Dieta mediterrânea pode ajudar no tratamento da osteoporose, diz estudo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 29 de julho de 2018 às 16:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:54
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Regime baseado em alimentos naturais e gorduras boas reduz perda óssea em pacientes idosos

Adotar a dieta mediterrânea — regime baseado no consumo de frutas,
legumes, cereais integrais e gorduras “boas” — pode reduzir a perda óssea em
pessoas com osteoporose, segundo pesquisa inglesa divulgada, neste mês, na
revista American Journal of Clinical Nutrition.

Após acompanhar mais de mil idosos, investigadores concluíram que,
em um ano, a mudança alimentar ajudou a diminuir os danos à densidade dos ossos
causados pelo envelhecimento. Segundo eles, as descobertas podem ajudar no
desenvolvimento de intervenções que ajudem no tratamento da doença.

O estudo é o primeiro ensaio clínico de longo prazo sobre o
impacto da dieta mediterrânea na saúde óssea de adultos mais velhos em países
da Europa. Participaram dele 1.142 pessoas com idade entre 65 e 79 anos e
recrutadas na Itália, no Reino Unido, na Holanda, na Polônia e na França. Os
voluntários foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos. Apenas um seguiu
a dieta mediterrânea, aumentando a ingestão de frutas, legumes, nozes, cereais
não refinados, azeite e peixe, além de pequenas quantidades de produtos lácteos
e carne e doses moderadas de álcool. O segundo grupo, o de controle, não mudou
os padrões alimentares.


Os pesquisadores mediram a densidade óssea de todos os voluntários no início do
estudo e após 12 meses de mudança alimentar. “O osso leva muito tempo para se
formar. Então, sabíamos que tínhamos que empreender uma intervenção de no
mínimo um ano para verificar quais seriam os efeitos. Ainda consideramos um
tempo curto, mas ele foi eficaz para ver resultados”, conta ao Correio Susan
Fairweather-Tait, professora da Universidade de Norwich Medical School, no
Reino Unido, e uma das autoras do estudo.

A dieta mediterrânea não mostrou grande impacto em participantes
com densidade óssea normal, mas gerou benefício significativo naqueles que
sofriam com osteoporose no colo do fêmur — a área que conecta o eixo do osso da
coxa à sua cabeça arredondada e se encaixa na articulação do quadril. Já os
idosos do grupo controle continuaram a apresentar a redução da densidade óssea
relacionada à idade.
“O fato de podermos ver uma diferença marcante entre os grupos, mesmo em apenas
uma área do corpo, é significativa, principalmente se considerarmos que o tempo
de análise não foi tão extenso”, ressalta Tait. “Aqueles com osteoporose estão
perdendo densidade óssea em um ritmo muito mais rápido do que os outros. Então,
você é mais propenso a ver mudanças nesses voluntários do que naqueles que
perdem os ossos mais lentamente, o que ocorre em todos à medida que envelhecem.”

Ação suplementar

Os pesquisadores também acreditam que, com um teste mais longo,
teria sido possível observar as mudanças nos participantes que não tinham
osteoporose. “Mas já achamos bastante desafiador encorajar nossos voluntários a
mudar sua dieta por um ano, e um teste mais longo teria feito o recrutamento
mais difícil, resultando em maior abandono”, pondera Tait.


Ele e os colegas pretendem realizar um estudo semelhante, mas por mais tempo e
apenas com indivíduos com osteoporose. A intenção é confirmar as descobertas do
estudo atual e verificar se os benefícios do regime alimentar podem ser
percebidos em outras áreas do corpo. Se os resultados positivos persistirem, os
investigadores acreditam que a dieta mediterrânea poderá se tornar uma adição
bem-vinda aos tratamentos atuais de osteoporose e diminuir o uso de
medicamentos que podem causar graves efeitos colaterais. “A dieta mediterrânea
já provou ter outros benefícios para a saúde, reduzindo, por exemplo, o risco
de doenças cardiovasculares, Par-kinson, Alzheimer e câncer. Portanto, não há
desvantagem em adotá-la mesmo não tendo osteoporose”, diz Tait.

Marcelo Ferrer, ortopedista e cirurgião do Grupo Santa, em
Brasília, membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
(SBOT) e especialista em osteoporose, explica que os nutrientes dos alimentos
presentes na dieta mediterrânea são responsáveis pelos benefícios constatados
no estudo inglês. “Esse tipo de alimentação tem muito leite e derivados, como o
queijo, que são fontes de cálcio, essencial para a prevenção a osteoporose. Há
inda a vitamina D, que também é importante para evitar esse problema de saúde”,
lista.


Segundo o médico, outras medidas podem ajudar a evitar e a tratar a perda
óssea. “É necessário manter a vitamina D, e uma das fontes dela é o Sol, mas,
claro, que a exposição a ele tem que ser moderada. Outro ponto importante é a
atividade física, que faz com que os ossos se tornem mais fortes. Vemos que
pessoas sedentárias são as que mais sofrem com a osteoporose.”


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