialogar sobre questões raciais e de etnia para crianças, a ideia foi contemplada no Edital Proac nº 03/2018, viabilizando sua montagem que aborda a negritude em ambiente escolar e possibilitando que as memórias trazidas da infância dos próprios atuantes e, da escassez de referências positivas que abordassem a negritude nos primeiros anos de vida construíssem um material cênico que levanta essas questões para um público infantil.
O espetáculo se constrói também no que Conceição Evaristo nomeia de “escrevivência”, que é dar escrita às vivências de pessoas pretas. A potência artística do espetáculo trouxe de forma lúdica o olhar da infância com propriedade de vivência.
Posteriormente o mergulho foi nas pesquisas sobre os teatros negros e suas especificidades relacionadas ao teatro infantojuvenil, como por exemplo, contações de histórias que eram realizadas por bricolôs e por todo o processo de resgate cultural, da valorização da estética negra tão presente neste espetáculo.
Transformação social
Segundo Nathalia Fernandes, diretora do espetáculo, o teatro é um instrumento para a transformação social, pois ele tem a responsabilidade de levantar pautas e assuntos que fazem a sociedade se enxergar e compreender suas limitações.
“Quando se fala que teatro é mais que uma profissão, é porque ele possibilita o ofício aliado ao prazer. Não se atua somente pelo ganho monetário, a arte tem a perspectiva de ser algo que se goste de fazer‘.
Teatro como profissão
Uma das principais discussões do grupo é: “Cadê os atores negros?” “A participação em representações teatrais, geralmente, é para fazer um personagem marginalizado: escravo, ladrão. Por que não para retratar alguém bem sucedido? Um médico, um advogado”, indagou.
Nathalia ressalta a importância da compreensão do teatro como profissão. “A formação traz insumos para o processo criativo do ator e o faz ter consciência do que está fazendo, da relevância da arte e suas possibilidades”.
Segundo ela, “o conhecimento permite compreender historicamente o teatro, aprimorar técnicas de interpretação, aprender sobre caracterização de personagens, dramaturgia, enfim, frentes imprescindíveis para o fazer teatral. Quando se qualifica, você entende como despertar o corpo para o estado criativo, a utilizá-lo, de fato, como um meio de expressão”.
Teatro narrativo
No interior, uma das principais formas escolhidas para manter a arte é o teatro de grupo e esse tipo de arte vem crescendo bastante em Franca, como o grupo Corpo Negro. O teatro contemporâneo apresenta inúmeras possibilidades de estéticas e escolhas criativas.
Por meio de elementos do teatro narrativo, os atuantes tem a possibilidade de reforçar sua própria representatividade em cena, dessa forma bebendo diretamente da fonte do Teatro Experimental Negro (TEN), conceito do Abdias do Nascimento, também francano e grande inspiração para elaboração deste projeto, que denunciou a rejeição do negro em ser “personagem e intérprete, e de sua vida própria, com peripécias específicas no campo sociocultural e religioso, como temática da própria literatura dramática”.
Entre as conquistas do grupo está a recente premiação no edital SESI VIAGEM TEATRAL a qual o grupo fará uma circulação de cinco apresentações pelas unidades no SESI na Capital Paulista.
Sala de aula
“Já tínhamos a vontade de exercer a função de artistas e a temática da cultura negra nos incentivou a debater a representatividade e ocupação dos negros na sociedade e no teatro. Na nossa sala de aula, por exemplo, dos 30 alunos, apenas quatro eram negros‘, conta Josiana Martins, uma das fundadoras do grupo.
Ela também conta que o processo de formação profissional foi muito importante na consolidação da iniciativa no mercado. “O curso nos ensina a potencializar nossa expressão e organização técnica, dando qualidade ao trabalho. As aulas qualificam o artista além da presença cênica, envolvendo conhecimentos de figurino, iluminação, cenários e produção. Isso nos prepara tecnicamente para a realização de trabalhos.”
O grupo em 2023 também foi premiado pelo Edital PROAC 01/23 destinado a MONTAGEM INÈDITAS DE TEATRO, desta vez com o desafio de criar um espetáculo adulto nomeado de “E Kaabo, o futuro é preto”, este ainda em fase de criação conta com a direção de Ícaro Rodrigues e Dani Nega (Cia. Os Crespos, Coletivo Negro e Núcleo Bartolomeu de Depoimentos), ganhadora do Prêmio Shell de melhor trilha sonora.
Serviço
Espetáculo “O Mundo Começa na Cabeça”
Quando: 03/08, 24/08, 31/08 e 02/11 (sábados)
Horário: a partir das 16h
Onde: CENTRO CULTURAL FIESP
Avenida Paulista 1313 – Sede – São Paulo (SP)Para acompanhar a agenda do grupo siga o @grupocorponegro no instagram, ou para mais informações ou reservas de ingressos para a temporada acesse o site.