Desemprego entre jovens é maior que taxa geral da população paulistana

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 00:00
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:23
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A cada 100 jovens, 28 estão desempregados, o que corresponde a quase 1,5 milhão de pessoas

Entre 100 jovens
paulistanos, 28 estão desempregados – considerando esse percentual, são 411.473
moradores da capital paulista na faixa de 16 a 24 anos que estão sem trabalho.

A taxa entre os jovens é
superior à da população em geral – toda a população economicamente ativa – que
corresponde a 15% no município, o equivalente a 1.469.545 pessoas desempregadas.

Para o coordenador-geral da Rede
Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, trata-se de “um fato muito grave”,
porque, se o jovem não consegue uma oportunidade de trabalho, o primeiro
emprego, ele pode acabar “sendo capturado por áreas ilegais, segmentos
ilegais, e depois é muito difícil (…) trazê-lo de novo para uma área do
mercado tradicional de trabalho”.

Os dados são da pesquisa Trabalho e
Renda, divulgados pela Rede Nossa São Paulo (RNSP) e pelo Ibope Inteligência.

Para a pesquisa, foram entrevistados
800 moradores da cidade de São Paulo, de 16 anos ou mais, no período de 4 a 21
de dezembro do ano passado. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para
mais ou para menos sobre os resultados totais.

Para Abrahão, o maior índice de
desemprego entre os jovens, demonstrado na pesquisa, é um dado muito importante
para que o Poder Público pense em políticas eficazes, que avancem na questão. “Nós
temos até legislação, por exemplo, do aprendiz, que pressupõe um percentual de
contratações de jovens pelas empresas em relação ao número de funcionários. Nós
nunca conseguimos colocar direito, implementar essa legislação”, disse Abrahão.
Ele acrescenta que é necessário também estimular o empreendedorismo, o
microcrédito, além de desenvolver opções de cultura e esporte. “Muitas vezes,
essa juventude, sobretudo a mais carente, que está nas periferias, precisa ter
algumas oportunidades [como cultura e esporte.”

Na comparação com a pesquisa
anterior, em 2017, a taxa de desemprego geral teve queda de 3 pontos
percentuais. No ano passado, 18% dos paulistanos estavam sem emprego. “Por mais
que a pesquisa revele redução no número de desempregados, de 18% para 15%, a
diminuição ficou dentro da margem de erro, que é de 3%”, explicou a Rede. 

No entanto, houve aumento da
população empregada, com ou sem registro em carteira, que subiu 5 pontos
percentuais em relação ao ano passado, passando de 29% para 34%. Quanto ao
perfil da população desempregada, 56% são homens (800 mil) e 44% são mulheres
(600 mil); 55% se autodeclaram pretos e pardos (800 mil) e 45% brancos (600
mil).

Abrahão ressalta a situação dos
idosos, que também têm índice de desemprego maior que a taxa geral. “É
interessante ver que o outro extremo, dos idosos, também está com 30% de
desemprego. Uma questão que tem que ser discutida é que existe uma riqueza
muito grande quando você tem dentro de um determinado espaço, dentro de uma
empresa, uma questão intergeracional”, disse.

Alimentação

A pesquisa mostrou ainda que, para
43% dos paulistanos, a alimentação é o item que mais tem impacto no orçamento
doméstico; 23% apontam o aluguel ou a moradia como principal despesa e 15%
disseram que é a saúde (remédios, exames, convênio).

Para 6% da população, o transporte é
o item que mais pesa no orçamento e 5% aponta a educação. “Chama a atenção o
fato de uma questão básica e importante para a sobrevivência [alimentação] pesar
tanto no salário das pessoas, ela pesa mais do que o aluguel”, destacou Jorge
Abrahão. 

Uma solução, segundo ele, seria
pensar em reduzir a tributação de alimentos. “Se você consegue reduzir tributos
de segmentos de alimentação que pesam muito no orçamento das famílias, consegue
reduzir esse impacto no orçamento e distribuir renda de alguma maneira”, disse.

Deslocamento

O tempo médio de deslocamento dos
paulistanos na ida e volta ao local de trabalho é de 1h43min. Apenas 7% deles
levam até 30 minutos; 11%, de 30 minutos a 1 hora; 28%, de 1 hora a 1h30min;
13%, de 1h30min a 2h; e 22%, mais de 2 horas. Outros 15% afirmam trabalhar em
casa e, portanto, não precisam fazer esse deslocamento. Ou seja, 63% dos
paulistanos gastam mais de 1 hora no trajeto casa-trabalho-casa.

A pesquisa também revelou que metade
dos paulistanos (48%) diz que não existem oportunidades de emprego na região
onde moram. Para 42% dos entrevistados, há algumas oportunidades de trabalho
perto da própria casa, e para somente 4% dos paulistanos existem muitas
oportunidades.

Abrahão destaca a baixa distribuição
de emprego na cidade de São Paulo e que este é um modelo existente em muitas
outras cidades, concentrando a possibilidade de emprego em uma determinada
zona. “Aqui no caso de São Paulo, é no centro expandido. E você faz com que as
pessoas tenham que se deslocar muito, então a prefeitura refletir sobre a
geração mais distribuída de oportunidades vai fazer com que as pessoas consigam
também ter uma maior qualidade de vida”, acrescentou.

Mulheres
e mercado de trabalho

Para a Rede Nossa São Paulo, a
pesquisa demonstra que os paulistanos têm uma visão bastante diferente quando o
assunto é oportunidade de trabalho para as mulheres.

Sobre a situação das mulheres no
mercado de trabalho, a maioria da população relativa (47%) acredita que elas
têm menos oportunidades do que os homens. Para 34%, elas têm as mesmas
oportunidades de trabalho que os homens e, para 14%, mais oportunidades de
trabalho do que eles.

Quando se analisa por gênero, há
diferença no resultado. Enquanto 20% dos homens afirmam que as mulheres têm
mais oportunidades de trabalho do que eles, o percentual cai para 9% entre
elas. Da mesma forma, enquanto 41% dos homens afirmam que as mulheres têm as
mesmas oportunidades que eles, o percentual é de 27% entre elas.

E, quando 33% dos homens respondem
que as mulheres têm menos oportunidades de trabalho que eles, o percentual sobe
para 60% entre elas.


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