Desperdício de comida no país ultrapassa 40kg por pessoa anualmente

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 24 de março de 2019 às 10:47
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:27
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Cada brasileiro joga fora mais de 41 kg de comida como arroz, feijão, carnes, frutas e verduras

Um
estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a startup de pesquisas
digitais MindMiners, com a Embrapa e com o programa Sem Desperdício da União
Europeia revelou que cada brasileiro joga fora, em média, 41,6kg de comida por
ano.

Desse
volume, 38% são arroz e feijão; 35% carnes (bovina e frango); 4% leite e
derivados e outros 4%, frutas e hortaliças. Demais itens apontados foram
massas, peixes e grãos.

O
levantamento realizado através de entrevistas presenciais e questionários
online com 1764 pessoas de todas as regiões do país, diversas faixas etárias e
de diferentes classes sociais mostrou que o brasileiro enxerga o desperdício
como um problema e percebe que pessoas próximas têm hábito de jogar comida
fora, mas não reconhece que ele próprio também está desperdiçando alimento.

De
acordo com o analista de Marketing da MindMiners, Rodrigo Patah, um dos
responsáveis pela pesquisa, o comportamento é em nome da fartura: “Brasil está
entre os 10 países que mais desperdiçam alimento no mundo e isso é cultural. Os
resultados que tivemos em diversos tamanhos de domicílios, tanto em lares de
pessoas que moram sozinhas, quanto em casas com quatro, cinco pessoas; da
classe A à E foram bastante semelhantes”.

Segundo
Patah, muitas pessoas aproveitam ofertas para fazer compras mensais e adquirem
mais itens do que necessitam: 70% valorizam ter a dispensa de casa cheia.

Além
disso, a maior parte dos respondentes acredita que sabor (94%) e frescor (77%)
são os principais, como consequência, muitos descartam as sobras das panelas
(43%). “Até a inflação dos alimentos seria menor se o brasileiro não jogasse
tanta comida fora. É necessária uma conscientização”, opinou o analista.

Iniciativas
para aproveitamento


sete anos, após observar o enorme desperdício de comida nas feiras livres, a ex
empregada doméstica Regina Tchelly criou o Favela Orgânica com o objetivo de
promover aproveitamento total dos alimentos.

Hoje,
ministra cursos no Morro da Babilônia para moradores e viaja o mundo para
divulgar o projeto. “Eu faço o uso de sementes, raízes, talos, folhas e casca.
O que sobra, vira compostagem. Por exemplo, estamos na temporada da jaca. Da
carne da fruta, faço coxinha; do palmito, arroz carreteiro; do caroço, patê; do
gomo, faço uma bolonhesa que fica parecida com nhoque”, contou a empreendedora.

Segundo
Regina, que também ensina como plantar temperos e verduras em casa, as práticas
geram redução das compras familiares e economia doméstica.

Frutas e verduras no lixo

Todo
dia, na Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ), cerca
de 15% dos produtos colocados à venda são jogados fora. No box Tavares Martins
alimentos, diariamente 500 caixas de mamão — produto carro chefe do
estabelecimento — são dispensadas.

O
gerente Afonso Viana explica que quando a fruta está boa, mas está com algum
amassado e não tem comercialização, é doada para instituições que recolhem para
fazer a distribuição para pessoas em situação de vulnerabilidade.

Entretanto,
os itens que vêm da roça com doenças, como chocolate ou tracnose, são jogados
no lixo. “Como está fora da safra, muitas frutas vêm com problemas. Dá para
perceber pela casca, ou bem marrom ou com pontinhos bancos. Cada caixa jogada
fora custa para a loja 30 reais”, calculou Viana.

Luiz
Roberto Ribeiro, de 60 anos, vende manga-espada. A fruta está na entressafra e,
como vem de Alagoas, se deteriora rápido. Para não perder muita mercadoria, o
comerciante acelera as vendas reduzindo os preços. Para o vendedor de verduras
André da Silva, de 44 anos, não há estratégia que consiga reduzir o desperdício
de seu segmento: “A gente vende até 14h. O que sobra, a gente doa, porque as
verduras não servem para o outro dia! O que as pessoas não pegam como doação, a
gente joga no lixo. Entre alface, agrião e couve, só meu box joga fora, por
dia, cerca de 50 caixas, sendo cada uma com 25 itens”.

A
Ceasa-RJ possui um programa social chamado Banco de Alimentos, com foco em
reduzir o desperdício de alimentos das Centrais de Abastecimentos e combater a
fome, através de doações que são repassadas para 400 instituições cadastradas
no Estado, como escolas, hospitais, creches e abrigo. Nele, produtos doados por
produtores e comerciantes passam por um processo de seleção e processamento,
quando necessário.

Em
âmbito nacional, não existe legislação que regulamente a doação de alimentos.
Existe, apenas, um projeto de lei de 2013 que está parado na Câmara dos
Deputados.

Porém,
no Estado do Rio de Janeiro, a Lei 7.106/2015 determina quais alimentos podem
ser doados: os perecíveis, que estão aptos para o reaproveitamento, e os
industrializados, dentro da validade, mas com embalagem danificada.

O
alimento que já foi preparado e exposto ao consumidor, como uma refeição de
comida a quilo, não pode ser doado. Já insumos que estão dentro da validade,
mas que perderam a sua capacidade de comercialização podem ser doados, por
exemplo um vegetal com aparência feia, ou fruta com pequenos amassados.

O
artigo 9º isenta o doador de qualquer infração decorrente de possíveis doenças
que os alimentos possam causar, exceto se ele for reincidente ou tiver má fé.

A lei
ainda determina que os beneficiários — instituições sociais que trabalham com
população carente, sejam orfanatos, clínicas de tratamento de dependentes
químicos ou asilos — façam o preparo do alimento no mesmo local onde será feita
a distribuição. Isto é, eles não podem receber os legumes, mandar para um
restaurante cozinhar e receber de volta para servir. Tudo tem que ser feito na
cozinha da própria instituição.

Todo esse cuidado é
porque se um restaurante doar a comida pronta e quem comer tiver sintomas de
intoxicação alimentar, o estabelecimento pode ser punido caso a pessoa entre
com uma ação judicial.

Mas, na prática, isso é
muito difícil de acontecer. Além de não existir fiscalização, quem recebe o
alimento, em tese, não tem poder aquisitivo para ingressar com um processo na Justiça.

Dicas para desperdiçar
menos alimentos

– Substitua as compras
mensais por semanais:
Além de poder comprar itens mais frescos, você só vai adquirir o que realmente
precisa e evitar que alimentos estraguem na dispensa. Faça uma lista do que
está em falta para não comprar coisas extras.

– Planeje a sua semana:
Seja realista e avalie quantos dias vai comer em casa ou em quantos vai
levar marmita para o trabalho. Só prepare uma quantidade de alimento para esse
período para não deixar sobras na geladeira.

– Congele folhas e legumes:
Acondicione com muito cuidado os alimentos a serem congelados e retire todo o
ar de dentro das embalagens. O ar prejudica o processo de congelamento.
Identifique com uma etiqueta o nome do alimento, a quantidade, a data de
validade e a data do congelamento. Congele o alimento imediatamente após
colocá-lo nas embalagens apropriadas, a uma temperatura de -18°C, em porções
que sejam utilizadas de uma só vez.

– Transforme um alimento:
Inove na cozinha e utilize ingredientes para receitas inusitadas. Legumes
que estão fazendo aniversário na geladeira, por exemplo, podem virar recheio de
uma torta; o inhame ou a batata doce podem virar vitamina e a couve e a
beterraba, um suco.


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