Desordem do Processamento Auditivo afeta 7% das crianças

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  • Publicado em 27 de agosto de 2018 às 19:42
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:58
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Entre os sinais, constam ​falta de concentração, hiperatividade e baixo rendimento escolar

Falta de concentração, desinteresse, hiperatividade, baixo rendimento escolar e isolamento social são comportamentos verificados em muitas crianças que, quando em idade escolar, começam a apresentar dificuldades nos estudos. Embora esses sinais possam levar a diagnósticos de dislexia ou de TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, muitos deles devem ser considerados como consequência de um outro tipo de distúrbio, ainda não muito divulgado e que pode estar afetando milhares de brasileiros sem que eles ao menos saibam. Trata-se do Transtorno ou Desordem do Processamento Auditivo – DPAC.

Segundo a fonoaudióloga Cintia Fadini, a criança ou adolescente com DPAC não consegue discriminar os sons quanto à sua localização e amplitude e não compreende o significado de cada ruído presente no ambiente. Com isso, o mundo se transforma em uma incômoda confusão de barulhos desconexos e embaralhados. “Esse transtorno afeta as vias centrais da audição humana, ou seja, as áreas cerebrais relacionadas às habilidades auditivas e de interpretação das informações sonoras”, diz. Ou seja, a criança ouve, mas não consegue interpretar o que ouve. É como se sons fossem os apenas ruídos. É aí que o desenvolvimento intelectual pode ser prejudicado. Apesar de ser pouco conhecido, uma pesquisa do instituto American Speech-Language Hearing Association (ASHA) revelou que o DPAC atinge 7% das crianças em idade escolar.

De acordo com neurologistas, todo o esforço de quem tem o distúrbio para entender o que acontece ao redor é demasiado para o cérebro. Chega uma hora que ele não resiste e “desliga”. Por isso, as pessoas com DPAC são sempre distraídas e perdem o foco de atenção muito rápido sobre o que está acontecendo no ambiente. A fala e a leitura também são prejudicadas, uma vez que o processo de linguagem se desenvolve ao mesmo tempo em que o da audição. Com isso, a criança pode não aprender a falar nem a ler bem, uma vez que é necessário associar as palavras ao som que elas têm. “Localizar o som é entender a sua origem, direção e distância; é perceber o que é o badalar do sino da igreja, a buzina de um carro. Logo, ter uma boa audição e ouvir bem nem sempre é o suficiente para compreender os sons e como esses sons são processados no cérebro”, esclarece Cintia.

O diagnóstico

O diagnóstico é dado geralmente na fase de alfabetização da criança, uma vez que o aluno começa a apresentar dificuldade de memória de curto prazo; falta de entendimento; pouca concentração e incapacidade de leitura e escrita. Muitos são diagnosticados de forma incorreta. Porém, o que acontece é que eles ouvem claramente a voz do professor, mas têm dificuldade em entender o que ele fala ou mesmo interpretar textos e compreender o enunciado de problemas, atropelando as palavras, fazendo com que a alfabetização não seja bem-sucedida. A boa notícia é que o problema pode ser contornado. “O cérebro humano tem, principalmente durante a infância, uma grande flexibilidade. Com o tratamento fonoaudiológico e o apoio de uma equipe pedagógica adequada, a criança tem grandes chances de obter um ótimo desempenho escolar, pois seu cérebro estará sendo treinado a desenvolver mecanismos diferentes e rotas alternativas para driblar o distúrbio”, diz a fonoaudióloga. Embora não se saiba como a DPAC surge, acredita-se que a falta de estímulos sonoros durante a infância seja uma das causas.